Política

Era isto que acontecia enquanto os capitães de Abril se reuniam clandestinamente

Notícias de Coimbra | 6 meses atrás em 05-11-2023

 Enquanto os capitães de Abril se reuniam clandestinamente na Costa da Caparica, há 50 anos, o pai do atual Presidente da República visitava Angola, como ministro do Ultramar. Portugal registava uma inflação galopante e racionava a gasolina.

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A visita de Baltasar Rebelo de Sousa surge na imprensa nacional, em 05 de dezembro de 1973, com destaque para a inauguração dos estúdios da Emissora de Angola, mas as primeiras páginas dos jornais são dominadas pelo racionamento de gasolina, devido ao choque petrolífero criado por mais uma guerra no Médio Oriente, entre Israel os vizinhos árabes.

“O problema da gasolina. Postos de revenda reservados ao abastecimento de serviços de relevante interesse público”, anunciava o Diário de Lisboa, citando um despacho assinado dias antes pelo secretário de Estado da Indústria.

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O racionamento era atribuído às “perturbações registadas no mercado internacional” e ao “injustificado comportamento de certas camadas de consumidores”, que originaram “o rápido esgotamento do combustível em muitos postos”.

Determinaram-se, assim, “providências especiais” para assegurar o funcionamento dos veículos afetos a “atividades ou serviços de relevante interesse público. A quantidade de gasolina e gasóleo fornecida aos postos de abastecimento foi reduzida em 15% e estabeleceu-se uma rede de postos de venda reservada ao abastecimento de bombeiros, médicos, hospitais, casas de saúde, organismos do Estado com funções de fiscalização “em matéria de combustíveis” e empresas de serviços públicos.

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Uma declaração árabe, também com chamada de capa, garantia mais petróleo, sob a condição de Israel retirar de territórios ocupados. “O regresso da produção de petróleo árabe ao nível registado antes da guerra de outubro está diretamente ligado à retirada das tropas israelitas de territórios árabes ocupados desde 1967, incluindo Jerusalém, segundo declarou numa conferência de imprensa o xeque Yamani, ministro do Petróleo da Arábia Saudita”, lê-se na notícia, datada de Nova Iorque.

Entre 06 e 25 de outubro daquele ano decorreu a guerra do Yom Kippur entre Israel, o Egito e a Síria.

Em Bruxelas, reuniam-se os ministros das Finanças e dos Negócios Estrangeiros dos nove países que, à data, compunham a Comunidade Económica Europeia (França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido) para um acordo sobre a crise energética que colocara o petróleo “a conta-gotas”, segundo o Jornal de Notícias.

A Capital noticiava “romances de amor nascidos ao frio”, casinos de sueca a feijões e serviços de escritório com datilografia no banco do carro, como consequência das longas filas de espera que “decoravam os arredores das bombas de gasolina”. Dava conta também de situações de “irritação”, que chegavam a acabar no banco dos réus.

Aplicavam-se multas pelo açambarcamento de gasolina. De acordo com o Diário Popular, uma empresa de Castelo Branco foi punida com “62.500 escudos” por ter armazenado 1.400 litros de combustível sem autorização.

O mesmo jornal indicava que a Arábia Saudita não estava a fornecer “uma gota de petróleo” aos Estados Unidos da América e que exigia o fim do apoio a Israel para o regresso da paz.

A crise do petróleo trava mesmo a emigração para a Alemanha. A edição do Expresso de 01 de dezembro informava sobre a partida “do último avião” com emigrantes, um jumbo de 476 lugares, que interromperia a habitual escala de duas vezes por semana a transportar trabalhadores portugueses, do aeroporto da Portela, em Lisboa.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) tem registada uma taxa de inflação em Portugal de 13,05%, em dezembro de 1973, que passaria a 26,19% em dezembro de 1974.

Nas Nações Unidas, mantinha-se presente a questão da descolonização e Portugal fora o único país a votar contra uma moção.

“Por 99 votos contra um (Portugal) a comissão de descolonização da O.N.U aprovou uma moção aconselhando o rompimento dos contactos do secretário-geral das Nações Unidas com o Governo sul-africano, pois são prejudiciais ao povo namibiense. Houve 19 abstenções; a África do Sul não participou na votação”.

A ONU aprovou também uma resolução que condenava os investimentos estrangeiros nas províncias ultramarinas de Portugal e do sudoeste africano, por constituírem “um obstáculo à independência” e explorarem os recursos naturais e humanos daqueles territórios, conforme publicou o jornal República.

A ciência celebrava “o acontecimento mais importante em astronomia dos últimos 350 anos”, segundo a descrição do Comércio do Porto, com a sonda pioneiro-10 a rondar Júpiter, sobrevivendo “às fortíssimas radiações” emitidas pelo planeta.

No panorama cultural, Amália Rodrigues recebia um disco de ouro pela venda de meio milhão de discos, com a gravação de “Vou dar de beber à dor”, e o São Luiz apresentava o maestro francês Jean-Sebastien Béreau à frente da Orquestra Filarmónica de Lisboa.

O Apolo 70, onde Vasco Lourenço e outros capitães se encontraram antes da reunião na Caparica, apresentava o filme “Violência: Quinto Poder”, um ´thriller´ italiano dirigido por Florestano Vancini, que prometia “terror”, “sangue” e “corrupção política”.

No dia seguinte estrearia “O Pistoleiro do Diabo”, no Roxy, com Clint Eastwood. “Jesus Cristo Superstar”, “Lágrimas e Suspiros”, de Ingmar Bergman, o “Herdeiro”, com Jean-Paul Belmondo, e a “Mulher de Azul”, do francês Michel Deville, compunham o cartaz em voga nos principais cinemas portugueses.

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