Hóteis

Cozinheiros portugueses reúnem-se para debater saúde mental que a pandemia agravou

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 08-11-2020

 Profissionais da restauração reúnem-se a partir de terça-feira para o Congresso dos Cozinheiros, com enfoque na questão da saúde mental, um desafio agravado pelas dificuldades provocadas pela pandemia de covid-19, disse o responsável pela organização.

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“Estas profissões ligadas à restauração são conhecidas por serem profissões de trabalho intensivo. São muitas horas, em ambientes de trabalho com tarefas repetitivas, com um grande artesanato culinário e que têm um enquadramento de uma conexão entre pessoas que, com o tempo se têm vindo a modificar, mas que tem um passado de alguma rigidez”, afirmou à Lusa Paulo Amado, responsável da Edições do Gosto, que organiza o Congresso dos Cozinheiros (CNC2020), encontro que cumpre 15 anos.

A pandemia de covid-19, acrescentou, “veio agravar a posição dos gestores, dos proprietários, dos trabalhadores”.

“Há aqui um acumular de tensões, de uma profissão que já tinha os seus desafios, com estes outros que surgiram em cima. Não é apenas um desafio económico, é um desafio humano”, comentou o organizador.

O objetivo do Congresso, que decorre entre terça e quinta-feira em Oeiras e com transmissão ‘online’ gratuita através do YouTube, é abordar o problema da saúde mental, que ainda continua a ser um tabu.

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“O que nós queremos nestes três dias é sinalizar a questão, mas também queremos agir. Vamos suscitar a conversa e criar possibilidades de partilha construtiva. Não queremos apontar dedos, queremos achar soluções”, referiu Paulo Amado.

Sob o tema ‘Nós, as Pessoas’, o Congresso dos Cozinheiros quer ser “uma rampa de lançamento para um caminho de intervenção social no setor gastronómico”, que se baseia em três pilares.

O primeiro é o de identificação e valorização das pessoas que fazem parte desta comunidade, do cozinheiro ao produtor ou à marca, através de vídeos e fotografias a preto e branco, mostrando que “todos são iguais”.

Depois, pretende contribuir para a “reestruturação da conexão entre as pessoas”, partilhando, com o apoio de psicólogos, ferramentas e técnicas que “permitam aos proprietários, chefes, cozinheiros e trabalhadores terem um maior conhecimento de como lidar com equipas, gestão de recursos humanos, direitos dos trabalhadores, fatores de risco”, bem como estratégias para “lidar com a pressão, exigência e consequências do trabalho na restauração”.

Por fim, tem o objetivo de apoiar o bem-estar psicológico, disponibilizando sessões de terapia, gratuitas e anónimas, para profissionais da área.

Durante os três dias, mais de 50 oradores vão intervir no congresso, através de demonstrações de gastronomia, vídeos, entrevistas e debates, nomeadamente sobre o presente e o futuro da restauração, o desperdício na cozinha ou a sustentabilidade.

Num setor em que a percentagem de mulheres é diminuta, haverá um debate – “Mulheres com Tomates” – dedicado exclusivamente a elas, em que se discutirá a relação entre arte e gastronomia.

Além disso, será dado palco ao movimento “New Kids on the Block”, um movimento de jovens cozinheiros lisboetas que pretende representar “uma nova geração de jovens cozinheiros que exige mais e melhor, que não liga ao ‘status quo’ e que prima pelo equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar”, ou ao projeto “É um Restaurante”, um estabelecimento de ‘fine dining’ onde o serviço é assegurado por pessoas que são ou foram sem-abrigo.

A pastelaria também terá destaque neste encontro, com a participação, por exemplo, de Marcio Baltazar (“Ocean”, duas estrelas Michelin) e Carlos Fernandes (“Vista”, uma estrela).

Será ainda apresentado o documentário ‘Behind the Plate’, de João Ferraz, do projeto Casa do Carbonara (Brasil), que visitou cozinhas de todo o mundo. A brasileira Bel Coelho irá apresentar o seu trabalho no restaurante “Clandestino”, em São Paulo.

A organização espera a maior participação de sempre, uma vez que o acesso será ‘online’ e gratuito.

“Em 2005, o primeiro congresso teve 100 pessoas. Nessa altura, a classe estava a começar a fazer a sua afirmação e era preciso um palco de convergência e de partilha. No ano passado, estiveram 1.300. Este ano, acreditamos que vamos ter um impacto como nunca tivemos”, sublinhou Paulo Amado.

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