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Colapso de comunicações em Gaza impede apurar número real de mortos

Notícias de Coimbra com Lusa | 5 meses atrás em 17-11-2023

O número real de vítimas em Gaza é “provavelmente muito superior” aos 11 mil mortos anunciados, uma vez que a atualização dos dados esteve parada por cinco dias devido ao colapso das comunicações no enclave, segundo a ONU.

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Num ‘briefing’ na Assembleia Geral da ONU sobre a situação humanitária na Faixa de Gaza, Martin Griffiths, o subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, afirmou que, além do colapso da rede de comunicações – devido à falta de combustível -, a contabilização real do número de vítimas é dificultada pela demora em descobrir corpos debaixo dos destroços.

“Mais de 41.000 unidades habitacionais foram destruídas ou gravemente danificadas – o que representa cerca de 45% do parque habitacional em Gaza”, disse, em referência aos danos causados pelos ataques das tropas israelitas, em guerra com o movimento Hamas.

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Há poucos ou nenhuns cuidados médicos disponíveis no norte de Gaza, afirmou Martin Griffiths, apontando que dos 24 hospitais com capacidade de internamento no norte do enclave, apenas um – o Al Ahli – está atualmente operacional e a admitir pacientes.

Dezoito hospitais foram fechados e evacuados desde o início das hostilidades e outros cinco – incluindo o Al Shifa, privado de eletricidade três dias após a entrada das forças israelitas -, prestam serviços extremamente limitados a pacientes que já foram internados.

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“Estes hospitais não são acessíveis de forma fiável devido à insegurança, não têm eletricidade ou materiais essenciais e não admitem novos pacientes”, declarou o líder humanitário, que participou na sessão da Assembleia Geral de forma virtual.

“É, sem dúvida, uma crise humanitária que, em qualquer medida, é intolerável e não pode continuar. Em muitos aspetos, o direito humanitário internacional parece ter sido virado de cabeça para baixo”, acrescentou.

Por mais terrível que seja a situação em Gaza, “poderá piorar muito”, avaliou o subscretário-geral, admitindo verdadeiras preocupações de que, se não forem adotadas medidas imediatas, este conflito possa ramificar-se ainda mais para outras partes do Território Palestiniano Ocupado e arrastar a região “para uma conflagração com consequências ainda mais catastróficas”.

Griffiths recordou ainda os cerca de 240 reféns detidos pelo grupo islamita Hamas, “desde bebés a octogenários”, que enfrentam mais de 40 dias de cativeiro.

“Eles devem ser liberados imediatamente e sem condições. Entretanto, devem ser tratados com humanidade e poder receber visitas do Comité Internacional da Cruz Vermelha”, apelou.

Também o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, participou na sessão, considerando “lamentável” e “patética” a quantidade de ajuda permitida até agora em Gaza, defendendo a necessidade de se reabastecer rapidamente os hospitais, reconstituir a força de trabalho da saúde e garantir que os serviços de saúde estão protegidos.

Até agora, a OMS verificou 152 ataques aos cuidados de saúde em Gaza, 170 na Cisjordânia e 33 em Israel, que incluem ataques a hospitais, clínicas, ambulâncias, profissionais de saúde e a pacientes.

Referindo-se particularmente ao hospital Al Shifa, Tedros Adhanom sublinhou que, “mesmo que o Hamas tenha utilizado o hospital para fins militares, o hospital, e na verdade todas as instalações de cuidados de saúde, nunca ficam desprovidos de proteção ao abrigo do direito humanitário”.

“A escala da resposta de Israel [ao ataque de 07 de outubro do hamas] parece cada vez mais injustificável. A OMS, tal como o resto do sistema da ONU, é imparcial. Não estamos de um lado ou de outro. Estamos do lado da humanidade”, observou.

O líder da OMS aproveitou ainda a sessão da Assembleia Geral para questionar o futuro da própria ONU, avaliando que esta crise é um “teste decisivo” para as Nações Unidas e para os seus Estados-Membros.

“Estamos a testemunhar a destruição de vidas e propriedades numa escala terrível. Mas também estamos a testemunhar a destruição da civilidade, do sistema baseado em regras e da confiança entre os países”, advogou.

“Se vocês, como Estados-Membros das Nações Unidas, não querem ou não podem parar este derramamento de sangue, então devemos perguntar: para que servem as Nações Unidas?”, questionou o diretor-geral da OMS, apelando ao fim deste conflito.

O ‘briefing’ de hoje foi solicitado pela Líbia e pela Mauritânia, nas respetivas qualidades de presidente do Grupo Árabe e de presidente do Grupo da Organização de Cooperação Islâmica.

Participaram representantes de várias agências da ONU, como o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP), agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, entre outros, que repetiram os apelos por um cessar-fogo imediato.

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