Desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, um dos seus maiores objetivos tem sido ampliar a presença norte-americana em territórios estratégicos.
Após demonstrar interesse na anexação da Gronelândia e um aumento do controlo sobre o Canal do Panamá, surgiram preocupações sobre uma possível extensão dessas ambições aos Açores, território português que alberga uma base militar norte-americana na Ilha Terceira. Contudo, especialistas portugueses asseguram que essa hipótese é, para já, puramente teórica.
A relação histórica entre Portugal e os Estados Unidos é forte e remonta a antes da criação da NATO. Os Açores, com a sua base militar, desempenham um papel estratégico na logística de operações navais e aéreas, mas não interferem nas rotas comerciais globais. O professor Adérito Vicente, especialista em Relações Internacionais, esclarece que a aliança com os EUA é consolidada por acordos bilaterais e que a presença militar norte-americana nos Açores se baseia em “necessidades logísticas” e não em controlo de rotas comerciais.
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Vítor Gabriel Oliveira, secretário-geral da SEDES Europa, argumenta que, embora a presença militar norte-americana seja significativa, a ideia de os EUA quererem anexar os Açores é remota, uma vez que existem múltiplos fatores geoestratégicos que impediriam tal ação. No entanto, a crescente influência da China na região tem levantado algumas preocupações. A redução da presença militar norte-americana na Base das Lajes, devido a mudanças nas estratégias globais, permitiu que investimentos chineses em áreas como o setor espacial e agropecuário começassem a tomar forma, segundo o Notícias ao Minuto.
O exemplo do investimento chinês na construção de uma plataforma de lançamento de microsatélites na ilha de Santa Maria é apenas um dos casos que têm gerado receios nos Estados Unidos. O crescente envolvimento da China nos Açores, nomeadamente através de projetos comerciais com impacto militar, intensificou a vigilância sobre as intenções do gigante asiático na região atlântica.
No entanto, os especialistas acreditam que a anexação dos Açores pelos Estados Unidos permanece uma hipótese improvável. Para Adérito Vicente, a questão dos Açores é fundamentalmente diferente da Gronelândia ou do Canal do Panamá, sendo a presença militar norte-americana nos Açores mais focada no apoio logístico, como evidenciado pelo histórico de acordos entre ambos os países. A relação Portugal-EUA, mesmo com as tensões políticas, mantém-se sólida, e a soberania portuguesa sobre os Açores está longe de ser questionada.
Em relação à Gronelândia, a ideia de uma possível anexação dos Estados Unidos continua a dividir especialistas. Enquanto alguns acreditam que a Dinamarca poderá ser pressionada a permitir um maior controlo militar norte-americano na região, outros defendem que os Estados Unidos continuarão a expandir sua presença, mas sem a necessidade de anexar o território.
Apesar de os EUA continuarem a ser um parceiro fundamental para Portugal e para os Açores, o crescente poderio da China, aliado à necessidade de adaptação às novas dinâmicas geopolíticas, poderá alterar o equilíbrio de forças na região atlântica. No entanto, como destacam os analistas, para já, não há sinais concretos de que os Açores ou qualquer outra parte do território português esteja sob ameaça de anexação.
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