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Este tipo de sangue pode ser uma bomba-relógio para AVC

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 4 minutos atrás em 11-12-2025

Imagem: depositphotos.com

Uma investigação internacional sugere que o tipo sanguíneo pode influenciar o risco de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) antes dos 60 anos, com o grupo A a apresentar maior susceptibilidade.

As conclusões, publicadas na revista Neurology em 2022, acrescentam uma nova peça ao puzzle dos factores biológicos que moldam a nossa saúde.

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“Esta descoberta importante e surpreendente amplia o nosso conhecimento sobre factores de risco não modificáveis para AVC, incluindo o tipo sanguíneo”, afirmou Mark Gladwin, médico e cientista da Universidade de Maryland, quando o estudo foi divulgado.

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Os tipos sanguíneos A, B, AB e O resultam de diferentes antígenos presentes na superfície dos glóbulos vermelhos. Mesmo dentro destes grupos principais, pequenas variações genéticas podem alterar a forma como o organismo reage a determinados processos biológicos.

Para este estudo, investigadores analisaram dados de 48 estudos genéticos, envolvendo cerca de 17.000 pessoas que sofreram um AVC e quase 600.000 indivíduos saudáveis entre os 18 e os 59 anos. A análise revelou uma associação clara entre o gene responsável pelo subgrupo sanguíneo A1 e o risco de AVC precoce.

“O número de pessoas com AVC precoce está a aumentar”, alertou Steven Kittner, neurologista vascular e autor sénior do estudo. “Estas pessoas têm maior probabilidade de morrer devido ao evento e, quando sobrevivem, enfrentam potencialmente décadas de incapacidade. Apesar disso, ainda se investiga pouco sobre as causas dos AVC precoces.”

Uma análise do genoma identificou duas regiões fortemente associadas ao risco de AVC em idades jovens, uma das quais coincide com o conjunto de genes que define o tipo sanguíneo. Numa segunda fase, os investigadores verificaram que indivíduos com variações genéticas do grupo A tinham um risco 16% superior de sofrer um AVC antes dos 60 anos, enquanto quem possuía o gene O1 apresentava um risco 12% inferior.

Apesar destes números, os autores sublinham que o risco adicional associado ao grupo A é reduzido, não justificando medidas de vigilância acrescida.

“Não sabemos ainda porque é que o tipo A poderá conferir maior risco”, explicou Kittner. “Mas provavelmente estará relacionado com factores de coagulação, como o comportamento das plaquetas, das células que revestem os vasos sanguíneos e de outras proteínas envolvidas na formação de coágulos.”

Nos Estados Unidos, cerca de 800 mil pessoas sofrem um AVC por ano — a maioria com mais de 65 anos. O risco duplica em cada década após os 55 anos, o que ajuda a contextualizar os resultados. Além disso, apenas 35% dos participantes eram de ascendência não europeia, o que limita a abrangência global das conclusões. Os autores defendem novos estudos com populações mais diversificadas.

O estudo também comparou pessoas que sofreram AVC antes e depois dos 60 anos. A associação entre o grupo A e o risco acrescido desapareceu no grupo mais velho, sugerindo que os AVCs precoces podem ter mecanismos distintos dos que ocorrem em idades avançadas. Nos mais jovens, a formação de coágulos parece desempenhar um papel mais relevante do que a aterosclerose, apontam os investigadores.

Outra conclusão significativa foi o facto de pessoas com sangue tipo B apresentarem um risco 11% superior de sofrer um AVC, independentemente da idade. Estudos anteriores já tinham associado o locus ABO — a região genética que define o tipo sanguíneo — à calcificação das artérias coronárias, ao enfarte do miocárdio e a um ligeiro aumento do risco de trombose venosa.

Os autores defendem que são necessários mais estudos para compreender totalmente como o tipo sanguíneo influencia o risco vascular, mas sublinham que, para já, estes resultados não devem gerar alarme — apenas reforçar a importância de conhecer os fatores biológicos que podem moldar o nosso futuro cardiovascular.

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