Assinaturas NDC

Apoie a nossa missão. Assine o Notícias de Coimbra

Mais tarde

“Onde é que estão as pessoas que podem fazer o que julgamos que é preciso fazer?”

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 03-11-2017

Cerca de duas dezenas de especialistas, entre oradores presenciais e outros que enviaram contributos escritos, debateram hoje estratégias para o ordenamento florestal em Portugal, numa iniciativa da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC).

PUBLICIDADE

Espanha-Medronho-Fruto

Um dos intervenientes no debate, Vítor Louro, antigo técnico superior da Direção-Geral de Florestas, hoje aposentado, engenheiro silvicultor licenciado pelo Instituto Superior de Agronomia e autor do livro “A Floresta em Portugal – Um apelo à inquietação cívica”, editado em 2016, anunciou que ia falar sobre “coisas que a universidade não lhe ensinou”, centrando a sua intervenção sobre “quem” fará a reforma da floresta portuguesa.

PUBLICIDADE

publicidade

“Onde é que estão as pessoas que podem fazer o que julgamos que é preciso fazer?”, questionou Vítor Louro, aludindo ao declínio populacional e desertificação dos territórios do interior do país e avisando que quando o número de habitantes cair abruptamente “não há nada a fazer”.

Por outro lado, admitiu que a atitude e o discurso dos técnicos das instituições do Estado “não têm nada a ver com as preocupações que as pessoas no local têm” e deu o exemplo de um programa que pretendia reduzir a incidência de queimadas na Amazónia, devido às alterações climáticas.

PUBLICIDADE

Segundo Vítor Louro, as organizações não-governamentais que se propuseram a aplicar o programa no terreno inquiriram os habitantes locais sobre o impacto das queimadas e estes respondiam que causavam problemas de saúde, “com os problemas respiratórios à cabeça”.

A partir da resposta, “foi preciso afinar a linguagem, indo ao encontro daquilo que eram as preocupações das pessoas”, afirmou o especialista, para concluir que o programa, depois de adaptado, conseguiu reduzir as queimadas em 27% num ano.

“Nós não temos essa cultura, não entendemos quem está no terreno, nem eles nos entendem a nos, é um dialogo de surdos. E há políticas, mas depois não se aplicam e fica tudo na mesma”, lamentou.

Vítor Louro defendeu mais incentivos às organizações de produtores florestais que estão no terreno “porque as instituições não mudam de um dia para o outro” e contrariou a ideia de dar mais competências aos municípios em matérias relacionadas com a floresta, por estes estarem mais próximos das pessoas, considerando esse princípio “errado” e “ilusório”.

“É ilusório que os poderes municipais consigam fazer aquilo que o Estado central não consegue. Não vai melhorar nada porque dependem dos votos para se manterem no poder e vai dar uma grande salsada”, declarou.

Já Armando Carvalho, 58 anos, proprietário florestal e antigo coordenador da Ação Integrada de Base Territorial (AIBT) do Pinhal Interior – um programa governamental desenhado na primeira metade da década de 2000, que envolvia 21 concelhos e visava, através da aplicação de fundos comunitários, combater a “acentuada desertificação, o envelhecimento da população residente e a degradação dos espaços florestais” – defendeu a ideia de que “é tempo de uma nova economia” para a floresta nacional.

“Temos uma floresta de problemas e um quase deserto de soluções”, sublinhou Armando Carvalho, frisando que os problemas não se cingem só à floresta, mas também à agricultura, à paisagem e às vilas e aldeias do interior.

“E as vilas e aldeias são pessoas”, enfatizou.

“Temos de convocar os melhores, precisamos de bons exemplos. O nosso sistema científico e tecnológico tem de ir para o terreno, têm de nos dar soluções para podermos enfrentar o deserto de soluções”, defendeu Armando Carvalho, que quer ainda a presença no terreno de especialistas em logística e ‘marketing’ para ajudarem a retirar valor da floresta portuguesa.

“Os problemas já não estão na mão dos engenheiros florestais, nem claramente na mão dos bombeiros ou dos aviões da Força Aérea. A floresta tem enorme valor e o que precisa é que esse valor seja reconhecido”, acrescentou.

Para Armando Carvalho, o próprio Estado “não reconhece o valor da floresta”, argumentado com o seu próprio exemplo do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) que entrega à Autoridade Tributária: “pago por 50 prédios rústicos a ridícula quantia de cinco ou seis euros por ano”, declarou.

Já o preço dos produtos florestais, pinheiro ou eucalipto, “tem vindo a descer” ao longo dos anos e, deste modo, outro problema reside na “fiabilidade económica” desses espaços.

“E muitos produtores não vendem porque a logística não os ajuda, a distribuição neste país é criminosa em relação aos pequenos produtores”, acusou Armando Carvalho.

Related Images:

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com