Um coletivo de cidadãos de Coimbra anunciou hoje que vai interpor uma providência cautelar para impedir a destruição de árvores na rua Lourenço de Almeida Azevedo e avenida Sá da Bandeira, por causa das obras do Metro Mondego.
“Esta é, mais uma vez, uma solução desesperada, porque nós estamos a ver, de dia para dia, as obras a progredirem sem os cuidados necessários para que as árvores não morram todas por estarem a ser colocadas sob stress, com máquinas pesadas a cortarem as raízes, fazendo com que todas sofram”, evidenciou Sandra Carvalho, do coletivo de cidadãos informal que contesta “o massacre arbóreo em curso”.
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Em frente ao Jardim da Sereia, em Coimbra, a poucos metros de uma faixa onde se lê “As árvores nem sempre morrem de pé. Em Coimbra elas são abalroadas pelo Metro Mondego”, Sandra Carvalho informou que a providência cautelar será interposta “logo que esteja pronta”.
Em causa está o abate de 11 árvores, nove delas por estarem doentes e outras duas por causa das obras do Sistema de Mobilidade do Mondego, num total de cerca de uma centena “a sofrer por causa das obras”.
“Estamos a passar toda a informação técnica que conseguimos ao advogado. Não sei quais são os prazos, mas gostaríamos que fosse [interposta a providência cautelar] o quanto antes”, acrescentou.
O valor patrimonial do arvoredo público, defendeu, tem de ser respeitado.
“As obras deviam estar a ser feitas com outro cuidado, outro tipo de recursos técnicos. Estão a ser feitas com escavadoras enormes, que contribuem com peso para compactar o solo onde as árvores estão enraizadas, como também decepam raízes”, apontou.
Aos jornalistas, Sandra Carvalho vincou que o coletivo de cidadãos não está contra as obras do Sistema de Mobilidade do Mondego, tendo por isso feito chegar um conjunto de propostas à Câmara de Coimbra, no qual sugeriam que as árvores doentes fossem tratadas e recuperadas.
“A proposta que nós fizemos foi para não se fazer uma intervenção radical e dar hipótese às árvores de recuperarem, porque, desde o primeiro relatório fitossanitário em 2013 até ao de 2021, houve recuperação por parte das árvores sem nenhuma intervenção que as ajudasse. Imaginem onde poderíamos chegar se houvesse realmente uma intervenção que as ajudasse a recuperar”, sustentou.
A resposta da Câmara de Coimbra “chegou esta manhã”, com a provedora do munícipe a fazer chegar um email da vereadora Ana Bastos ao coletivo de cidadãos, a dar conta que foram feitas medições entre os troncos das árvores, tendo sido verificado que, apesar de variáveis, “os valores estão muito longe dos 17 metros”.
“A agravar a dimensão, cota e abrangência das estruturas radiculares das árvores, particularmente as de maior porte, dificultam a definição de soluções equilibradas. Para além das grandes e profundas valas para substituição das condutas de saneamento, também os ramais de ligação às edificações contribuem para gerar stress nas árvores, na medida em que são abertas valas ao longo do arruamento e na sua transversal”, referiu.
No documento lê-se ainda que, por muito que a Câmara Municipal de Coimbra lamente, “alguma função tem de ser sacrificada naquela avenida”.
Segundo o coletivo de cidadãos, “já que está tudo tão estrangulado”, poderia optar-se pela criação de uma via dedicada única.
“Em vez de serem as duas vias com subida e descida, ter uma via alternada, já que estão previstos semáforos. Esta é uma solução sem impacto no projeto, um detalhe que pode ser tratado: uma solução de compatibilização”, concluiu.
Inicialmente, o projeto para o Sistema de Mobilidade do Mondego previa o abate de 43 árvores, mas, em março de 2023, uma proposta de reversão de abates foi aprovada por unanimidade, cuja decisão foi inclusivamente saudada e louvada pelo PS e CDU.
A Câmara de Coimbra, liderada pela coligação Juntos Somos Coimbra (PSD/CDS-PP/NC/PPM/A/RIR/VP), decidiu manter apenas “o abate por imperativos fitossanitários ou por incompatibilidade com o traçado do ‘metrobus’”.
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