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Cientistas ‘enterrados’ na lama para proteger sapais do estuário do Mondego

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 12-12-2021

Um projeto científico de proteção e conservação dos sapais do estuário do Mondego, na Figueira da Foz, obriga, literalmente, a que investigadores das universidades de Coimbra e de Lisboa se enterrem na lama negra da margem do rio.

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O projeto de investigação ReSEt (Restauro de sapais estuarinos com vista à sustentabilidade) saiu dos laboratórios universitários para o terreno em 2019 e, recentemente, deu origem a um ‘bootcamp’ (campo de trabalho ao ar livre), reunindo, para além dos cientistas, alunos de mestrado e doutoramento da área de ecologia das duas universidades e que a agência Lusa acompanhou.

“Quando há crianças na lama, estão a brincar. Quando há adultos, são cientistas a trabalhar”, resumiu, com uma gargalhada, Skyler Suhrer, aluna norte-americana do Mestrado Internacional em Ecologia Aplicada, cujo plano de curso se divide entre as Universidades de Coimbra (UC) e de Kiel, no norte da Alemanha.

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Enquanto troca impressões com Tiago Verdelhos, coordenador do ReSEt, a norte-americana, de quase 30 anos – nascida na Califórnia e residente em Seattle, na costa noroeste dos EUA, junto à fronteira canadiana – não deixa esconder o entusiasmo por ter escolhido o curso que a trouxe, uma manhã, para a margem direita do Mondego “à chuva e na lama”.

“Como dizia um antigo colega meu, um dia bom no escritório ainda não é melhor do que um dia menos bom no campo”, asseverou Skyler Suhrer, destacando que embora os estudantes de mestrado e doutoramento não soubessem “muito bem o que esperar” quando foram desafiados a integrar o ‘bootcamp’, a possibilidade de participarem ativamente na experiência científica “faz toda a diferença”.

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Carlos Gonçalves, aluno de doutoramento em Biologia e Ecologia das Alterações Globais na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é da Figueira da Foz e tem já alguma experiência sobre o estuário do Mondego, depois de ter estagiado no MAREFOZ – o laboratório do programa MARE da Universidade de Coimbra, instalado na margem sul do rio há pouco mais de cinco anos – onde também foi o primeiro bolseiro de investigação do ReSEt.

“O meu trabalho no doutoramento é dar continuidade a este projeto”, explicou Carlos Gonçalves, adiantando que a investigação que decorre em quatro células experimentais construídas com técnicas de ecoengenharia – uma paliçada de madeira, uma tela de geotêxtil, sacos de geotêxtil com areia e uma zona de transplante de plantas autóctones – na margem do Mondego, junto à localidade de Vila Verde, “é desafiante”.

“Nós já estamos habituados, mas é sempre um desafio. É isto que torna interessante o trabalho. Não estar sempre no escritório, de vez em quando sair e estar na lama, mesmo”, afirmou.

O estudante de doutoramento notou, por outro lado, que a UC (onde concluiu a licenciatura em Biologia e o mestrado em Ecologia) “já estuda o estuário do Mondego há décadas” e, desse modo, os alunos universitários de Coimbra “têm algum conhecimento, não só da dinâmica do estuário, das comunidades de fauna e flora, mas também do hidrodinamismo e de todo um conjunto de aspetos que são cada vez mais importantes de perceber devido às alterações climáticas”.

À agência Lusa, Tiago Verdelhos, coordenador do ReSEt e investigador do MAREFOZ, destacou as “vantagens” de ter alunos de mestrado “de áreas um pouco diferentes” dentro da ecologia a efetuar trabalho de campo no âmbito do projeto de investigação.

“Penso que nenhum deles tinha feito este tipo de trabalho, estar aqui neste contexto. Aquilo que pretendemos com este ‘bootcamp’ foi trazer à nossa realidade os alunos interessados e pô-los a fazer o trabalho do projeto. Não estamos só a ensiná-los, não estamos só a mostrar-lhes a nossa realidade, estão a colaborar connosco”, disse Tiago Verdelhos.

Nos dois dias que durou o ‘bootcamp’, os alunos participaram em campanhas de amostragem e recolha de dados, tendo previamente recebido alguma formação teórica sobre o ReSEt.

“No fundo, o que queríamos era esta parte prática, o contacto real destes alunos com o nosso trabalho no terreno”, afiançou.

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