Coimbra

Começaram obras na Rua dos Mártires da Tragédia do Mondego. Conheça a história que ceifou 4 vidas (com vídeos)

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 22-02-2022

A Câmara Municipal de Coimbra deu início esta segunda-feira ao alargamento do pontão na Rua dos Mártires da Tragédia do Mondego, na localidade de Pé de Cão. O Notícias de Coimbra foi conhecer a dramática história que ceifou quatro vidas e dá nome a este arruamento.

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As obras, que têm a duração prevista de dois meses e integram uma empreitada mais ampla que contempla a reposição da segurança rodoviária e pedonal em infraestruturas municipais, taludes e muros nos quais foram identificados danos em 10 zonas do concelho, foram o pretexto para o Notícias de Coimbra ouvir alguns testemunhos sobre aquela que foi uma das mais terríveis histórias ligadas ao Mondego.

Era o último dia do ano de 1978 quando um grupo de cinco amigos, jovens caçadores, atravessou uma das antigas pontes de madeira que noutros tempos aproximavam as margens do Mondego. O caudal estava alto e os homens caíram ao rio tendo sido arrastados pela corrente. Só um sobreviveu. Ainda é vivo mas não fala sobre o assunto. Nunca falou e as famílias das vítimas elogiam este voto de silêncio.

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“Era miúdo estava a brincar na rua e veio gente a pedir socorro”, recorda Alcides Lopes, presidente da direção do Centro Social de São João. “Os corpos não apareceram logo naquele dia, foram dias de angústia até que foram encontrados”, lembra.

A ponte era “de madeira, presa em espias de aço”, virou “e foram todos para o rio, só um é que se salvou”, relata o responsável que é amigo do sobrevivente. “Habituámo-nos a conviver com ele sem falar nesta história, ele não fala, devido ao trauma, certamente”.

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“É um trauma que não se pode imaginar. Ver os colegas perecerem de forma tão dramática”, reforça Amável Batista. Tinha 38 anos em 1978, hoje leva 82. “Lembro-me que por volta da hora do almoço fomos alertados. Ainda andaram a tentar indagar se encontravam alguém pelas margens. Isto causou muita dor para toda a gente”, garante, lembrando que teve até que receber assistência médica “quando a tragédia se confirmou”. “Foram amigos que partiram. Éramos todos vizinhos”, sublinha.

“Foi de facto uma tragédia que mexeu com toda a gente. Eram pessoas que nós conhecíamos bem e estavam na flor da idade”, lamenta Carlos Jorge, à época também ele um jovem de 19 anos. “As pessoas mobilizaram-se, vieram os bombeiros, o sobrevivente estava agarrado à ponte que ia abaixo e acima com o bater da água até que o conseguiram tirar com vida”, relata. 

Além do nome de uma rua, a desgraça ficou imortalizada num memorial erigido em 2013 pelo Centro Social de São João, a ARCA e a União de Freguesias de São Martinho do Bispo e Ribeira de Frades, próximo do local onde tudo aconteceu, em homenagem a José dos Reis Romeiro Coelho, António Alberto Neves Lemos, António Gomes Correia e Álvaro Salgado Vilão. No monumento, onde estão representadas a ponte, a água do rio e as pedras do leito, já só se leem os nomes de Álvaro Vilão e António Lemos, as letras dos restantes foram do local, numa atitude de vandalismo. Ainda assim nunca faltam velas e flores no local.

O fatídico dia 31 de dezembro de 1978 nunca foi esquecido. Há quem diga que a causa foi “a irreverência da idade”, um “gesto de brincadeira ou de inconsciência”. Só os envolvidos poderiam contar o que realmente aconteceu. Mas o Mondego calou quatro e o quinto, sobrevivente, silenciou-se em respeito à memória dos companheiros. 

 

Veja o direto NDC com Alcides Lemos:

Veja o direto NDC com Carlos Jorge:

Veja o direto NDC com Amável Batista:

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