A tuberculose, uma das doenças infecciosas mais antigas e mortais da história humana, pode finalmente ter encontrado o seu calcanhar de Aquiles.
Investigadores da Universidade Estadual do Arizona identificaram um sistema molecular essencial para a sobrevivência da Mycobacterium tuberculosis, a bactéria responsável pela doença, abrindo caminho para novos tratamentos potencialmente revolucionários.
Muito antes da COVID-19, já a tuberculose dizimava populações. Com registos que remontam a 9.000 anos, devastou a Europa nos séculos XVIII e XIX e continua hoje a ser considerada pelo CDC a doença infecciosa mais mortal do mundo.
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Apesar de existirem tratamentos eficazes, a doença tem vindo a crescer novamente em várias regiões. Nos Estados Unidos, ressurgiu em estados como Califórnia, Maine, Kansas, Carolina do Norte e Nova Iorque, com as mortes a aumentarem durante a pandemia devido ao receio de recorrer aos cuidados de saúde.
A grande revelação científica centra-se no sistema molecular PrrAB, que funciona como uma espécie de “coração e pulmões” da M. tuberculosis. A microbiologista Shelley Haydel e a sua equipa descobriram que este sistema regula a respiração da bactéria e processos essenciais como a fosforilação oxidativa — responsável pela produção de energia celular.
Ao utilizarem a técnica de interferência genética CRISPRi para desativar o PrrAB, os investigadores observaram um efeito imediato: as bactérias deixaram de funcionar e morreram. Num dos testes, a população bacteriana caiu quase cem vezes.
Haydel descreve o PrrAB como “um alvo terapêutico promissor” e defende que a sua importância vital pode transformá-lo numa plataforma para futuros medicamentos antimicobacterianos.
A investigação não ficou por aqui. O composto experimental DAT-48 — já conhecido pela sua atividade antituberculose — demonstrou ser ainda mais eficaz quando combinado com a inibição do PrrAB.
O composto atua precisamente na via respiratória regulada por este sistema, tornando-se especialmente letal quando a bactéria está fragilizada pela supressão genética. Mesmo sozinho, o DAT-48 aumentou a eficácia de outros medicamentos, como a bedaquilina e o telacebec, sugerindo que a vulnerabilidade da tuberculose ao composto está intimamente ligada ao funcionamento do PrrAB, pode ler-se no Popular Mechanics.
Segundo Haydel, “estes resultados destacam o PrrAB como um centro regulatório crucial e validam o DAT-48 como um candidato promissor para uma terapia antimicobacteriana direcionada”.
Embora os resultados sejam animadores, nenhum dos métodos foi ainda testado em humanos. Se a eficácia se confirmar em estudos in vivo, os cientistas acreditam que a tuberculose poderá, no futuro, seguir o mesmo destino que a varíola: desaparecer como ameaça global.
Para uma doença que resistiu durante milénios, a descoberta de um ponto fraco genético marca um avanço extraordinário — e pode ser o início do fim de uma das infeções mais persistentes da história.
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