Coimbra
Comerciantes e moradores (novos e velhos) contaram pedaços da sua vida no Largo do Romal em Coimbra

O Núcleo de Imaginação da Baixa (NIB) assentou arraiais no Largo do Romal, em Coimbra, neste verão, com uma programação que procura alimentar um diálogo com quem habita e vive naquela zona da cidade, a partir da arte.
O NIB, uma curadoria da Associação Há Baixa para o programa Verão a 2 Tempos da Câmara de Coimbra, começou em julho e estende-se até setembro, com apresentações todas as quartas-feiras, às 18:30, no Largo do Romal, em plena Baixinha, numa programação que junta artistas e comunidade.
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O projeto arrancou com uma performance que também foi momento de encontro, intitulada “Chautari”, de Matilde Real, que se repete no final do ciclo, a 17 de setembro, dando nota da intenção do NIB – criar redes, numa Baixa diversa e que vai mudando -, explicou à agência Lusa a presidente da Há Baixa, Catarina Pires.
No Largo, já houve momentos em que, a partir de objetos, comerciantes e moradores – novos e velhos – contaram pedaços da sua vida e da sua relação com aquela zona, um concerto do coro BaixaVoz com Mariana Camacho, ou uma instalação feita por Ana Rita Albuquerque e o Saco da Baixa (BaixaVoz e Saco da Baixa são duas iniciativas criadas no seio da associação).
A escolha do Largo do Romal como palco do NIB deve-se à ideia de “uma intervenção mais localizada e intensiva”, naquele que foi também a espécie de berço do Há Baixa, em 2016, e que é também retrato de alguns dos problemas que marcam hoje aquela zona da cidade, disse a presidente da Há Baixa.
“Achámos que era uma oportunidade para aprofundar esta relação com quem está na Baixa e com os problemas sociais que contactamos todos os dias”, salientou.
No Largo do Romal, o NIB imagina como é que a Baixa pode ser transformada, perante uma realidade “feita de muitas camadas” e de uma intervenção que, no caso do núcleo, é quase na escala de “um para um”.
Essa escala, mesmo que tenha um âmbito de intervenção mínimo, “tem valor”, notou Catarina Pires, dando nota de diálogos e relações com pessoas que de outra forma não teriam rosto ou voz.
“É nesta abordagem de todas as pessoas como pessoas e não como problemas que nós quisemos aproximar-nos delas”, vincou.
Para a responsável do NIB, isso provoca mudanças tão simples, como a exigência de um Largo do Romal limpo e cuidado.
“Há também uma postura de exigência cidadã”, acrescentou.
Ao mesmo tempo, o NIB dá conta de algumas transformações da Baixa, que “está e não está diferente”.
“Continua com os mesmos problemas estruturais. É o cuidado com o espaço público, é a habitação degradada, é o comércio muito debilitado e é uma diferença abissal entre a rua Visconde da Luz e a Baixinha. Depois da Praça do Comércio, parece a passagem para outro universo”, notou.
Apesar disso, a Baixa deixou de ser habitada apenas por pessoas mais velhas, com imigrantes e as suas famílias que agora ali se vão estabelecendo, atraídos por habitações mais baratas, mas também com menos condições, referiu.
É com base nessas transformações que o NIB quer ajudar a criar redes e um sentido de comunidade.
Catarina Pires vinca que a iniciativa não pretende “que as pessoas venham para participar num projetozinho e depois acabou-se” e, apesar da vertente social, há um cuidado na qualidade artística dos projetos apresentados.
“Não é só o processo. O resultado também é importante”, salientou.
Até setembro, haverá outras propostas, como uma visita guiada para mostrar a cidade a partir do que está escrito nas paredes e um guia afetivo da Baixa pelo olhar das crianças que nela habitam, entre outros.
Em cada ação, conta Catarina, procura-se criar “um sentido de comunidade”, consciente de que a arte não tem mecanismos para resolver problemas estruturais, mas que pode imaginar caminhos e diálogos.
“O objetivo é transformar o Largo num espaço de estar”, diz Catarina Pires, que vê nos próprios tapetes que são lá postos todas as quartas-feiras um sinal das “tais redes maravilhosas” que se procuram criar – uns são emprestados, outros oferecidos.
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