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Espetáculo sobre são-tomenses e portugueses estreia em Viseu

Notícias de Coimbra com Lusa | 6 meses atrás em 04-11-2023

Teatro, vídeo e música ao vivo cruzam-se num espetáculo que aborda o limbo identitário de quem cresce entre a cultura europeia e a africana e que tem estreia marcada para este sábado 4 de novembro à noite, em Viseu. 

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Encenado por Graeme Pulleyn, da Cem Palcos (Viseu), e por Marcio Meirelles, do Teatro Vila Velha (Salvador da Baía), “Esse caminho longe” inspirou-se nas narrativas de vida dos filhos de mães são-tomenses e pais portugueses que nasceram em São Tomé e foram trazidos para Portugal, como foi o caso da escritora Olinda Beja.

“Estou farta de chorar. Ao fim de tantos anos fizeram um teatro sobre a minha transumância. Eu ainda ando à procura do tempo perdido, do tempo da minha infância”, admitiu Olinda Beja aos jornalistas, depois de ter visto mais um ensaio do espetáculo.

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Olinda Beja foi trazida para Portugal com 3 anos e só aos 37 soube que a sua mãe estava viva e continuava a ir para o cais quando lhe diziam ia chegar um barco, na esperança de que regressasse.

“Não foi fácil para mim ir a São Tomé pela primeira vez (em 1985), fui contrariada”, confessou a escritora, aludindo aos muitos traumas que teve de enfrentar ao reencontrar aquilo que tinha perdido.

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Graeme Pulleyn explicou que o objetivo do espetáculo foi “fazer jus à história da Olinda como uma história individual, mas também como uma história coletiva, como as vivências de muitos povos ao longo de anos e de séculos”.

Marcio Meirelles, que já tinha trabalhado com Graeme Pulleyn em 2013 no âmbito do projeto K Cena, do Teatro Viriato (Viseu), frisou que Olinda Beja “foi paixão à primeira leitura”, que se acentuou quando ouviu “as narrativas dessa transmigração de uma cultura, de um espaço e de um tempo para outro”.

“Há uma humanidade que nos une e o espetáculo é sobre isso: como se rompe esse sentimento de pertencimento e de construção de uma identidade e como se recupera uma identidade perdida que nem tinha sido ainda construída, porque uma criança de 3 anos que é deslocada da sua origem para outro lugar ainda não teve tempo de construir uma identidade. Mas tem lá uma semente, um DNA”, afirmou.

Coube a Lígia Soares “costurar” os textos que deram origem ao espetáculo, para que, mais do que uma história pessoal, esta fosse uma história da humanidade.

Em palco encontram-se três atrizes – as são-tomenses Marta Espírito Santo e Vanessa Faray e a portuguesa Filipa Fróis – que narram histórias e fazem perguntas, numa relação muito próxima com o público.

O espetáculo acontece dentro de uma estrutura em forma de cubo, com o público sentado em cada um dos seus quatro lados, criando a sensação de se tratar de “um espaço de reflexão, de debate, de provocação de pensamentos”, explicou Graeme Pulleyn.

No interior do cubo há um labirinto de cordas, por entre as quais as atrizes se movimentam e que, segundo Marcio Meirelles, criam “sensações visuais, de submissão, de vencer obstáculos”.

Durante o espetáculo vão sendo projetadas imagens de São Tomé e de Portugal (incluindo de arquivos da RTP), em duas telas amarradas e mal esticadas, numa alusão à precariedade dos países do Terceiro Mundo.

Leandro Valente é o responsável pela componente videográfica e Gongori pela criação da música original, que conta também com a participação do Grupo Etnográfico de Várzea de Calde (Viseu).

Depois das apresentações na Incubadora do Centro Histórico de Viseu (sábado, domingo e nos próximos dias 11 e 12), “Esse caminho longe” será apresentado em Viana do Castelo, Loures e Coimbra (23 de novembro, Teatrão). No próximo ano, viajará até Salvador da Baía e São Tomé.

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