Opinião

Esclarecidos? 

Notícias de Coimbra | 3 meses atrás em 09-02-2024

Já começou! Desliguem os telemóveis, peguem nas pipocas e refastelem-se no sofá para três semanas de intensa discussão política, distribuída por três dezenas de debates em Portugal. 

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A grande final da Liga dos Campeões dos debates eleitorais está marcada para 19 de fevereiro. PNS vs. LM, numa emissão conjunta dos três canais — RTP, SIC e TVI (ou CNN, não sei bem) —, a partir das 20h30. Nesse dia, eu, como muitos milhões de compatriotas, estarei a assistir ao grande combate da season política, esperando ser esclarecido até à ponta dos cabelos. Confesso, estou empolgado. 

Contudo, tenho, para já, uma queixa a fazer: uma hora e um quarto de debate parece-me insuficiente. 75 minutos? A sério? Só 75 minutos, distribuídos por perguntas dos entrevistadores e respostas dos entrevistados, com a habitual troca de galhardetes e soundbites entre os candidatos? Isto pode até estimular o populismo, cuidado! 

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Pois se os jogadores de futebol andam 90 minutos dentro de campo; se os tenistas correm atrás da bola durante três horas; se os pilotos de F1 ficam três dias em qualificações e corridas; é difícil compreender a escassez do tempo concedido às estrelas da política nacional (um deles, aliás, futuro Primeiro-Ministro). 

Não mereceriam elas — as estrelas — um período mais alargado para que pudessem oferecer, de forma inquestionável, os melhores esclarecimentos aos seus eleitores? Não mereceriam elas tempo e espaço suficientes para poderem revelar os seus talentos na sua plenitude? Não se percebe… 

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Antes disso, seremos diariamente convidados a assistir a um pequeno debate entre todos os candidatos, uma espécie de fase de grupos em que todos se digladiam para não serem chamados de “lanterna vermelha”. 

Nestes, as direções de informação da SIC, RTP e CNN (ou TVI, não sei bem), aparentemente adeptas do jogo mais intenso e reactivo, optaram por um debate eleitoral em forma de xadrez rápido. Trata-se de um modelo que entretém sem maçar, condensado em 25 a 30 minutos de debate, cerca de 13 a 14 minutos de fala a cada interveniente. 

Presume-se a concordância dos candidatos com o modelo de debate, assumindo que todos aceitaram este speed dating do diálogo político, com regras que proíbem a nudez ou até a exposição de uma ideia durante 10 minutos seguidos.

É sabido que os debates mais longos seriam programas que demorariam horas e horas, levando a que muitos espectadores desistissem e mudassem de canal. “Pois se o eleitor médio não quer ver, porque raio íamos nós mostrar?” – perguntarão os responsáveis dos vários canais televisivos, os mesmos que, em teoria, se comprometem com o serviço público da informação e não com a lei do lucro da empresa. 

E, assim, fecharam o formato: meia hora de debate, duas horas de comentário político sobre o debate. 

Mais tempo de comentário do que tempo de debate? Porquê este desequilíbrio? Porquê 12 minutos de Mariana Mortágua e 35 de Sebastião Bugalho? Porquê 14 minutos de Rui Rocha e 40 de Ricardo Costa? Porquê 10 minutos de sexo e duas horas a comentar o orgasmo? Não faz sentido. 

E se tivéssemos o mesmo número de debates, mas mais longos? Seria desumano? Será que os nossos candidatos não teriam forças para debater longamente, com vigor, durante toda a noite? Estarei eu a reivindicar um esclarecimento tântrico que levaria os nossos políticos a uma exaustão insuportável? Por outro lado, faríamos descansar o jovem Bugalho. 

Mesmo admitindo que não sei qual o tempo adequado em debates desta magnitude, para já, não rejeito a ideia de fechar o Montenegro e o Pedro Nuno num estúdio de televisão, durante 24 horas, com uma mesa coberta de dossiês e café, obrigando-os a debater à exaustão, sob ameaça e tortura, até o povo ficar esclarecido. 

Só lhes abriríamos a porta quando todos os eleitores, sem exceção, estivessem convencidos do destino do seu voto e os candidatos exibissem a rouquidão de quem deu tudo em campo e a transpiração de quem fez tudo para alcançar o orgasmo. Eu sei, é coisa para demorar, mas acho que ficaríamos todos muito mais esclarecidos.

OPINIÃO | BERNARDO NETO PARRA

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