Coimbra

Concurso para Mosteiro de Santa Clara-a-Nova pode pôr em causa bienal. Câmara de Coimbra diz que não

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 ano atrás em 28-02-2023

O concurso para o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra, no âmbito do programa Revive, assume a permanência da bienal como fator de majoração e não como condição, mas município garante que a Anozero não será posta em causa.

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O presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, anunciou na segunda-feira que será lançado pela primeira vez o concurso para o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, inscrito na lista do património associado ao Revive desde 2016, monumento que é também o principal palco da bienal de arte contemporânea da cidade, a Anozero.

No anúncio, o autarca eleito pela coligação Juntos Somos Coimbra (PSD, CDS-PP, Nós,Cidadãos!, PPM, Aliança, RIR e Volt) referiu que o concurso prevê uma valorização da pontuação no caderno de encargos “para a melhor compatibilização do Revive com a continuação da utilização do imóvel no âmbito da bienal de arte contemporânea de Coimbra”.

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“A continuidade da presença da bienal de arte contemporânea era, julgávamos nós, a condição a partir da qual se pensaria a reabilitação do mosteiro. O que agora se propõe é a presença da bienal como possibilidade facultativa e não obrigatória, correspondendo a opção pela sua presença a uma majoração das propostas que assim o queiram”, disse hoje à agência Lusa Carlos Antunes, diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), uma das entidades responsáveis pela bienal.

Para o responsável, “a arte contemporânea pode ser um tema muito forte num programa diferenciador para um hotel naquele lugar”.

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“Tenho a profunda convicção de que o bom senso prevalecerá e encontraremos uma solução que sirva os interesses da bienal”, acrescentou Carlos Antunes, recordando que vários artistas internacionais aceitam vir à Anozero “essencialmente pela possibilidade de mostrar o seu trabalho naquele espaço que consideram único”.

Questionado hoje pela Lusa, José Manuel Silva afirmou que “a bienal nunca estará em causa”, nos moldes do atual concurso.

“Os vários promotores com quem falámos todos estão interessados na inclusão da bienal no processo, porque a existência da bienal associada ao futuro hotel de cinco estrelas é uma mais-valia bidirecional”, sustentou.

No entanto, admite que caso nenhuma proposta apresente a permanência da bienal naquele mosteiro estas não poderão ser rejeitadas por essa questão: “Terão de ser aceites”.

Porém, José Manuel Silva tem “a confiança máxima de que não haverá qualquer problema a esse nível [de inclusão da Anozero]”, realçando que a alternativa “seria deixar o mosteiro a continuar a degradar-se, ao ponto de um dia nem poder dar para a bienal” lá se realizar.

“Não é alternativa para nós que o convento se continue a degradar e que esteja desaproveitado relativamente ao potencial que tem para a cidade, mas também em termos turísticos e de hotelaria”, asseverou, salientando que a majoração pela inclusão da bienal “é muito significativa”.

Em novembro de 2018, a Câmara de Coimbra, na altura liderada pelo PS, aprovou (apenas com uma abstenção da CDU) uma proposta de colaboração com o Estado para a requalificação e aproveitamento turístico do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, no âmbito do programa Revive, em que uma parte ficaria afeta à Anozero.

A vereadora socialista Carina Gomes (hoje na oposição, mas que teve a pasta da cultura no anterior mandato) recordou que, mesmo depois dessa decisão, “houve alguns investidores” interessados no mosteiro que abordaram o executivo para abdicar da bienal.

“Nós nunca abdicámos da bienal e, se o processo não avançou, foi porque preferimos bloqueá-lo, garantindo que, quando avançasse, a bienal teria um espaço”, sublinhou, explicando que chegou a ser acordado qual o uso para todos os espaços do interior e exterior do edifício.

Carina Gomes estranha ainda que o presidente do município, que em junho de 2022 defendia a bienal naquele espaço, aceite meio ano depois “uma solução em que a bienal passa a ser facultativa, passa a fazer parte da boa vontade ou falta dela de quem ganhar o concurso”.

“Tenho dito que o presidente tem estado a destruir eventos culturais, mas aqui é muito mais grave. É um evento com uma visibilidade enorme, que é acarinhado, que é estruturante. Do meu ponto de vista, esta postura em aceitar este acordo vai matar a bienal”, afirmou.

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