Para muitas pessoas com diabetes, sintomas como gengivas doridas, boca seca ou desconforto ao mastigar podem tornar-se parte do dia a dia — mas, ainda assim, são frequentemente desvalorizados. Apesar de o tratamento da doença se centrar habitualmente no coração, rins, olhos, fígado e pés, a saúde oral é um dos aspetos mais afetados e, paradoxalmente, um dos mais esquecidos.
Atualmente, um em cada nove adultos no mundo tem diabetes, e mais de 40% não sabem que vivem com a doença. As projeções apontam para números ainda mais alarmantes: até 2050, poderá afetar um em cada oito adultos, cerca de 853 milhões de pessoas. Perante estes dados, compreender a relação entre diabetes e saúde oral torna-se essencial.
O diabetes altera a forma como o corpo processa o açúcar. Quando os níveis de glicemia se mantêm elevados durante longos períodos, podem: danificar vasos sanguíneos e nervos, atrasar a cicatrização, enfraquecer o sistema imunitário, e favorecer infeções, pode ler-se no The Conversation.
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A boca, composta por tecidos sensíveis e uma enorme comunidade de bactérias, torna-se especialmente vulnerável.
Entre as complicações mais comuns estão: boca seca, devido à redução da produção de saliva; cáries e erosão dentária; doença gengival, com inflamação e perda de osso; infeções como candidíase oral; alterações no paladar; dificuldades com dentaduras; e, a longo prazo, perda dentária.
Estes problemas afetam não só o conforto e a nutrição, mas também o controlo do próprio diabetes, criando um ciclo difícil de quebrar.
Um estudo recente mostrou uma associação clara entre diabetes tipo 2 e cáries dentárias severas. A combinação de altos níveis de açúcar no sangue com saliva reduzida ou alterada cria um ambiente ideal para a deterioração dos dentes.
Contudo, muitos doentes desconhecem esta ligação — o que permite que os problemas evoluam silenciosamente.
Pessoas com diabetes têm maior probabilidade de desenvolver doença gengival. Isto ocorre porque o excesso de açúcar na saliva alimenta as bactérias que produzem ácidos capazes de irritar e danificar as gengivas. Com o tempo, o osso que sustenta os dentes pode recuar, levando à sua mobilidade ou queda.
Manter a glicemia controlada e uma higiene oral rigorosa reduz significativamente este risco.
A saliva é um dos mecanismos naturais de defesa da boca – remove restos alimentares, neutraliza ácidos e previne infeções.
Sem saliva suficiente, a boca fica mais ácida e os dentes começam a perder minerais, aumentando a probabilidade de cáries. Idosos e pessoas que tomam certos medicamentos têm risco ainda maior.
Dentistas podem recomendar soluções personalizadas, como vernizes de flúor, pastas dentífricas específicas ou enxaguantes adequados.
Para quem usa dentadura, a falta de saliva pode causar atrito, desconforto, úlceras e infeções. A limpeza diária apropriada, a remoção noturna e as consultas regulares são fundamentais.
Já os implantes dentários só devem ser considerados quando o diabetes está bem controlado, pois níveis elevados de açúcar dificultam a cicatrização e aumentam o risco de falha do implante.
Controlar o diabetes não é apenas monitorizar a glicose: inclui higiene oral cuidada, visitas regulares ao dentista e atenção aos sinais de alerta.
Melhorar a saúde da boca significa melhorar a saúde geral — e muitos doentes só percebem essa ligação quando começam a sentir dor, desconforto ou perda dentária.
A mensagem é clara: a boca também faz parte da gestão do diabetes, e cuidar dela pode evitar complicações sérias e aumentar a qualidade de vida.
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