Medicamentos

Empresa de Viseu quer tratar covid-19 com medicamento antigo

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 11-11-2020

Uma empresa de Viseu quer testar a utilidade de um medicamento já existente, a niclosamida, no tratamento da covid-19, e tem já em curso uma investigação em parceria com a Universidade British Columbia, no Canadá.

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Bruno Fonseca, membro da equipa de investigadores da empresa PrimerGen, explicou hoje à agência Lusa que “a niclosamida é um medicamento antigo, desenvolvido no final da década de 1950 pela multinacional alemã Bayer AG”, com outras finalidades.

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A niclosamida é um antiparasitário utilizado no tratamento de infeções intestinais causadas pelo parasita ténia (bicha solitária). É considerado eficaz, seguro e de baixo custo e consta da Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde.

Segundo Bruno Fonseca, “um estudo científico publicado em 2020 revela que este medicamento tem um potencial enorme no combate ao (vírus) SARS–CoV–2” e, por isso, poderá vir a ter “um papel preponderante no tratamento da covid-19”.

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No entender do investigador – que começou a trabalhar com a niclosamida em 2008, enquanto estudante de pós-doutoramento na Universidade British Columbia – “o eventual desenvolvimento de uma vacina para a covid-19 não invalida” a criação de um antivírico para o tratamento da doença.

Apesar de as vacinas terem “um papel fundamental no controlo de doenças infecciosas”, sublinhou que “o sucesso de uma vacina no tratamento da covid-19 é ainda hoje uma incógnita, uma vez que nem todos os vírus são passíveis de tratamento através de uma vacina”.

A PrimerGen foi fundada em julho e tem como principal objetivo testar a utilidade deste fármaco e dos seus derivados no tratamento da covid-19.

Neste âmbito, a empresa está a tentar angariar 200 mil euros com uma campanha da GoFundMe.

Segundo Bruno Fonseca, “os custos de investigação são, atualmente, extremamente elevados”, sendo que os 200 mil euros não cobrem a totalidade dos custos associados ao projeto, mas possibilitam uma primeira fase de trabalho.

“Nesta fase, trata-se de um montante absolutamente vital que permitirá o pagamento de custos associados a toda a cadeia do trabalho científico, nomeadamente a compra de reagentes laboratoriais e de equipamento de investigação, e a contratação de pessoal especializado para trabalhar neste projeto”, referiu.

Esta verba permitirá ainda “cobrir os custos associados à publicação de artigos científicos e à difusão dos resultados obtidos”, acrescentou.

Assim que começou a sua atividade, a PrimerGen estabeleceu colaboração com uma equipa de virologistas da Universidade British Columbia, o que permitiu dar início à investigação.

“O estudo já está em curso e contamos concluí-lo entre o final de 2021 e o primeiro semestre de 2022”, frisou.

A equipa prevê apresentar os primeiros resultados já no primeiro semestre de 2021, ou seja, “muito provavelmente em simultâneo com a chegada de uma vacina ao mercado à escala mundial”.

Para justificar a importância de, ainda assim, desenvolver um antivírico para a doença, Bruno Fonseca exemplificou com “o facto de, atualmente, não existir uma vacina eficaz contra o HIV, apesar de este vírus (da sida) ser já estudado há quase 40 anos”.

“A rápida capacidade de mutação do HIV (entre outros fatores) inviabilizou, à data, o desenvolvimento de uma vacina eficaz para a prevenção da sida”, explicou, acrescentando que “a infeção pelo HIV é tratada pós-infeção, de forma bastante eficaz hoje em dia, com medicamentos antivíricos que controlam a carga viral em pacientes seropositivos”, de forma a evitar a evolução para o estádio de sida.

Ou seja, “na ausência de uma vacina eficaz, à data, esta foi a melhor forma que os cientistas encontraram para controlar esta doença” e “esta poderá, eventualmente, vir a ser também a principal metodologia no tratamento da covid-19”, frisou.

Bruno Fonseca lembrou ainda que “as vacinas atuam, principalmente, como agentes de prevenção” e que “indivíduos não vacinados que possam vir a contrair a covid-19 continuam a necessitar, obrigatoriamente, de um tratamento antivírico”.

“É neste contexto que a niclosamida poderá vir a ser uma opção valiosa, alternativa, para os doentes infetados com a covid-19 no estádio inicial doença”, justificou.

A PrimerGen envolve atualmente 15 pessoas. Em Portugal, tem uma equipa de cinco elementos (cientistas, médicos e analistas financeiros) e é assessorada por um conselho superior de oito cientistas, médicos, investigadores e economistas nacionais e internacionais. No âmbito da parceria estabelecida com Universidade British Colúmbia, a empresa conta também com apoio de dois virologistas.

 

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