A Critical Software desenvolveu uma solução de segurança ferroviária que poderá permitir a entrada de novos operadores no mercado nacional, ao garantir a compatibilidade com o sistema europeu de controlo de comboios.
Designado STM (Standard Transmission Module), o sistema hoje apresentado no Poceirão, concelho de Palmela, resulta de um investimento totalmente privado e visa assegurar a transição entre o atual sistema ferroviário português e o sistema europeu ETCS (European Train Control System), cuja implementação plena está prevista para 2030.
A iniciativa conta com a Alpha Trains, Hitachi, Medway e Stadler como parceiros.
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“Começámos a desenvolver esta solução há uns três ou quatro anos”, contou à Lusa o diretor da divisão Automotive, Railway e Medical Systems da Critical Software, Luís Gargaté. Trata-se de uma tecnologia de “classe B”, isto é, de transição, que lê os sinais nas balizas da linha férrea e executa funções de segurança, como controlo de velocidade e travagem automática de emergência.
Segundo o responsável, o sistema desenvolvido pela tecnológica portuguesa distingue-se por ser externo e independente das soluções dos grandes fabricantes europeus, o que permite uma maior abertura do mercado.
“A Critical Software propôs-se, até por desafio das Infraestruturas de Portugal, a desenvolver um sistema independente. Pode integrar com qualquer sistema, seja da Hitachi, da Alstom, qualquer um”, explicou. “Tem a vantagem de, sendo um sistema independente, liberalizar o mercado, dar a oportunidade a que o mercado fique mais competitivo para esta solução.”
A implementação de uma solução de interoperabilidade é obrigatória para os comboios que pretendam operar em Portugal e surge numa altura em que o sistema anterior, conhecido como Convel, está obsoleto e sem manutenção garantida. “O sistema antigo, da Bombardier, já está descontinuado há muito tempo, não há peças novas”, sublinhou o responsável da empresa fundada em 1998 em Coimbra.
“Se algum operador, seja de mercadorias ou de passageiros, quiser começar a operar em Portugal, terá obrigatoriamente de aguardar pela certificação deste sistema para o poder fazer”, disse ainda Luís Gargaté.
A certificação do STM está prevista para o primeiro semestre de 2026, e os primeiros comboios equipados com o sistema deverão começar a circular no final do mesmo ano.
O projeto conta com a colaboração da Hitachi, da Alpha Trains, da Medway e da Stadler, sendo estas as empresas que financiaram o desenvolvimento.
“Até à data, formalmente, isto está a ser pago por privados”, afirmou o responsável, indicando que poderá haver apoio público ou comunitário no futuro, mas sem confirmação por agora.
Nos últimos anos, o Governo português tem promovido a liberalização do mercado ferroviário, alinhando-se com as diretivas da União Europeia que visam aumentar a concorrência no setor e melhorar a qualidade dos serviços.
Esta abertura pretende permitir que novos operadores privados, tanto de passageiros como de mercadorias, possam atuar em Portugal, atualmente dominado pela CP no transporte de passageiros e pela Medway no transporte ferroviário de mercadorias.
O objetivo é estimular a inovação, reduzir custos e ampliar a oferta, promovendo uma ferrovia mais eficiente e competitiva. Para que esta liberalização seja possível, é essencial que os novos operadores possam operar com sistemas de controlo compatíveis com as normas europeias, como o ETCS, garantindo interoperabilidade e segurança.
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