Diretora de Cultura do Centro está de “consciência tranquila” e não se demite

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 04-04-2018

A diretora regional de Cultura do Centro, Celeste Amaro, disse hoje, no parlamento, estar de “consciência tranquila” sobre as declarações que fez sobre apoios públicos às artes naquela região, e recusou demitir-se do cargo.

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celeste amaro

As afirmações da responsável foram feitas em resposta a acusações dos deputados do PCP e do BE, na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, sobre as declarações proferidas há um mês, em Leiria, quando elogiou uma companhia de teatro que “não pedia dinheiro” ao Estado.

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“Tenho a consciência tranquila e não me demitirei”, disse Celeste Amaro, acrescentando que não se sentia “minimamente beliscada” com as declarações que aqueles partidos consideraram “gravíssimas” e “altamente ofensivas para os artistas”.

Celeste Amaro está a ser ouvida na Comissão de Cultura da Assembleia da República, na sequência de um requerimento do grupo parlamentar do PCP sobre as declarações que proferiu acerca da não-candidatura a apoios públicos às artes por parte do Leirena Teatro.

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Na terça-feira, as distritais do Bloco de Esquerda da Região Centro exigiram que o ministro da Cultura demita de imediato da diretora regional de Cultura do Centro.

Em causa estão declarações de Celeste Amaro feitas em Leiria no dia 02 de março: “Vim cá a Leiria porque, por incrível que pareça, não me pediram dinheiro [o grupo Leirena]. Como é possível? Ainda por cima na área do teatro! Foi algo que me tocou bastante. É uma lição de como um grupo de teatro profissional, com três atores, que se dedica de corpo e alma ao seu trabalho, vive sem pedir dinheiro, não incomoda a administração central”.

Na sequência destas declarações e depois de vários protestos, incluindo uma petição que exige a demissão da responsável, os coordenadores distritais do BE de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Santarém e Viseu exigem que o ministro Luís Filipe Castro Mendes substitua de imediato Celeste Amaro, já que esta “demonstrou não saber estar à altura da dignidade do cargo para o qual foi nomeada”.

Sobre as acusações de vários deputados de esquerda de falta de apoio às estruturas artísticas, e “uma linha de pensamento contrária à do atual Governo” nesta área, a diretora regional de Cultura do Centro respondeu que tem o direito de “elogiar umas estruturas em vez de outras”.

“Se eu achasse que a minha demissão iria resolver todos os problemas da cultura, eu demitia-me, mas não acredito que isso fosse acontecer”, disse ainda, respondendo a perguntas da deputada Ana Mesquita, do PCP.

Celeste Amaro contrapôs que tem defendido os artistas desde há dez anos, tanto como delegada regional de cultura, como diretora regional de cultura.

Sobre as palavras “não incomodar”, esclareceu que se tratou de “uma força de expressão” usada na altura, numa situação relativa a uma “reunião de trabalho”.

“Eu até costumo dizer para me incomodarem porque de contrário a Direção Regional de Cultura não tem razão de ser”, disse, sobre a expressão que os deputados de esquerda consideraram, “no mínimo, infeliz”.

A deputada Ana Mesquita considerou as declarações e esclarecimentos de Celeste Amaro “mercantilista, de direita e ao arrepio da missão constitucional que está consagrada e que um responsável neste cargo deve ter”.

“Isto é um descarrilamento” acrescentou a deputada comunista, sustentando que os esclarecimentos sobre declarações anteriores mantinham uma postura que considerou inaceitável e que deixou o PCP “perplexo”.

Por seu turno, Celeste Amaro defendeu-se, dizendo que tem condições de se manter no cargo porque conhece “todas as estruturas da região centro”: “Já visitei todas as estruturas de 77 municípios, desde profissionais e amadoras, e não só da área do teatro, mas também da música e do património”.

“Jamais critiquei ou criticarei as estruturas que recorrem aos apoios públicos”, prosseguiu, evocando ainda o trabalho que tem desenvolvido em vários projetos, nomeadamente no apoio às Jornadas de Teatro Amador da Figueira da Foz e a Rota das Judiarias.

“Eu não vou desistir e espero que não haja mais nenhuma catástrofe na região centro, como os fogos”, disse, sobre os 80% ardidos do histórico Pinhal de Leiria, que também considerou cultura, acrescentando que a comunicação social deu eco a “um ‘fait divers’”.

Por seu turno, a deputada do PS Gabriela Canavilhas questionou a responsável sobre o seu “pensamento político”, recordando que Celeste Amaro tinha sido nomeada durante o anterior Governo PSD/CDS, e por isso tinha afirmado que o Estado não era produtor de cultura, contrapondo que o atual Governo “tem uma forma diferente de nortear os apoios à cultura”.

Celeste Amaro respondeu que a missão da Delegação Regional de Cultura era “acompanhar e fiscalizar as atividades das estruturas”, e recordou, por outro lado, a altura em que Canavilhas foi ministra da Cultura, período em que realizou cortes nos apoios às artes que afetaram a região Centro.

A 14 de março, no parlamento, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, afirmou que mantinha a confiança na diretora regional de Cultura do Centro, e considerava não haver razões para a demitir.

“Após a retratação pública feita pela senhora diretora regional, estando quase no final do seu mandato, não consideramos haver matéria para uma ação de demissão”, disse o ministro da Cultura, numa audição parlamentar, em resposta a pedidos de informação do PCP e do Bloco de Esquerda.

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