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Comunidades emigrantes lusófonas são recursos que a CPLP não está a utilizar

Notícias de Coimbra | 10 anos atrás em 05-04-2014

 As comunidades lusófonas emigrantes são recursos que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) não está a utilizar, avisou, em declarações à Lusa, o sociólogo Pedro Góis, vencedor do prémio Fernão Mendes Pinto 2012.

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“A lusofonia são oito países mais as comunidades dos seus cidadãos dispersas pelo mundo. A lusofonia está também em Boston, Paris ou Luxemburgo, onde cidadãos lusófonos partilham parte da sua cultura”, defendeu Pedro Góis, que recebeu este ano o prémio atribuído pela Associação das Universidades de Língua Portuguesa, pela sua tese de doutoramento sobre a construção de uma identidade étnica transnacional de comunidades emigrantes cabo-verdianas.

Segundo o sociólogo, abraçar esta realidade é “importante para a construção da lusofonia”, alertando que estas comunidades “não são manipuláveis pelo poder político ou económico”, participando voluntariamente e “não a tempo inteiro” como agente da lusofonia.

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Contudo, “são recursos mobilizáveis”, que poderiam ser utilizados para “a projeção da Língua ou do potencial económico”, em conjunto com a própria CPLP.

“Não há uma ação conjunta dos países lusófonos, nem ligada à diáspora”, acrescentou.

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Ao apontar para o seu objeto de estudo, Cabo Verde e as suas comunidades emigrantes, Pedro Góis considerou que o país “não é só o arquipélago, mas também as ilhas da diáspora”, salientando que cada indivíduo, “mesmo que seja da terceira geração de descendentes”, transporta consigo “parte da identidade”, que pode ativá-la e torná-la “visível”.

Para além de permanecer “o apegamento a uma realidade identitária”, essas comunidades criam a ligação não apenas pela vida em família, mas também pela ligação ao país a partir das “redes sociais”.

A internet vem possibilitar que os vínculos, quando se perdem, “sejam retomados por outra geração”, referiu o investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) de Coimbra.

Neste processo, cria-se uma “identidade étnica transnacional”, em que se pode congelar “uma identidade do passado”, aclarou, exemplificando que, por vezes, a música cabo-verdiana ouvida fora do país já “não é ouvida” dentro de Cabo Verde.

“É uma identidade que não é nacional, está afastada das raízes e que por vezes se concretiza com a música, a participação política ou a alimentação”, afirmou.

O sociólogo sublinhou que, no caso de Cabo Verde, a identidade criada fora do país acaba por contribuir para a própria identidade do arquipélago.

A diáspora acaba por ser “uma base de recrutamento de cultura, de desporto, ou até de política”, disse, recordando o caso de Mayra Andrade, artista que não nasceu em Cabo Verde, ou da seleção de basquetebol cabo-verdiana que “é constituída, na sua maioria, por terceiras gerações de cabo-verdianos nos Estados Unidos da América”.

“Os cabo-verdianos criam uma etnicidade identitária, com base na crença de uma origem comum. Podem não ouvir música cabo-verdiana, podem não falar crioulo, mas sentem-se ligados com o país”, finalizou.

A Associação das Universidades de Língua Portuguesa atribuiu também este ano, a Odair Varela, o Prémio Fernão Mendes Pinto de 2013 pela sua tese de doutoramento, também realizada no CES, intitulada “Mestiçagem Jurídica? O Estado e a Participação Local na Justiça em Cabo Verde: uma análise pós-colonial”.

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