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Crianças não esquecem. Palmadas “educativas” destroem e não ensinam

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 2 horas atrás em 06-05-2025

Imagem: depositphotos.com

Um novo estudo internacional liderado por Jorge Cuartas, professor de psicologia aplicada na Universidade de Nova Iorque, veio deitar por terra uma das ideias mais persistentes no debate sobre disciplina infantil: a de que bater em crianças poderá ser aceitável ou inofensivo em contextos culturais onde tal prática é norma.

A investigação, publicada esta semana na revista Nature Human Behavior, analisou 195 estudos realizados em 92 países de baixos e médios rendimentos e concluiu de forma inequívoca que o castigo físico causa prejuízos universais e consistentes no desenvolvimento infantil.

A equipa examinou quase 1.500 resultados distintos, entre 2002 e 2024, e observou uma clara associação entre o uso da violência física por parte de cuidadores e efeitos negativos em 16 de 19 indicadores analisados. Entre eles, destacam-se uma maior propensão à depressão, ansiedade, comportamento agressivo, fraco desempenho escolar, uso de drogas e maior exposição à violência. Nenhum dos estudos encontrou benefícios, pode ler-se na ZME Science.

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Este trabalho refuta, de forma clara, a chamada “hipótese da normatividade cultural”, segundo a qual, em países onde bater em crianças é culturalmente aceite, os impactos negativos seriam reduzidos ou inexistentes. A investigação mostra que os danos ocorrem independentemente da região geográfica, do contexto legal ou das normas sociais.

O impacto é especialmente relevante para os países de rendimentos mais baixos, onde o castigo físico ainda é amplamente praticado: mais de 60% das crianças nestas regiões são agredidas pelos próprios cuidadores — contra apenas 18% em países como o Canadá.

O estudo revela ainda que os efeitos nocivos são mais severos quando as punições ocorrem durante a adolescência ou quando envolvem violência mais agressiva, como o uso de objetos. Mesmo controlando fatores como estatuto socioeconómico ou metodologia dos estudos, os resultados mantêm-se consistentes.

Importa destacar que, ao comparar o castigo físico com outras estratégias disciplinares, os autores notaram que métodos construtivos — como diálogo, consequências lógicas ou reforço positivo — não estavam associados a qualquer dano.

Desde 2006, 65 países aprovaram leis que proíbem total ou parcialmente o castigo corporal. Este estudo poderá agora reforçar a pressão por reformas legais nos restantes países e servir de alerta para famílias, professores e decisores políticos.

A conclusão é clara e transversal: bater em crianças não as torna melhores. Só lhes faz mal. O desafio que resta é encontrar formas eficazes de erradicar esta prática, ainda demasiado enraizada em muitas sociedades.

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