Saúde

Covid-19: Cloroquina provoca danos em vasos sanguíneos e pode agravar doença

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 04-02-2021

A cloroquina, fármaco usado para tratar doenças como malária, pode agravar a covid-19 ao provocar danos em células endoteliais, presentes em todos os vasos sanguíneos do corpo humano, segundo um estudo hoje divulgado por uma universidade brasileira.

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O estudo foi realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e os resultados foram publicados na revista científica ‘Toxicology and Applied Pharmacology’.

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Ensaios ‘in vitro’ mostraram que a cloroquina “causa disfunção nas células endoteliais, presentes nos vasos sanguíneos, o que prejudica a circulação sanguínea e órgãos como coração e pulmões”, revelou a UFPR.

“A conclusão é de que o efeito colateral agrava uma das principais causas de mortalidade da doença provocada pelo novo coronavírus, anulando potenciais benefícios”, acrescentou.

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No estudo, em que foram usadas quantidades semelhantes às absorvidas pelo corpo humano, a cloroquina induziu ao funcionamento incorreto e até à morte da célula, o que pode afetar a circulação sanguínea, e consequentemente, órgãos como coração, rins e pulmões.

A investigação foi conduzida durante o doutoramento de Paulo Gregório, do programa de pós-graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia da UFPR, sob a orientação dos docentes Andréa Stinghen e Fellype Barreto.

Para chegar a essa comprovação, o investigador trabalhou com linhagens de células endoteliais humanas extraídas de vasos sanguíneos, que foram cultivadas na presença de cloroquina, em concentrações incapazes de causar a sua morte celular, por até 72 horas.

“Observou-se que, durante esse período, a célula induziu significativamente a cumulação de organelas ácidas, aumentou os níveis de radicais livres e diminuiu a produção de óxido nítrico, levando ao stresse oxidativo e dano celular. Este processo, chamado de disfunção endotelial, pode resultar no funcionamento incorreto ou até na morte da célula”, frisou a UFPR em comunicado.

O comportamento das células cultivadas em laboratório é semelhante ao de células endoteliais infetadas pelo vírus SARS-Cov-2. Dessa forma, os investigadores concluíram que a lesão nas células pode contribuir para o fracasso da cloroquina como terapia para o tratamento da covid-19.

Embora haja diminuição da replicação viral ‘in vitro’, o uso da substância apresenta reações adversas: “Se por um lado, a cloroquina pode diminuir a replicação viral, por outro promove uma citotoxicidade que pode potencializar a infeção viral”, sublinhou o autor do estudo.

A cloroquina é utilizada há muitos anos para o tratamento de malária e doenças autoimunes, como a lúpus.

Sobre o uso já consolidado, Paulo Gregório enfatizou que, ao utilizar qualquer medicamento, deve-se pesar os riscos e benefícios, pois não existe medicamento sem efeitos adversos.

Apesar de não haver nenhum comprovação científica de que a covid-19 pode ser tratada precocemente com cloroquina e hidroxicloroquina, desde o início da pandemia que o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tem defendido o uso do fármaco para esse fim e levou os laboratórios do Exército brasileiro a fabricarem milhões de unidades num curto espaço de tempo.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (227.563 , em mais de 9,3 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.269.346 mortos resultantes de mais de 104,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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