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Equipa da Universidade de Coimbra ajuda a descobrir templo milenar que pode mudar a história da Mesopotâmia

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 hora atrás em 15-10-2025

No âmbito do Projeto Arqueológico de Kani Shaie, liderado pelo Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património (CEAACP) da Universidade de Coimbra (UC) em parceria com a Universidade de Cambridge e as autoridades de Património Cultural de Suleimânia, foi descoberto um edifício monumental no sítio arqueológico de Kani Shaie, situado no Curdistão Iraquiano.

Esta descoberta traz novos dados sobre os primórdios da Mesopotâmia e dos Montes Zagros, ajudando a compreender a sequência de ocupação humana ao longo dos milénios – em particular nos IV e III milénios antes de Cristo (a.C.).

Na campanha de escavações de 2025, “foi identificado um edifício oficial de carácter monumental, na parte alta da colina artificial de Kani Shaie, possivelmente um espaço de culto, datado do chamado período de Uruk (c. 3300–3100 a.C.) – período que recebe o nome da cidade de Uruk, reconhecida como a primeira grande metrópole do mundo, devido à clara evidência de contactos diretos entre a Mesopotâmia Meridional, onde se situava esta importante cidade, e as regiões montanhosas a oriente”, explicam os arqueólogos do CEAACP, André Tomé, Maria da Conceição Lopes e Steve Renette.

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“Ao confirmar-se a natureza monumental do edifício, que estamos agora a investigar ao detalhe, esta descoberta poderá alterar profundamente o entendimento da relação entre Uruk e as regiões periféricas, revelando que sítios como Kani Shaie não eram marginais, mas antes atores centrais nos processos de difusão cultural e política”, acrescentam os investigadores.

A equipa internacional de arqueologia conseguiu também encontrar dois achados de grande relevância: “um fragmento de pendente em ouro, que testemunha práticas de ostentação e o acesso a metais preciosos numa comunidade aparentemente periférica; e precisamente um selo cilíndrico do período de Uruk, artefacto associado a práticas administrativas, de controlo e de legitimação de poder”, revelam os investigadores. 

“Além destes materiais, foram ainda identificados cones de parede, elementos decorativos típicos de arquitetura monumental, amplamente documentados em Uruk, o que reforça a interpretação do edifício como uma estrutura pública ou cerimonial”, acrescentam André Tomé, Maria da Conceição Lopes e Steve Renette.

Kani Shaie é considerado “o mais importante sítio arqueológico a este do rio Tigre para compreender a sequência de ocupação humana entre os IV e III milénios a.C., continuando a revelar dados inéditos sobre os primeiros desenvolvimentos sociais e políticos do Crescente Fértil, conhecido como Berço da Civilização”, sublinham André Tomé, Maria da Conceição Lopes e Steve Renette.

Estas e anteriores escavações em Kani Shaie confirmam a longa ocupação do local ao longo dos séculos: por exemplo, na área mais aplanada do sítio, as escavações decorreram em níveis dos períodos Helenístico-Parta (247 a.C.–224 d.C.) e Neo-Assírio (c. 911–609 a.C.). 

O Projeto Arqueológico de Kani Shaie está em curso desde 2013, sendo dirigido por André Tomé, Maria da Conceição Lopes e Steve Renette, tendo como diretor assistente Michael Lewis, investigador do CEAACP-UC. A equipa de projeto conta ainda com o envolvimento de outros investigadores do CEAACP da Universidade de Coimbra, da Universidade do Algarve e da Universidade de Cambridge, de técnicos das autoridades de património do Curdistão Iraquiano e de especialistas de várias nacionalidades.

Esta campanha de escavações foi maioritariamente financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pela Universidade de Cambridge, tendo contado também com a colaboração das autoridades de património do Curdistão Iraquiano.

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