Opinião

Deportem a Constituição, que tanto vos incomoda!

Opinião | Amadeu Araújo | Amadeu Araújo | 3 semanas atrás em 24-05-2025

Deportar foi, e é, verbo muito ouvido nas últimas semanas. Custa a crer, num país de emigrantes e eu sou filho de um, que tenhamos esta miseranda palavra no léxico político.

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Outro verbo, agora que somos “mais muitos”, é rever. A revisão constitucional é engodo para nos levaram saúde, educação e os milhões da segurança social.

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Um país que se deseja com uma administração pública oleada e funcional, entra em toleimas, incomodado com preambular socialismo, que nada mais é que social-democracia e que nos tirou do buraco fundo onde os revisionistas, herdeiros da Aliança Nacional, nos meteram.

Baixos salários, desprezo por 70% do país e pensamento estratégico não precisamos. Necessário é mexer na Constituição. O guião da transformação e crescimento de Portugal nestes 50 anos incomoda os doutos e eu socorro-me de um insuspeito, o economista João César das Neves, diz que “não se pode pôr nas mãos do Chega a revisão constitucional”. Foi na Renascença que se escutou como os do antissistema querem destruir o sistema democrático.

Nisto, anda por aí um conselheiro de Estado e candidato presidencial, a cirandar por tudo quanto é fórum a pedir “atitude” ao país. E ainda tem o arrojo de nos dizer que uma eventual eleição do ex-chefe da Armada, e agora rival, almirante Gouveia e Melo, “pode ser um risco enorme e um perigo para a democracia”.

Não sei o que pensa, mas eu conheci-o em 2004, em funções, e não vi nada disso.

Gouveia e Melo não é um perigo para a democracia. Pode até ser, nestes dias reles e velhacos, o melhor garante para a Constituição e para a democracia. E para o país.

A próxima campanha turística, reparem bem, tem foco “no mar como elemento central da identidade portuguesa”. Outro exemplo chega, parece 1997, dos que querem um “Código da Comunicação Social”. Acenam com o obstáculo e densificar a deontologia jornalística. Como os percebo. Afinal são “fenómenos jornalísticos”, que é preciso erradicar. Quem diz o fenómeno, prega a caixa, o watchdog e o escrutínio aos poderes públicos.

Já do que importa, riscos de desequilíbrio orçamental, nada. Cobrar 700 milhões à Redes Energéticas Nacionais pelos prejuízos causados pelo apagão de 28 de abril, também não.

Mas nem tudo são más notícias. O busto do cantor Jim Morrison, poeta e líder dos The Doors, roubado há 37 anos do cemitério parisiense Père Lachaise, foi descoberto acidentalmente durante uma operação policial.

Eu, entretido, ainda ouço esse grito de esperança, a chegada da maternidade. Sim um novo, e decente, Portugal. Parido pela democracia.

Morrison foi, muito mais do que alguns pensam, poeta e profeta. É dele o verso com que fecho a crónica, não sem antes pensar que, talvez melhor que revisitar a Constituição, seja preferível deportá-la. Aproveitam um voo de deportados e metem lá o papel que tanto incomoda meio mundo. De facto, está ali travão ao progresso dos bons, e antigos, costumes.

Grita, Jim, grita: “Se ao menos pudesse sentir-me a recuar de novo e sentir-me abraçado pela realidade de novo, eu morreria… felizmente morreria”.

OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA

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