Coimbra

Estudantes conquistaram Coimbra com imaginação e criatividade

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 16-04-2019

A luta estudantil de Coimbra em 1969 não se fechou na Universidade e cedo invadiu e seduziu a cidade, de forma quase espontânea e, sobretudo, com muita imaginação e criatividade, afirma Celso Cruzeiro.

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“Não se pode dizer que tenhamos tido um cuidado programático, mas as estruturas descentralizadas do movimento [da Crise Académica de 69] tiveram a capacidade imaginativa de agregar outros estudantes e através deles criar formas imaginativas de contacto com a cidade”, recorda, em entrevista à agência Lusa, Celso Cruzeiro, então dirigente da Associação Académica de Coimbra (AAC).

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Esse contacto com a população foi “um elemento muito significativo, muito criativo, muito simbólico”, mais resultante da “espontaneidade criadora das formas do movimento em luta do que de qualquer programa da direção”, que não concretizou, “ao pormenor, iniciativas desse teor”, salienta o antigo dirigente associativo e um dos principais protagonistas da Crise Académica, hoje advogado em Aveiro.

“Na ‘operação balão’ [lançamento de balões com mensagens sobre as reivindicações estudantis], na ‘operação flor’ [distribuição de flores pela polícia e pela população], nesse contacto com a cidade, revelaram-se também, talvez, o aspeto mais criativo e as formas mais imaginativas que a luta de Coimbra assumiu”, admite.

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Coimbra era conservadora, mas a luta dos universitários, “pelo seu próprio contexto temático, pelo eixo nodal em que se desenvolveu, reclamava objetivos” dos quais “dificilmente qualquer cidadão se poderia desvincular ou contrariar – a não ser, obviamente, aqueles que defendiam o regime concentracionário, ditatorial”.

“Fora do regime obscurantista e dos seus apaniguados, era muito difícil não dar razão aos estudantes”, que, basicamente, queriam ter tido palavra na sessão da inauguração do Edifício das Matemáticas, em 17 de abril de 1969.

Além disso, “a razoabilidade das reivindicações, que, aliás, tinham alguma radicalidade substantiva, mas [também] tinham uma legitimidade inabalável, indesmentível e visível à primeira avaliação”, fez com que “a cidade tivesse até simpatizado, que tivesse acolhido as flores” e outros meios de contacto do movimento com a sociedade, não propriamente “com entusiasmo, mas com alguma alegria”.

Já antes, “na manifestação [silenciosa] da Tomada da Bastilha [em novembro de 1968]”, a cidade foi confrontada com “um cortejo de luta e de protesto contra a prepotência” e “respeitou o silêncio, essa ‘palavra de ordem’, quer dizer, não estranhou” que o desfile, contrariando a tradição, não tivesse sido “lúdico e festivo”.

No fundo, Coimbra “irmanou-se, de algum modo, pelo menos de uma maneira implícita, com a natureza que estava a assumir o protesto” e, “portanto, com os estudantes”, sintetiza Celso Cruzeiro.

Nesse cortejo já “era visível e audível”, por parte de muitas pessoas, a “ideia premonitória de que alguma coisa iria rebentar”, isto é, “a forma que o cortejo assumiu deu-lhes a perceção nítida de pensarem e de adivinharem que aquilo era uma semente ou alguma representação de alguma coisa mais profunda estaria para rebentar”.

Houve, de facto, “alguma continuidade nos acontecimentos” (Tomada da Bastilha e Crise Académica), conclui Celso Cruzeiro.

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