Opinião

Energia

TORRES FARINHA | 11 anos atrás em 02-10-2013

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TORRES FARINHA

O mundo actual vive dependente da energia, sendo esta oriunda das mais diversas fontes e traduzindo-se, em termos finais, em movimento e dinâmicas diversas das quais depende, na generalidade, a sociedade dos nossos dias.

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A energia advém de uma diferença de potencial que pode ser gerada das mais variadas formas e origens, desde o movimento da água, vento, biogás, solar, nuclear, eólica, petróleo, carvão, gás natural, gás de xisto, geotermia, e biomassa, apenas para citar algumas.

A vertente mais visível da energia ou, eventualmente a mais sensível ao cidadão do século XXI é a eléctrica, devido à grande dependência da parafernália de dispositivos eléctrico-electrónicos com que é escravizado no seu dia-a-dia.

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Para que o cidadão possa desfrutar comodamente da energia eléctrica, esta terá que ser gerada algures, transportada, transformada e colocada à disposição do utilizador da forma mais cómoda possível.

Outros tipos de energia que não esta, por menor que seja o processo de transformação, e em particular nos grandes aglomerados urbanos, têm valor acrescentado comercial, desde a fonte natural até ao cliente final, mesmo que esta fonte energética seja algo tão simples como a lenha para a lareira.

Por consequência, a energia corresponde a um negócio gigantesco, a nível global, que faz mover o mundo e, em última instância, que faz aquecê-lo e, portanto, nos ajuda a, progressivamente, fazer sauna até à “elegância” final… aliás, uma nova forma de energia poderá advir do aproveitamento do enorme movimento dos blocos de gelo que se vão desligando e derretendo no Ártico porque, pelo ritmo de aquecimento do planeta o degelo está garantido e, por consequência, a energia que advém desse colossal movimento de massas de água…

O petróleo tem sido a mais importante fonte de energia que tem movido o mundo – transportes rodoviários, ferroviários, aéreos, fábricas, cidades, enfim, tem sido o motor do mundo dito civilizado.

Porém, a propalada escassez ou fim desta fonte energética nas próximas décadas deu origem a um movimento conducente a um novo reequilíbrio económico energético mundial.

Dentro desta dinâmica que parecia não ter solução à vista eis que aparece uma nova fonte de energia que, decididamente, está a alterar drasticamente o equilíbrio económico mundial – o gás de xisto.

Neste âmbito, e enquanto os Estados Unidos da América (EUA) forem o barómetro do mundo (até que China queira), este país aposta no gás de xisto como substituto do petróleo e do carvão na fase de transição rumo às energias limpas.
Os Estados Unidos correm contra o tempo para reequilibrar a sua balança energética sem deixar de lado as metas de redução de gases poluentes. O gás de xisto é considerado um combustível até duas vezes mais limpo do que o carvão mineral.
Por sua vez, o Brasil, enquanto potência emergente discute os rumos do petróleo na camada do pré-sal e lida com a alta do etanol.

O maior handicap do gás de xisto é o seu custo, e o seu potencial de poluição dos lençóis freáticos. Contudo, neste momento o gás de xisto parece ser o mais forte candidato à opção número um na transição entre a era suja do petróleo e um futuro mais verde.

O gás de xisto já é usado no aquecimento de mais de 60 milhões de habitações nos EUA, além de fornecer cerca de 25% de toda a electricidade consumida neste país.

Mas se as dúvidas relativamente à componente ambiental resultante da extracção do gás de xisto estão longe de estar dissipadas, a paranoia nuclear originada pelo acidente de Fukushima continua a ecoar nos grandes polos de extracção do gás de xisto nos EUA. Em áreas como Bradford County, os moradores reclamam há anos dos efeitos nocivos da exploração, responsabilizando-a pela contaminação de lençóis freáticos, envenenamento de animais e redução da flora. O processo conhecido como fracturação hidráulica, usado para direcionar o gás de volta à superfície, consiste na perigosa injecção no subsolo de água misturada com areia e diversos elementos tóxicos.

Num documentário emitido em 2010 nos EUA, “Gasland”, que mostra o impacto da exploração do gás na vida de famílias que vivem ao redor das suas fontes, numa cena chocante do filme, uma vulgar torneira de cozinha cospe fogo devido aos altos índices de concentração de metano na água.

A descoberta da gigantesca fonte Marcellus, no populoso nordeste americano, lançou uma nova corrida similar à busca pelo petróleo no Texas no começo do século XX. A adoção do gás de xisto, no entanto, ainda depende de factores, tais como a evolução da tecnologia de extracção e maior transparência nos métodos utilizados pelas grandes companhias energéticas.
Por sua vez, o Reino Unido mostra-se interessado nesta fonte energética, afirmando que os campos de gás de xisto no norte de Inglaterra têm o dobro da dimensão da que era estimada, oferecendo um grande potencial para o crescimento da economia, compensando o declínio das reservas de petróleo do Mar do Norte, permitindo a este país reduzir as importações de energia.

Estima-se que os campos de gás de xisto no Reino Unido poderão ter cerca de 1.300 biliões de metros cúbicos de gás, o dobro do que indicavam as previsões iniciais, segundo afirmou Danny Alexander, membro do Governo britânico, no Parlamento.
Apenas cerca de 10% desse gás será extraído, tal como acontece nos Estados Unidos. Ainda assim esse volume represente energia suficiente para satisfazer a procura de gás do país durante os próximos 47 anos.

O governo britânico está a fazer um esforço enorme para acelerar o processo de extracção do gás para fazer face ao desenvolvimento ocorrido nos Estados Unidos, que tem levado a cortes no custo da energia, fomentando a economia norte-americana.

Para ganhar o apoio para a exploração deste recurso não convencional, cujo processo de extracção do gás recorre à fracturação das rochas, podendo contaminar os lençóis freáticos e a água, tal como já aconteceu nos Estados Unidos, o governo britânico prometeu às comunidades locais incentivos que incluem 1% das receitas.

Em Portugal, e em resposta ao ex-ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, o presidente-executivo da EDP, António Mexia alertou que graças a esta descoberta o preço do gás nos Estados Unidos passou de mais do dobro do que era na Europa para quase um terço do que se pratica no velho continente, nos últimos cinco anos. Ou seja, “desceu quase 70%, enquanto na Europa subiu 30%”, sublinhou Mexia.

O relatório Golden Rules for a Golden Age of Gas, publicado em 2012 pela Agência Internacional de Energia, identifica a bacia Lusitana (que se estende pela faixa litoral portuguesa) como uma área com gás de xisto.

Mas será este o caminho para a solução do problema energético do mundo ou mais um “tiro no pé” conducente à sauna global que tanto nos emagrecerá até à extinção final? Continuarei a desenvolver este assunto.

TORRES FARINHA

Investigador

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