Saúde

Défice de Atenção pode ser a chave da criatividade: Deixar a mente divagar aumenta ideias originais

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 2 horas atrás em 13-10-2025

Dizem que o foco é tudo. Mas, para pessoas com TDAH (Transtorno do Défice de Atenção com Hiperatividade), deixar a mente vaguear pode ser uma arma secreta.

No Congresso do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ECNP), em Amesterdão, investigadores revelaram novas evidências de que pessoas com TDAH tendem a ser mais criativas, e que a razão pode estar na forma como os seus pensamentos divagam.

O estudo, liderado por Han Fang, do Centro Médico da Universidade Radboud, identificou um tipo específico de divagação mental — a divagação deliberada, em que os pensamentos são deixados vagar propositalmente — como possível elo entre o TDAH e a criatividade.

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“Descobrimos que pessoas com mais traços de TDAH, como desatenção, hiperatividade ou impulsividade, apresentam pontuações mais altas em realizações criativas”, explicou Fang. “Além disso, a divagação mental deliberada está associada a maior criatividade em pessoas com TDAH.”

Todos divagamos de vez em quando — seja durante uma reunião ou ao pensar no jantar em vez da caixa de entrada. Mas, em pessoas com TDAH, esta divagação acontece com mais frequência e intensidade. Para investigar se isso poderia ser benéfico, a equipa de Fang conduziu dois estudos com 750 participantes da Europa e do Reino Unido, examinando a relação entre traços de TDAH, divagação mental, criatividade e funcionamento diário.

Os traços de TDAH foram avaliados com a Escala de Autorrelato de TDAH em Adultos, enquanto a divagação mental foi medida com questionários que distinguiam a divagação deliberada da espontânea. A criatividade foi avaliada através do Questionário de Realização Criativa e da Tarefa de Usos Alternativos, que desafia os participantes a inventar novos usos para objetos comuns.

Os resultados mostraram que desatenção e impulsividade estão associadas a maiores realizações criativas, com a divagação mental a servir de ponte entre estas características e a criatividade. A divagação deliberada mostrou-se especialmente poderosa, permitindo que os pensamentos tomassem rumos inesperados, gerando ideias e conexões originais.

Em contraste, a divagação espontânea — desvios mentais descontrolados — esteve ligada a problemas como dificuldade de concentração e organização.

“Este estudo pode ter implicações práticas, tanto para a psicoeducação como para o tratamento”, afirmou Fang. “Programas que ensinem os indivíduos a aproveitar os seus pensamentos espontâneos podem ajudá-los a explorar a criatividade de forma produtiva”, pode ler-se na ZME Science.

O professor KP Lesch, da Universidade de Würzburg, que não participou no estudo, comentou: “A divagação mental é um recurso essencial na extraordinária criatividade de indivíduos com TDAH de alto funcionamento. É um talento valioso para a sociedade e para o futuro.”

Muitos pais e pessoas com TDAH já haviam percebido este padrão. Um pai descreveu o cérebro do filho como “uma lata de lixo abarrotada”, onde as ideias caem por todo o lado, mas que levou o jovem a ser finalista nacional num concurso da NASA, graças a uma criação que combinava arte e engenharia aeroespacial.

Empreendedores como David Neeleman, fundador da JetBlue, e Richard Branson, da Virgin, também atribuem parte do seu sucesso à capacidade de pensar “fora da caixa”, típica de cérebros com TDAH.

Aprender a direcionar a divagação mental pode permitir que pessoas com TDAH aumentem os seus pontos fortes criativos e reduzam desafios do dia a dia. Fang sugere que terapias baseadas em mindfulness poderiam ser adaptadas não para suprimir a dispersão, mas para a transformar em exploração deliberada.

Num mundo que valoriza o foco e o pensamento linear, este estudo lembra-nos que as melhores ideias podem surgir quando a mente divaga de propósito.

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