Opinião

Coimbra, um património de todos

LÚCIA SANTOS | 11 anos atrás em 30-06-2013

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LÚCIA SANTOS

Após uma sinuosa caminhada que vinha a ser feita há já longos anos, a candidatura da Universidade de Coimbra a património mundial da UNESCO foi finalmente aceite.

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Se para o país é um motivo de satisfação e orgulho nacional mais que evidente, por todas as razões naturais que me vou agora abster de enumerar, para os conimbricenses esta distinção ganha outra dimensão.

O vasto património cultural material e imaterial da Universidade de Coimbra é sobejamente conhecido por todos, mas só quem vive esta cidade ou por cá passou o pode sentir na sua plenitude.

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Não se limita na antiguidade e beleza de um conjunto de edifícios, nem no seu papel na divulgação da ciência e da língua portuguesa no mundo, vai muito para além disso. Trata-se da canção de Coimbra, das repúblicas e de todas as tradições académicas herdadas e transmitidas geração após geração até aos dias de hoje e que não se restringem somente aos estudantes, mas que envolvem toda a cidade, moldando-a às suas vivências e ao seu ritmo.

A universidade de Coimbra é por todas estas razões um bem inestimável e a tão almejada classificação foi apenas um justo e merecido reconhecimento dessa mesma grandeza.

Mas como com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades, alcançada esta vitória, o verdadeiro desafio começa agora, com o fim do percurso que até aqui vinha sendo feito e o traçar de uma nova rota, que só pode ter como único objectivo o fazer a cada dia mais e melhor.

É preciso fazer com que a confiança da UNESCO na capacidade da universidade, da cidade e do país para preservar este valor não saia gorada, que se invista numa cada vez maior valorização e potencialização deste precioso recurso e que os benefícios que esta decisão pode e deve trazer para a economia e o turismo de Coimbra sejam devidamente aproveitados.

Igualmente importante é não perder esta oportunidade para dar novo impulso à reabilitação urbana da cidade de Coimbra, elemento essencial às estratégias de desenvolvimento integrado das cidades e às políticas de habitação, uma vez que reúne objetivos de revitalização dos territórios e de requalificação do parque habitacional.

De esperar também que partidos políticos que ainda não perceberam que houve um 25 de Novembro deixem de considerar propriedade sua aquilo que a todos pertence.

Já passaram mais de dois anos, mas ainda tenho bem presente na memória o que foi feito às Escadas Monumentais. É certo que são um importante símbolo estudantil, palco de enumeras e diferentes lutas, e que haviam já sido muitas outras vezes pintadas, não só pelos estudantes, como também por partidos políticos, mas nunca desta forma, especialmente num momento em que se encontravam inseridas na candidatura da Universidade de Coimbra a património mundial da humanidade.

Esta utilização de locais públicos como meio de propaganda, que tanto caracteriza as formas de manifestação política de alguns, para mim não passam de actos de vandalismo e atentados ao património cultural, transmitindo um estranho entendimento sobre o que é a liberdade de expressão e, principalmente, sobre a forma de a usar.

O que seria de Coimbra se todos agora se lembrassem de divulgar as suas ideias políticas através destes chamados meios gratuitos de publicitação, como ficaria esta bela cidade e a sua universidade?

Se foi nas Escadas Monumentais o que impede que um dia seja na Via Latina? Ou na Biblioteca Joanina? Qual é o critério do PCP? Qual é o seu limite?

Provavelmente agora têm menos tempo, com tantos militantes empenhados em apupar os nossos governantes a cada deslocação destes, e talvez isso seja a nossa sorte.

Estranho é verificar que consideram legitimo o direito à manifestação e à contestação por parte da população descontente, uma vez que quando os estudantes de Coimbra, indignados com as pinturas, se expressaram contra as mesmas durante o discurso de Jerónimo de Sousa, as palavras do Secretário-Geral dos comunistas foram: “O PCP conheceu ao longo da história o silenciamento, a provocação, a proibição. Aqueles que o fizeram e que transportam até hoje esse anátema que marcou a nossa história, é importante que saibam que não nos calarão”. Parece que acções de protesto sim, mas exclusivamente feitas por eles.

Não deixa de ser curioso observar a dualidade de critérios neste campo, que a liberdade de expressão tem duas caras. Pois eu também lhe digo camarada, a nós também não nos calarão! Este património é de Coimbra, é de Portugal, é do mundo, é do povo!

LÚCIA SANTOS

Presidente da Juventude Popular de Coimbra

Escreve no Notícias de Coimbra ao domingo

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