A ex-empregada doméstica da mãe de José Sócrates disse hoje em tribunal não se recordar de, há mais de dez anos, ter entregado à patroa dinheiro em numerário a pedido do antigo primeiro-ministro (2005-2011).
Na acusação do processo Operação Marquês, o Ministério Público refere a existência destas entregas para sustentar que o dinheiro do empresário Carlos Santos Silva pertencia na realidade a José Sócrates, dispondo este de fundos que distribuía por pessoas próximas, entre outras despesas pessoais.
Questionada hoje no julgamento do caso sobre se alguma vez recebeu dinheiro do ex-governante para entregar à mãe ou ao irmão deste, Maria Rita Gomes, empregada de Maria Adelaide Monteiro entre 1998 e o final de 2014, retorquiu não se lembrar de tal ter acontecido.
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A resposta manteve-se mesmo depois de ter sido confrontada com interceções telefónicas nas quais, em agosto de 2014, José Sócrates e a mãe falam em “papéis”, alegadamente um código, no entender da acusação, para a entrega de quatro mil euros à idosa através da empregada doméstica.
A trabalhadora, que foi ouvida na condição de testemunha, contou, em contrapartida, que Maria Adelaide Monteiro lhe pedia por vezes para depositar dinheiro numa conta bancária de um irmão de José Sócrates, falecido em 2011.
No depoimento, Maria Rita Gomes, que limpava igualmente as casas de José Sócrates e daquele irmão, assegurou também nunca ter visto envelopes com dinheiro no apartamento do antigo primeiro-ministro.
José Sócrates, de 68 anos, está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção, por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES) e o ‘resort’ algarvio de Vale do Lobo.
No total, o processo conta com 21 arguidos, que têm, em geral, negado a prática dos 117 crimes económico-financeiros que lhes são imputados.
O julgamento decorre desde 03 de julho no Tribunal Central Criminal de Lisboa e tem sessões agendadas pelo menos até 18 de dezembro de 2025.
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