Maioria da população de Coimbra acredita estar de boa saúde!

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 19-09-2017

Investigador da ESTeSC defende investimento na promoção da saúde junto da população mais jovem para reduzir efeitos de fatores responsáveis pela morbilidade e mortalidade.

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Prof. Doutor João Paulo Figueiredo_ESTeSC
É apresentado amanhã em livro, pelas 16:00, na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), o estudo do investigador  João Paulo Figueiredo, que traça um diagnóstico das condições de vida da população do concelho de Coimbra, e revela a relação da perceção do estado de saúde no indivíduo na idade adulta com os comportamentos verificados na adolescência.

 
O docente da Escola Superior de Tecnologia de Saúde de Coimbra (ESTeSC) João Paulo Figueiredo realizou um estudo exaustivo dos determinantes de saúde dos habitantes do concelho de Coimbra, com vista a compreender o impacto desses na perceção geral de saúde.

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O estudo revela que a maioria da população do concelho de Coimbra perceciona ter um bom estado de saúde – 47,1% classificou-o como “bom” e 38,2% como “razoável” – e, por conseguinte, boa qualidade de vida.

Segundo o docente, “no âmbito da satisfação com a vida verificamos que quanto mais satisfeitas estão as pessoas ao nível da sua saúde e funcionalidade, nas relações sociais, condição económica, na presença de um bem-estar psicológico e suporte familiar, também apresentaram índices mais elevados de perceção de estado de saúde no momento presente (vida adulta)”.

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João Paulo Figueiredo, demonstra com esta investigação que há determinantes em saúde na adolescência que condicionam a perceção de estado da saúde no adulto, tais como o tipo de
frequência e o abandono escolar, o ingresso no mercado de trabalho e as suas circunstâncias, a participação em atividades de lazer ou socio-recreativas, e determinados estilos de vida, tais como a alimentação, os hábitos de consumo de álcool e tabaco, entre outros.

 

De uma forma global, os fatores externos com maior impacto negativo no perfil de saúde observaram-se em pessoas com idades mais avançadas, do sexo feminino, na condição de viuvez, religiosas, com baixas habilitações literárias, proprietárias da sua habitação, desempregadas, reformadas ou empregadas com vínculos precários.

 
Também a pior condição de saúde percebida foi predita por pessoas que consultaram o médico nos últimos três meses, com múltiplas consultas e com acesso a uma só entidade de saúde, que controlavam a tensão arterial e colesterol, e portadores de doença crónica. A pior perceção de saúde verifica-se, segundo o investigador, em pessoas “com difícil acesso a cuidados de saúde, muito dependentes do médico ou de entidades religiosas, fatores que afetam a capacidade de decisão”. Elevados riscos de acidente, menores cuidados alimentares, insatisfação geral com a vida, sedentarismo, obesidade/excesso de peso, período de sono menor de 7 horas por dia, consumo de tabaco prolongado, anterior consumo de álcool e atividade física laboral pesada foram outros fatores verificados como tendo um impacto negativo na perceção de saúde. “A classe média baixa foi aquela onde as pessoas revelaram maior deficit de saúde na maioria dos indicadores estudados”, afirma.

 
O investigador constata ainda que os habitantes que na adolescência registaram baixa participação em atividades de lazer, tinham atividade religiosa, ingressaram cedo no mercado de trabalho (a tempo integral), com responsabilidades em tarefas domésticas e que abandonaram precocemente o ensino revelam piores resultados de saúde no momento presente.

“As pessoas que deixaram de estudar mais cedo nesta fase da vida revelaram um agravamento da sua perceção de saúde subjetiva no momento presente, quer ao nível físico quer ao nível mental, comparativamente às pessoas que prosseguiram com os seus estudos. Foi também muito interessante constatar que as pessoas que tinham abandonado os estudos no período da adolescência, mas que voltaram a estudar já na vida adulta revelaram melhor perceção de saúde no momento atual comparativamente às pessoas que indicaram que o regresso ao ensino ainda se dera no período da adolescência”, explica.

 
Segundo o investigador, os resultados mostram que alguns fatores de risco presentes na adolescência revelaram ter continuidade na vida adulta, o que “desperta a motivação da necessidade de ir mais além do que controlar a doença ou sintomas e promover estilos de vida saudáveis”.

Para João Paulo Figueiredo, é necessário que vários parceiros sociais com responsabilidade nestas áreas se envolvam em “estratégias multidisciplinares – económicas, políticas e de desenvolvimento social – que possam atuar no combate aos vários determinantes sociais”. Para o investigador, o investimento na promoção da saúde junto das populações, através da educação e sensibilização nas escolas e da introdução de medidas dissuasoras de estilos de vida prejudiciais à saúde (como o recente aumento do imposto sobre os refrigerantes, por exemplo), é crucial “para que o indivíduo seja cada vez mais agente e promotor de saúde, contribuindo para reduzir os efeitos de fatores responsáveis pela morbilidade e mortalidade na vida adulta”.

 
A investigação compreendeu três fases: a descrição e avaliação de determinados parâmetros sociais, antropométricos, clínicos, comportamentais e estilos de vida; a análise do perfil de estados de saúde da população em função de determinantes de saúde/doença no momento presente (vida adulta); e uma análise retrospetiva para avaliação de determinados indicadores de risco/proteção de saúde vivenciados no tempo passado da população em estudo. “Procurou- se estabelecer a relação de um determinado perfil ou estado de saúde da população no presente, associado a um ou mais fenómenos que lhes foram anteriores, nomeadamente na adolescência”.

 
Foram estudados 1.214 habitantes, adultos (igual ou superior a 35 anos), de ambos os sexos, residentes no concelho de Coimbra, distribuídos de forma proporcional em todas as freguesias, durante um período de dois anos (2011-2013). Os dados foram recolhidos através de um questionário, tendo por base a estrutura do Inquérito Nacional de Saúde (2005-2006), adicionando outros indicadores que se consideraram importantes para dar resposta aos objetivos gerais e específicos do estudo.

 
Os resultados desta investigação, agora lançadas em livro, foram incluídos na tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, intitulada “Comportamentos de Saúde, Costumes e Estilos de Vida: Indicadores de risco Epidemiológico – Avaliação de Estados de Saúde e Doença”. Esta publicação é o 13.º volume da Coleção “Ciência, Saúde e Inovação | Teses de Doutoramento” da ESTeSC.

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