Política

Discurso sobre subsidiodependência é “arma de arremesso” contra comunidades ciganas

Notícias de Coimbra | 2 meses atrás em 02-03-2024

O diretor da Pastoral dos Ciganos considerou hoje que a ideia de que os ciganos vivem da subsidiodependência assenta “num discurso fácil, uma arma de arremesso” contra aquelas comunidades, que “não pode acontecer numa sociedade que se diz livre e democrática”.

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Em período de campanha eleitoral para as legislativas de dia 10 e lamentando as mensagens que, por vezes, surgem no espetro político sobre as comunidades ciganas, Hélder Afonso disse à agência Lusa que, “se, às vezes, esses partidos conhecessem melhor aquilo que é a realidade da cultura cigana e aquilo que são as comunidades ciganas, não tinham esta ideia”.

“Agora, atenção: os nossos ciganos também têm de fazer a parte deles, mas, para isso, temos de os ajudar, porque sozinhos não conseguem”, acrescentou, defendendo que, “por serem ciganos, não têm de estar afastados de alguns direitos, como às vezes alguns tentam fazer entender”.

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“Temos de os ajudar a fazer este caminho de proximidade e para que esse estigma seja retirado, mas sem perderem a identidade deles, a cultura deles e a dimensão daquilo que é ser cigano, que é uma dimensão muito maior, muito melhor, muito mais positiva do que aquilo que lhes querem imputar como pessoas que vivem de subsidiodependência”, sublinhou o responsável pelo departamento da Igreja Católica que faz o acompanhamento das comunidades ciganas em Portugal.

Para contrariar esta ideia, Hélder Afonso sublinhou a aposta na educação como “grande elevador social” dos ciganos e deu o exemplo do que se passa na freguesia a que preside – União de Freguesias de Mouçós e Lamares, no concelho de Vila Real -, onde existe uma aldeia em que “cerca de 80% dos habitantes são de etnia cigana”.

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 A comunidade tem “a totalidade dos filhos matriculados na escola e no pré-escolar”.

“Eu quase que lhes exijo que eles matriculem os filhos no pré-escolar, porque é um grande passo que se dá para a integração no primeiro ciclo”, afirmou hoje Hélder Afonso à agência Lusa, em Fátima, à margem da primeira reunião da nova direção da Pastoral Nacional dos Ciganos.

“A educação tem de ser vista como um elevador que os leva a ter outros conhecimentos e a abrir portas. Hoje, já temos ciganos formados, licenciados, com acesso a profissões que, se calhar, era impensável”, sublinhou este responsável.

Hélder Afonso alertou, no entanto, que a sociedade tem de “entender a cultura deles, que é uma cultura muito própria, um estar muito diferenciado daquilo que é o dia a dia das outras pessoas”, admitindo que isso se deva, também, “a anos e anos, séculos e séculos, de algum estigma”.

Além da aposta na educação, este órgão dependente da Conferência Episcopal Portuguesa estabeleceu também como eixos fulcrais de ação para o mandato que termina em 2026 a habitação e a saúde.

Com cerca de 50 mil ciganos em Portugal, Hélder Afonso quer “fazer a visita a todas as dioceses”, considerando ser “importante que conheça a realidade, que faça um diagnóstico da realidade, aquilo que são o grupo de ciganos, os bairros, porque são realidades diferentes em Trás-os-Montes ou no Alentejo”.

Padrinho de três crianças ciganas, cujas mães foram acompanhadas por um médico na gravidez pela ação de sensibilização que defendeu, Hélder Afonso põe a tónica na saúde como uma das áreas em que a Pastoral quer intervir, através do encaminhamento das mulheres para a saúde materna e da sensibilização da importância da vacinação das crianças.

A habitação surge também nas preocupações da Pastoral dos Ciganos, que, além de querer ser parceira na Estratégia Nacional de Habitação, quer chamar também as autarquias ao processo, tendo em vista o acesso dos ciganos a bairros sociais, mas não a guetos, contribuindo para a sua integração na sociedade.

“Eles só são nómadas, porque, muitas vezes, vão sendo expulsos ou vão sendo mandados embora de algumas localidades, porque, tendo hipótese de se tornarem mais sedentários, tornam-se”, afirmou Hélder Afonso, defendendo a importância da habitação para a radicação e integração das comunidades ciganas.

Alguma expectativa está, entretanto, criada face à caracterização que o Observatório das Comunidades Ciganas, juntamente como a Fundação da Ciência e Tecnologia, pretende fazer da comunidade cigana em Portugal, para se saber quantos são, as condições em que vivem ou a escolaridade, entre outros aspetos.

“É importante sabermos quem são e como vivem”, frisou o diretor da Pastoral Nacional dos Ciganos.

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