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 Crianças são as vítimas da guerra em Gaza 

Notícias de Coimbra com Lusa | 47 minutos atrás em 23-10-2025

A chefe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) na Faixa de Gaza, Sónia Silva, alertou hoje que as crianças do enclave palestiniano são as verdadeiras “vítimas da guerra” entre Israel e o Hamas.

Numa conferência de imprensa através de videoconferência, Sónia Silva frisou que as vidas destas crianças “vão mudar para sempre” devido “à violência e a um nível de sofrimento sem precedentes”.

“Vai haver um antes e um depois, e isto terá um impacto psicológico, sobretudo pelo trauma causado pelos bombardeamentos. Há 44 mil crianças que perderam pelo menos o pai ou a mãe, e isso tem de ser abordado. É fundamental a entrada maciça de ajuda e garantir serviços de educação, proteção e nutrição”, argumentou.

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Para Sónia Silva, uma das principais preocupações é a “chegada do inverno”, embora tenha saudado o cessar-fogo alcançado entre Israel e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).

“O caminho é longo e o nível de destruição é incomparável com outras crises. É um território que sofreu um bloqueio significativo à entrada de ajuda, limitada à saúde, nutrição, alimentação e abrigo, mas temos muitos camiões à espera de entrar com equipamentos”, afirmou.

“Estou na Faixa há dois anos e cheguei um mês depois de o conflito rebentar. Agora, desde que foi declarado o cessar-fogo, sentimos também tristeza: o nível de destruição e de sofrimento não tem precedentes. Às vezes faltam-nos palavras para descrever a dor e o sofrimento das crianças em Gaza. Durante o conflito, morriam 28 crianças por dia. A Faixa registou um nível de destruição impressionante”, afirmou.

A UNICEF lamentou que o último hospital pediátrico que permanecia em funcionamento na Faixa tenha sido destruído: “Estivemos a trabalhar lá durante mais de 18 meses e apoiávamos o pessoal médico com equipamentos, ventiladores, fototerapia e sistemas de oxigénio.”

“Preocupa-nos os serviços básicos. A água e a nutrição são fundamentais, pois 80% dos serviços de saúde foram afetados e estamos a tentar realizar uma campanha de vacinação e nutrição. Em agosto foi declarada a fome na cidade de Gaza e mais de 200 mil crianças estão em risco de desnutrição. É essencial acelerar a prestação destes serviços”, explicou Sónia Silva.

A responsável reafirmou igualmente a importância de criar “estruturas de educação para que as crianças possam ter salas de aula temporárias, tentando minimizar os riscos que enfrentam”. 

“Atualmente temos cerca de uma centena dessas salas e também tendas de grandes dimensões que permitem que as crianças tenham acesso a educação perto de onde vivem neste momento. O que é surpreendente, e que não vi em mais lado nenhum, é a força e a resiliência dos habitantes de Gaza. Mesmo tendo todos perdido familiares ou tudo o que possuíam, continuam a seguir em frente”, sublinhou, lembrando ainda que “as crianças vivem mais no presente”.

A UNICEF continua a denunciar que a magnitude da destruição, as restrições de acesso e a insegurança em Gaza “dificultam o trabalho humanitário” e mantêm as famílias em situação de “extrema vulnerabilidade”, mesmo após o cessar-fogo, pelo que defende a importância da reunificação familiar.

Por seu lado, a especialista em educação da UNICEF, Jane Courtney, afirmou que o sistema educativo está “à beira do colapso”, com “97% das escolas danificadas ou destruídas e 92% a necessitar de reparação total”. 

“Muitas crianças refugiadas procuraram abrigo nas escolas. Mais de 600 mil crianças têm de regressar às aulas. Os pais estão dispostos a enviar os filhos para a escola apesar de estarem numa situação vulnerável, sem alimentos. Embora a UNICEF ofereça ensino, as crianças têm de frequentar as aulas por turnos”, lamentou Courtney.

Courtney referiu ainda que as crianças estão “ávidas por aprender, porque compreendem que isso é importante para o futuro” e “querem passar mais tempo na escola, mas não temos tempo suficiente”. “Querem coisas simples, como uma folha e um lápis, e neste momento isso está-lhes a ser negado. Precisam de materiais. Há crianças que escrevem até nas carteiras ou na areia, ao ar livre”, concluiu.

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