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Esculturas e caricaturas de António em duas exposições na Figueira da Foz

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 dia atrás em 28-05-2025

O multipremiado cartoonista António expõe 12 esculturas da sua autoria, a partir de sábado, na Figueira da Foz, numa galeria de arte e, no dia seguinte, mostra 130 caricaturas no Centro de Artes e Espetáculos (CAE).  

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Em conversa, hoje, com a agência Lusa, António Moreira Antunes, conhecido simplesmente pelo seu nome próprio, explicou que o convite para expor na galeria o Rastro partiu de Rui Beja e do pai deste, José Beja da Silva, recentemente falecido, enquanto a exposição de caricaturas se enquadra nas comemorações do 23.º aniversário do CAE, propriedade municipal.

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“A escultura era uma paixão antiga que ficou um bocadinho soterrada pelo quotidiano das coisas, o pouco que havia para fazer era na área do cartoon. Mais tarde, quando a situação se estabilizou um pouco, voltei à casa de partida, ou seja, voltei a interessar-me pela escultura, ainda com uma vertente humorística, de alguma maneira ligada àquilo que tenho feito sempre”, disse António à agência Lusa.

O artista, que é cartoonista político residente do jornal Expresso, desde o final de 1974, e autor de “Figuras de Lisboa”, 50 caricaturas de personalidades relevantes da vida política, cultural e artística da cidade, expostas em pedra encastrada na estação do Aeroporto do Metropolitano de Lisboa, notou, no entanto, que a escultura “é um desporto caro”.

“Foi preciso alguma estabilidade para me poder dedicar a essa velha paixão”, reafirmou.

Na Figueira da Foz, no sábado, além das 12 esculturas, todas em bronze, irão ser lançadas duas novas serigrafias da autoria de António, que ficarão em exposição até 05 de julho na galeria da rua da Liberdade, na zona turística do Bairro Novo.

“Na galeria, no sábado, é esta vertente mais fora dos jornais, escultura e serigrafia. No fundo, são serigrafias que são fruto de outros desenhos. Aliás, como a escultura, são coisas que eu acho que merecem ter uma segunda vida, dar-lhes uma oportunidade de resistirem mais ao tempo”, alegou António.

Ouvido pela Lusa, Rui Beja, da galeria o Rastro, expressou contentamento pela exposição que abre no sábado, a partir das 18:00, após ter visto, há tempos e pela primeira vez, o cartoonista no espaço de que é proprietário, embora, num primeiro olhar, tenha confundido “aquela pessoa conhecida com um capitão de Abril”, revelou, com uma gargalhada.

“Falou-me das esculturas, achei-as extremamente interessantes, merecedoras de uma exposição e de serem conhecidas, e andamos a preparar isto há muito tempo, eu e o meu pai”, frisou o galerista.

“As esculturas não são meras passagens das caricaturas para três dimensões. São algo mais do que isso, ele merece ser reconhecido como escultor e dar-lhe o palco para isso”, enfatizou Rui Beja.

Observando que as peças esculturais de António “têm sempre uma certa ironia”, destacou, em termos de gosto pessoal, uma do surrealista belga René Magritte, além de outras de Eça de Queiroz, Camões ou Salazar.

“São todas fantásticas e de uma enorme qualidade. O António é um homem especial, faz parte da história do século XX e da história do país”, resumiu.

O pai de Rui, José Beja da Silva, morreu em dezembro de 2024, e esta será a primeira exposição a ser inaugurada na galeria após o seu desaparecimento: “É a primeira sem o meu pai e custa. Ele esteve na organização da exposição, nos contactos com António – uma pessoa como o António não é chegar e andar, é ir almoçar com ele, ir ao atelier dele, escolher as peças… – e estará sempre presente. Fisicamente não, mas estará lá connosco”, vincou Rui Beja.

Na abertura será ainda apresentada uma edição de dez exemplares de um “alto relevo em mármore para pôr na parede” de Fernando Pessoa, “feito de propósito para a exposição” pelo caricaturista de 72 anos, a partir dos esboços da personagem do escritor português criada para o Metro de Lisboa.

No dia seguinte, domingo, 01 de junho, pelas 17:00, é inaugurada, no Centro de Artes e Espetáculos, a exposição de 130 caricaturas integrada nas comemorações do 23.º aniversário daquele equipamento cultural, que terá um catálogo próprio.

A exposição na Figueira da Foz parte da original “António, 50 anos de Humores”, que esteve patente na terra natal do caricaturista, Vila Franca de Xira, no verão do ano passado, com 550 peças de cartoons, escultura e cerâmica.

“Tem uma boa dimensão, 130 desenhos, e ilustra este meu percurso destes anos todos, metade de cartoons sobre a política portuguesa e outra metade sobre o mundo. Tem o essencial do cartoon destes 50 anos, foi uma seleção feita sobre as coisas mais significativas”, revelou o artista.

Questionado pela Lusa sobre se o mundo atual, em Portugal e no estrangeiro, o continua a inspirar para desenhar como até aqui, António argumentou que, do ponto de vista dos acontecimentos, estes “são riquíssimos, as contradições são mais do que muitas”.

“E nós vivemos disso, das contradições. Nesse aspeto, do ponto de vista da riqueza das contradições no discurso político, está tão bem como sempre esteve. Os cartoonistas têm de apanhar as coisas que andam por aí e agora podem ter a vida mais facilitada, porque têm personagens que são tão contraditórias, mas tão contraditórias, que os próprios, em si, já são um cartoon”, ilustrou.

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