Coimbra

É urgente a Arte

OPINIÃO | Angel Machado | 25 minutos atrás em 01-11-2025

A Arte talvez nunca tenha enfrentado tamanha resistência. Do simplista, que a reduz a um capricho inútil, ao erudito, que a enclausura como privilégio de poucos, a sociedade parece empenhada em afastar-se dela — e, ao fazê-lo, afasta-se também de si mesma. De facto, a Arte, tantas vezes incompreendida, serve apenas, dizem, para se vingar da barbárie, iludir a humanidade e alimentar o hedonismo.

Para muitos, a palavra “arte” tornou-se quase uma provocação — um insulto subtil aos que não pensam e não sentem. Mas quem, afinal, nunca ouviu falar de Chaplin? Ou de Van Gogh, que morreu na miséria? Atire a primeira pedra quem nunca desenhou uma árvore ou foi à escola apenas pelo prazer de brincar.

Desafio quem queira apresentar um relatório, ainda que impreciso, sobre o que a Arte é incapaz de realizar. A capacidade de gerir sentimentos nunca é a mesma quando tentamos convencer alguém dos nossos próprios preconceitos. Se alguém afirma que a porta está fechada, talvez nunca tenha ousado empurrá-la. E quem foi o primeiro a decretar que o homem não podia voar?

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Evoluir é urgente. Urgente é também normalizar o teatro, a música, o cinema, as artes plásticas, visuais e manuais, a dança. Urgente é devolver à Arte o seu estatuto de necessidade e conceder protagonismo aos artistas. Talvez estejamos à beira de um apocalipse — e, se assim for, que seja a Arte a nossa redenção.

Precisamos do essencial que a vida nos oferece, mas é através da formação sensível e intelectual que a realidade se torna mais suportável, ou pelo menos, menos dolorosa. Essa manifestação de que tanto falo, essa centelha estética que nos humaniza é muitas vezes, o que alivia a dor do mundo.

A dor humana busca conforto na comida, no prazer de viver e na liberdade do pensamento. Um pensamento inequívoco, crítico, maleável. Um pensamento que faz girar a roda do tempo sem artifícios. A ideia de uma Arte acessível e abrangente, que não apenas informe, mas também desperte pertença. Que ocupe o seu espaço como parte essencial da formação humana, desde a primeira infância.

Entretanto, a Arte segue subjugada, colocada à margem, sem direito à aprovação dos que controlam a agenda setting. Resta-nos a escolha: mordemos a isca ou abandonamos o barco? Mas, até para isso, é preciso estar atento e forte, e compreender o que está em jogo. 

OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA

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