O dia de hoje é de limpeza e “de lágrimas” em Relva e Muas, na serra do Alvão, Vila Real, depois do incêndio que chegou às aldeias, queimou palheiros, lojas de animais, casas devolutas, pastos e floresta.
“Era um inferno”, descreveu à agência Lusa Iracema Dinis, residente na Relva, aldeia que fica na encosta da serra do Alvão virada à cidade de Vila Real.
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O fogo andou no alto da serra durante quase uma semana e, no domingo à tarde, empurrado pelo vento desceu e chegou a aldeias como Relva, Muas, Agarez, Ramadas, Outeiro, Borbela e à parte de cima da vila de Lordelo, atingindo, de novo, o Parque Natural do Alvão (PNA), estando hoje em fase de resolução.
“Os meus filhos e marido andaram sempre a molhar, a molhar e a nossa sorte foi não falhar a água”, contou Iracema Dinis.
A fogo queimou o armazém da sua mãe, também na Relva, que era também a loja de uma vaca, mas as casas salvaram-se.
“Foi tudo muito rápido, mas estava tanto vento e o barulho era impressionante. É dia de limpeza e de lágrimas porque hoje é que se vai ver esta tristeza”, referiu.
Até ao momento há a indicação de que as chamas atingiram duas casas devolutas na Relva e que arderam ainda palheiros, lojas de animais, anexos.
Manuela Souto, emigrante na Suíça, está de férias na Relva e descreveu o dia de domingo “como um filme de terror”.
“A gente ver o fogo lá na floresta e passado 10 minutos estar aqui”, apontou, referindo que não imaginava que pudesse descer às casas, porque tinham passado muitos bombeiros e, durante toda a manhã, andaram helicópteros e aviões que “não protegeram nada”.
Manuela e o marido começaram o dia a limpar o pátio e varanda da casas, cheios de cinza e de faúlhas.
Muitos dos habitantes da Relva foram aconselhados a sair de casa e os mais idosos foram retirados.
“Parecia um furação, não parecia um fogo”, descreveu à Lusa, referindo que o regresso a casa fez-se horas depois.
A emoção, lágrimas nos olhos ou a voz embargada foi quase unânime nas pessoas abordadas pela Lusa,
Este fogo começou no sábado, dia 02, em Sirarelhos, entrou em fase de resolução na quarta-feira, esteve em conclusão e reativou no sábado à noite.
Teresa Gaspar esteve com o coração nas mãos em 2017, 2022 e agora, outra vez, em 2025.
Quando saiu de casa, as “labaredas já estavam ali por cima” e quanto regressou viu queimadas as árvores que tinha no quintal. Hoje anda a limpar o rasto negro deixado pelo fogo.
Francisco Gonçalves tem duas vacas e dois vitelos e hoje já foi com os animais ao pouco pasto que sobrou. A alimentação deles é uma preocupação. “Tínhamos pasto para o resto do ano e agora ficámos sem nada praticamente”, referiu.
É também apicultor e contou que a maioria das colmeias se salvou, embora tenham ardido “algumas que estavam nas pontas, mais desprotegidas”.
“Já tínhamos tirado uma quantidade de mel e vamos ter que o guardar para as abastecer”, acrescentou.
No domingo à tarde, Lúcia Simões, emigrante de férias em Muas, subiu a serra para ver “a corrida”. Era suposto os ciclistas da Volta a Portugal em Bicicleta passarem por ali, mas o fogo obrigou a uma alteração do percurso.
Foi quando estava lá em cima que as chamas se foram aproximando e já não conseguiu regressar a Muas. “Felizmente não houve pessoas feridas, só ardeu um palheiro”, contou, sublinhando que “foi muito assustador”.
Ardeu floresta e também os pastos dos animais.
Teresa Silva tem duas vacas maronesas que estão hoje pastar junto a Muas, mas à volta está praticamente tudo queimado.
“Agora havemos de ir com o tempo, se vier umas pinguinhas ainda fará muito pasto, se não vier nada temos que comprar feno onde o houver”, referiu, contanto que praticamente todas as pessoas da aldeia foram retiradas.
Muas é uma aldeia pequena que ganhou nova vida com a casa de turismo rural de Eduardo Carvalho e que, no domingo, estava cheia, tal como em quase todos os dias deste verão.
“Estamos no pico do verão e somos muito solicitados”, referiu o empresário que se mostrou muito preocupado porque a natureza, o verde e o PNA são os principais atrativos para os turistas.
Apesar de alguns cancelamentos, a hora é de arregaçar as mangas e regressar ao trabalho, mas Eduardo Carvalho considerou que “nunca houve antes uma coisa destas”, deixando críticas ao Instituto de Conservação da Natureza (ICNF) pelos entraves colocados quando o Conselho Diretivo dos Baldios quer abrir e ampliar caminhos ou fazer faixas.
“Levamos praticamente com um não a tudo, com prazos demoradíssimos em respostas, é uma entidade que complica a vida aos que já moravam aqui e que conhecem o terreno”, apontou.
De acordo com a ANEPC, o incêndio entrou em fase de resolução às 04:24 e pelas 11:30 estavam ainda mobilizados para esta ocorrência 363 operacionais, apoiados por 116 viaturas e dois meios aéreos.
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