Opinião

Escrevo para quem não lê

Notícias de Coimbra | 4 meses atrás em 17-01-2024

Sem os livros o mundo seria incompleto. Não conheceríamos os clássicos e a sagacidade dos escritores com os seus dedos gastos e lânguidos, suados pelo tempo da escrita. A vida truculenta tem desumanizado as pessoas que não leem, porque a leitura é uma sensação incorruptível e simples de ser conduzida. 

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Quando somos confrontados com a miséria do governo e de algumas instituições, a primeira reação é de indignação, depois conformismo e, por fim, o esquecimento. Nem sempre os livros de História contam o que se passou com os nossos pais e avós. A guerra comanda os interesses e mata a esperança.

É de mau-gosto perder a memória e, ainda, contribuir com as falácias sobre o idealismo, onde parecer bom é, quase, cruel. Nem todos sabem as razões da luta e da resistência, mas, parece normal a aceitação dos desastres diários e da tolerância num contexto global político e letárgico. 

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Entretanto, os que preservam a sanidade assistem, com a razoável perceção, a um mundo a desfazer-se, insatisfeitos por serem honestos, pagando impostos e morrendo de fome e de cultura. Espera-se que os temas sensíveis, que assombram a humanidade, desde o século XX parem, que combatamos a burocracia e que conheçamos as vantagens de estar vivo.

Evoluímos sem inocência e esquecemos que não estamos sós na porta de embarque. Administramos o egoísmo, como se fosse a nossa conta bancária, e julgamos os arrogantes pela presunção de superioridade. Falta-nos o equilíbrio que nos deixe sair em dias de festa, porque a vida sem fingimento é melhor. 

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E se faltar algum dia para sermos felizes, talvez paremos um pouco, consigamos fugir para uma margem onde os cães se refugiam ou, ainda, telefonar a uma amiga para dizer as últimas palavras. A vida que levamos é uma angústia que acarinhamos, como se isso fosse inofensivo. Precisamos de gritar, de sair à rua em pijama sem que os vizinhos chamem a polícia. Há um silêncio incómodo nas veias, já não sentimos o sangue. E sofremos da impotência, que as palavras falam, quando se escreve para quem não lê.

Opinião / Angel Machado – Jornalista

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