Um estudo desenvolvido no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) abre “novas perspetivas” para terapias capazes de travar a progressão da doença dos pezinhos, revelou hoje a instituição.
“Ao corrigir as alterações que ocorrem dentro do neurónio, [a investigação] abre novas perspetivas para terapias mais eficazes e duradouras, capazes de travar a progressão da doença antes que o dano nervoso se torne irreversível”, explica a líder do estudo, Márcia Liz, agora investigadora na Unidade de Multidisciplinar de Investigação Biomédica (UMIB) do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), citada num comunicado do i3S.
Na nota de imprensa, o i3S observa que a investigação sobre a Amiloidose Hereditária por Transtirretina, também conhecida por doença dos pezinhos, foi publicada na revista Cell Reports e “abre portas para futuros estudos pré-clínicos com vista a melhorar a qualidade de vida destes doentes”.
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Os resultados obtidos no estudo desenvolvido em colaboração com o Departamento de Neuropatologia do Hospital de Santo António “mostram que controlar a atividade da proteína Rac1 pode ser uma nova estratégia para prevenir ou tratar a designada doença dos pezinhos, atuando na disfunção neuronal e evitando a degeneração”, acrescenta.
“Ao focar-se diretamente na proteção e restauração da função das células nervosas, este estudo complementa as abordagens que visam reduzir os depósitos de transtirretina”, afirma Márcia Liz.
Usando “um modelo de ratinho para compreender melhor como esta doença danifica os nervos periféricos”, os investigadores descobriram que, “antes destes começarem a degenerar, já existem alterações na estrutura interna das células nervosas, especialmente no citoesqueleto que dá forma às células e é crucial para a função dos neurónios”.
Estas alterações na estrutura das células nervosas, continua a investigadora, “estão associadas a uma ativação excessiva de uma proteína chamada Rac1. Decidimos então bloquear a atividade da Rac1 e verificámos que as células nervosas ficaram protegidas”.
Em doentes com uma forma de doença mais tardia, foi identificada “uma variação genética num regulador desta proteína Rac1 que leva à redução da sua atividade, o que reforça o potencial neuroprotetor da inibição da Rac1”, acrescenta.
Apesar de ser uma condição genética rara, com 10 mil casos estimados em todo o mundo, “a doença tem um impacto relevante em Portugal, já que quase metade dos doentes identificados na Europa são portugueses”, recorda o i3S.
A doença “é causada por mutações no gene TTR, que é responsável pela produção da proteína transtirretina, que é naturalmente produzida pelo fígado e responsável pelo transporte da vitamina A e da hormona tiroideia”.
“Quando a transtirretina está alterada, tende a acumular-se de forma desorganizada sobretudo nos nervos periféricos, levando à formação de depósitos e à perda de sensibilidade e de força muscular”, descreve.
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