Saúde

Dia Mundial do Coração: Tratamento atempado das arritmias é fundamental 

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 29-09-2022

As arritmias cardíacas, que consistem numa alteração do ritmo cardíaco, são uma das doenças cardiovasculares mais prevalentes na população. No Dia Mundial do Coração, que se assinala a 29 de setembro, Natália António, Cardiologista responsável pela Consulta de Arritmologia no Hospital CUF Coimbra, alerta para a importância do diagnóstico atempado e tratamento adequado destas patologias. 

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Quais são as doenças cardiovasculares mais prevalentes e a que sinais deve a população estar alerta?

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte e incapacidade em Portugal. As mais prevalentes são a doença coronária/enfarte agudo do miocárdio, a insuficiência cardíaca e as arritmias cardíacas. Enquanto arritmologista gostaria de aproveitar esta altura em que se comemora o dia mundial do coração, para alertar para a importância da identificação precoce e tratamento da arritmia cardíaca mais frequente na nossa população – a fibrilhação auricular. 

O doente com fibrilhação auricular sente frequentemente sensação de batimentos cardíacos descoordenados (palpitações). São também sinais de alerta: as tonturas, a sensação de desmaio ou perda de conhecimento, dificuldade em respirar, mal-estar difícil de explicar ou cansaço. No entanto, é importante destacar que esta arritmia é muitas vezes silenciosa e 50  a 87% dos doentes são inicialmente assintomáticos. 

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Num adulto saudável em repouso, o coração bate cerca de 60 a 100 a vezes por minuto, a um ritmo regular. Na presença de fibrilhação auricular, o coração não mantém esta regularidade. Portanto, a avaliação do pulso, que pode ser efetuada pelo próprio doente, é a maneira mais simples de vigiar o ritmo cardíaco. Trata-se de uma medida fácil que poderá contribuir para a deteção de batimentos cardíacos irregulares e identificar precocemente a fibrilhação auricular.

Porque é que o diagnóstico precoce é importante? 

Ao longo da vida, estima-se que fibrilhação auricular possa afetar um em cada três indivíduos e as implicações desta arritmia podem ser desastrosas. A fibrilhação auricular aumenta o risco de ocorrência de Acidente Vascular Cerebral (AVC) em cinco a oito vezes e aumenta também a probabilidade de insuficiência cardíaca, de demência e de morte. Nos doentes assintomáticos, a primeira manifestação da  fibrilhação auricular pode ser um AVC. 

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O diagnóstico e tratamento precoces desta arritmia são fundamentais para evitar a progressão da doença e os riscos a ela associados. Quanto mais tarde for diagnosticada a doença, mais difícil poderá ser conseguir uma terapêutica eficaz. Quando o diagnóstico é realizado nas fases iniciais desta arritmia, é possível instituir tratamentos que permitem restaurar e preservar o ritmo normal. 

Que evolução se têm registado nos últimos anos ao nível da tecnologia no diagnóstico e tratamento que permitem melhorar a abordagem a estas doenças? 

Nos dias de hoje, a fibrilhação auricular pode ser facilmente detetada, interrompida e até mesmo curada, desde que identificada e tratada a tempo. Em relação ao diagnóstico, a  fibrilhação auricular pode ser detetada através do eletrocardiograma, registo de Holter de 24 horas, registo de eventos de longa duração, ou através dos mais recentes “smartwatches”. Nos doentes portadores de pacemaker ou outros dispositivos eletrónicos implantáveis, o próprio dispositivo pode permitir o diagnóstico desta arritmia. Todas estas ferramentas são importantes. 

Em relação ao tratamento, nos últimos anos temos assistido a grandes avanços tecnológicos que nos têm permitido tratar mais eficientemente e com maior segurança os doentes com esta arritmia. A ablação por catéter é hoje a primeira linha de tratamento em muitos doentes com fibrilhação auricular. Trata-se de um procedimento minimamente invasivo, em que são introduzidos cateteres (tubos finos e flexíveis) através de uma veia na virilha até ao coração possibilitando a eliminação das causas elétricas desta arritmia (em regra, através do isolamento elétrico das veias pulmonares). A taxa de sucesso desta técnica é superior a 80% no primeiro ano e a taxa de complicações é baixa. É por isso importante procurar uma equipa diferenciada para o seguimento desta doença. 

Após o diagnóstico de Fibrilhação Auricular deve existir um acompanhamento próximo de um cardiologista para o resto da vida?

Sem dúvida que o acompanhamento médico do doente com fibrilhação auricular é crucial para o sucesso da terapêutica. Após ablação de  fibrilhação auricular, os doentes devem ser reavaliados pelo menos de três em três meses durante o primeiro ano, e depois pelo menos anualmente. É fundamental que os doentes com fibrilhação auricular não descurem as suas rotinas de saúde e mantenham a vigilância da sua saúde cardiovascular de forma a evitar complicações. 

No que toca a comportamentos preventivos e de vigilância, que práticas recomenda à população?

O tratamento desta patologia deve seguir uma abordagem holística que inclui: anticoagulação oral crónica para prevenção do AVC e do tromboembolismo (indicada na maioria dos doentes com esta arritmia), controlo dos sintomas (que frequentemente implica uma estratégia de controlo do ritmo cardíaco, incluindo ablação de fibrilhação auricular) e controlo dos fatores de risco e de outras comorbilidades associadas à fibrilhação auricular. Como parte do tratamento devemos por isso controlar a hipertensão arterial, obesidade, diabetes, apneia do sono e insuficiência cardíaca. Recomenda-se ainda praticar exercício físico regular (de intensidade moderada) e evitar consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

 

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