Dezenas de militantes do PAN – Pessoas-Animais-Natureza, entre os quais ativistas, autarcas e dirigentes nacionais e regionais como a antiga deputada Bebiana Cunha, formalizaram hoje a sua desfiliação do partido, confirmou a própria à Lusa.
“Para mim, quando deixa de haver coerência ideológica, chego à conclusão que não faz sentido. Estou perante uma impossibilidade de me manter filiada a um partido que, a meu ver, desvirtuou o seu ideário. Em 2011 o PAN falava em ‘Dar valor aos valores’, portanto trazer a ética para a política e, a meu ver, esse projeto falhou. Não consigo de forma consciente manter-me associada a um projeto onde a quantidade passa a ser mais importante do que a qualidade”, disse Bebiana Cunha.
Em declarações à agência Lusa, a antiga deputada, voluntária no PAN desde 2011, que foi autarca na Assembleia Municipal do Porto e eleita líder parlamentar do partido em 2021, começou por dizer que esta não foi uma decisão tomada “de ânimo leve ou de um dia para o outro”, resumindo o porquê à palavra “desilusão”.
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“Acho que há entre nós desilusão com um projeto, com um ideário político tão ético como o PAN. Vê-lo desvirtuar-se em diversas coligações, assente numa ideia de que o que é importante é a quantidade em detrimento da qualidade”, referiu.
Questionada sobre como avalia a atual liderança do partido, Bebiana Cunha lamentou a “ausência de autocrítica” em questões como perda de eleitorado e de representatividade, considerando que “há uma negação da realidade”.“Uma ausência de análise aprofundada, tal como o PAN, que ideologicamente era um partido que defendia a ecologia profunda e passou a defender a ecologia de superfície”, referiu
.Estas desfiliações surgem depois de em julho ter sido tornada pública uma carta aberta também subscrita pela antiga deputada do PAN e outros ex-dirigentes a pedir uma avaliação da direção do partido “sem receio de ter de mudar”, acusando a atual liderança de se desviar dos “valores fundadores”.Ao todo 35 signatários, nos quais se incluíam os antigos dirigentes Anabela Castro, Nuno Pires, Miguel Queirós ou Carolina Pia, salientavam que todos “têm a sua história dentro do PAN” e recordavam o lançamento das fundações do projeto político Pessoas-Animais-Natureza em 2009.Já num comunicado divulgado hoje e assinado por cinco agora ex-militantes do PAN, entre os quais Bebiana Cunha, e que cita por exemplo Miguel Queirós que presidiu o Conselho de Jurisdição Nacional e agora se demite, lê-se que “o PAN deixou de ser quem era – a única plataforma em que as causas e o ativismo comprometido alguma vez convergiram numa estrutura representativa politicamente organizada”.
“Recorde-se que Inês Sousa Real foi eleita em 2023, com cerca de 73% dos votos do congresso, numa lista que desde então foi perdendo a conta-gotas vários elementos que apontaram repetidamente falta de democracia interna. A acrescer que, de acordo com os estatutos em vigor do partido, já deveria ter sido realizado o congresso eletivo em maio de 2025, o que até ao momento ainda não aconteceu, não tendo sequer sido anunciado para acontecer em 2025, mantendo o PAN na sua ilegalidade, apesar da insistência dos filiados e do parecer do Conselho de Jurisdição Nacional”, lê-se no texto enviado à Lusa.Este anúncio foi feito simbolicamente hoje, Dia Mundial do Veganismo, tratando-se de uma, acrescentam os signatários, “desfiliação coletiva” com “caráter simbólico e ético” em jeito de apelo “à reconstrução de espaços políticos verdadeiramente horizontais, empáticos e democráticos, para os quais este conjunto de mais de trinta pessoas irá fazer a sua parte”.
Também em comunicado, e num texto no qual começa por dizer que “tem vindo a registar um aumento constante e consistente no número de novas filiações”, a direção do PAN refere que “as desfiliações de militantes que se encontravam afastados da vida ativa do partido há vários meses e anos, acaba por ser um processo de formalização de desligamentos pessoais que ocorre naturalmente”.“Mas também que algumas destas pessoas apesar de ainda estarem formalmente filiadas no PAN integraram listas de candidaturas concorrentes à do PAN, noutros casos manifestando publicamente apoio a outros partidos nas últimas eleições autárquicas violando os estatutos e desrespeitando o trabalho dos demais militantes. A decisão de saída agora formalizada traduz apenas o encerramento natural de um ciclo pessoal e político que já se encontrava esgotado”, refere o partido.
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