“Doentes com Diabetes Tipo 2 não aderem à terapêutica devido a efeitos adversos da medicação”

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 25-09-2017

É apresentado amanhã,  26 de setembro, pelas 16:00, na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), o estudo do investigador Rui Cruz que mostra que os efeitos adversos da medicação para a diabetes podem contribuir para que os doentes abandonem a terapêutica. Verifica ainda que a monoterapia – uso de apenas um medicamento – é melhor tolerada do que a associação de medicamentos.

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Professor Rui Cruz_ESTeSC

O docente defende que o tratamento seja mais centrado no doente e não na doença, contribuindo para melhores resultados em saúde e para a sua qualidade de vida.

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Rui Cruz realizou uma investigação sobre os efeitos dos medicamentos antidiabéticos orais e a sua repercussão na adesão ao tratamento e na qualidade de vida dos doentes.

Constatámos que os doentes sentem os eventos adversos causados pelos medicamentos antidiabéticos orais e conseguem identificar a maioria desses mesmos eventos adversos”, refere o docente, explicando que a prevalência destes é semelhante entre os diferentes medicamentos antidiabéticos orais, com maior prevalência para a associação biguanida+inibidores DPP-4 em dose fixa.

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Os eventos adversos manifestados influenciam negativamente a adesão à terapêutica e a qualidade de vida: “os que sentem mais efeitos secundários não aderem tanto ao tratamento e como consequência têm menor qualidade de vida”, afirma, acrescentando que estes efeitos ocorrem maioritariamente no caso de associações de medicamentos. No caso dos doentes em monoterapia, verifica-se que evidenciam melhor adesão à terapêutica, melhor controlo metabólico e melhor qualidade de vida.

Segundo Rui Cruz, o estudo realizado é inovador na medida em que é realizado “no mundo real”, e defende que a intensificação da terapêutica pode não ser a melhor solução e que os cuidados de saúde primários devem ter a capacidade “de atender o doente e não a doença”. 

Todas as guidelines defendem a prescrição destes medicamentos mas está provado que a polimedicação  leva a efeitos adversos. Cada caso é um caso, cada história clínica leva a uma avaliação terapêutica que deve ser ajustada ao indivíduo, face à sua compreensão da doença e dos estilos de vida a adotar pelo doente”, conclui.

Ainda segundo o investigador, as diferentes estratégias terapêuticas para reduzir as complicações micro e macro vasculares da diabetes passam por “comportamentos de adesão efetivos ao nível da dieta, da atividade física e da medicação”.

Apesar da evolução verificada nas opções terapêuticas hoje disponíveis, a adesão à terapêutica na diabetes tipo 2 “continua a ser um problema difícil de controlar, onde 50% dos doentes não aderem aos regimes medicamentosos e 80% não segue o tratamento aconselhado de forma a obterem benefícios terapêuticos e melhor qualidade de vida”.

Quanto aos fatores que interferem, “não há unanimidade”: a adesão à terapêutica é complexa, envolve determinantes multifatoriais do tipo biológico, psicológico, comportamental, social e relacionados com o regime terapêutico, desconhecendo-se o impacto destes fatores no mundo real e na qualidade de vida dos doentes diabéticos no seu quotidiano.

O estudo procurou analisar a prevalência dos eventos adversos dos diferentes medicamentos antidiabéticos orais – habitualmente do foro gastrointestinal e que se manifestam com sintomas como náusea, vómito, diarreia e tonturas – e compreender a sua relação com a adesão à terapêutica, com o controlo metabólico da diabetes e o seu impacto na qualidade de vida relacionada com a saúde.

Foram entrevistados 357 doentes com diabetes tipo 2 em 6 centros de saúde e Unidades de Saúde Familiar (USF) do concelho de Coimbra, pertencentes ao Agrupamento de Saúde do Baixo Mondego, e aplicados vários métodos de recolha de dados, quer com inquéritos aos doentes, quer com a análise da hemoglobina A1C.

A Diabetes Mellitus é uma das principais causas de morbilidade crónica e de perda de qualidade de vida, na maioria dos países desenvolvidos, alcançando proporções verdadeiramente epidémicas.

A prevalência média mundial estimada é de cerca de 415 milhões de pessoas e em Portugal já atinge mais de 1 milhão de pessoas entre os 20 e os 79 anos de idade.

Dos vários tipos de diabetes, a diabetes tipo 2 é a mais frequente em cerca de 90% dos casos.

Os resultados da investigação realizada, agora lançadas em livro, foram incluídos na tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, intitulada “Adesão à terapêutica, tolerabilidade aos antidiabéticos orais e qualidade de vida na diabetes mellitus tipo 2”.

Esta publicação é o 14.º volume da Coleção “Ciência, Saúde e Inovação | Teses de Doutoramento” da ESTeSC.

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