Uma equipa internacional de investigadores desenvolveu um ecrã de papel eletrónico tão minúsculo que pode ser colocado diretamente sobre a retina do olho, com uma resolução impressionante de 25 mil pixels por polegada — equivalente à capacidade máxima de percepção visual humana.
Imagine observar imagens coloridas realistas num dispositivo tão fino como uma folha de papel, mesmo sob luz solar intensa, com a mesma qualidade de um smartphone ou televisão moderna. Esse cenário de ficção científica está prestes a tornar-se realidade graças a cientistas da Universidade de Uppsala e da Universidade de Tecnologia de Chalmers, na Suécia.
O chamado papel eletrónico retinal (E-paper retinal) foi detalhado num artigo publicado na revista Nature. Segundo os investigadores, trata-se do ecrã com os pixels mais pequenos alguma vez produzidos, superando desafios que há anos travavam a miniaturização de dispositivos para realidade virtual, aumentada e wearables.
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“A tecnologia que desenvolvemos pode proporcionar novas formas de interagir com a informação e o mundo que nos rodeia”, afirma Kunli Xiong, da Universidade de Uppsala. “Pode expandir as possibilidades criativas, melhorar a colaboração remota e até acelerar a investigação científica.”
O ecrã não depende de microLEDs tradicionais, que deixam de funcionar corretamente quando são demasiado pequenos. Em vez disso, utiliza metapixels, nanopartículas de óxido de tungsténio que refletem a luz de maneira diferente consoante a sua disposição e tamanho, manipuláveis por corrente elétrica. O princípio é semelhante aos pigmentos da plumagem das aves, que mudam de cor consoante a incidência da luz.
O dispositivo é passivo e não necessita de retroiluminação, eliminando problemas comuns em ecrãs convencionais, como “color bleeding” e falta de uniformidade quando os pixels são muito pequenos.
“Cada pixel corresponde a um fotorrecetor no olho, ou seja, às células nervosas da retina. Os humanos não conseguem perceber uma resolução superior a esta”, explica Andreas Dahlin, da Universidade de Chalmers.
Para demonstrar a tecnologia, os investigadores reproduziram a obra O Beijo, de Gustav Klimt, numa superfície de apenas 1,4 x 1,9 milímetros — uma fracção minúscula do tamanho de um smartphone, com resolução perfeita.
Segundo os autores, a invenção promete revolucionar a forma como interagimos com dispositivos eletrónicos. Pode abrir caminho a óculos de realidade virtual indistinguíveis da realidade física, wearables quase invisíveis e até dispositivos médicos implantáveis que projetem informação vital diretamente no campo visual do utilizador.
“É um grande avanço no desenvolvimento de ecrãs que se podem miniaturizar enquanto melhoram a qualidade e reduzem o consumo energético”, acrescenta Giovanni Volpe, da Universidade de Gotemburgo.
Os investigadores concluem que esta tecnologia permite criar mundos digitais visualmente indistinguíveis da realidade, marcando um passo importante na convergência entre visão humana e dispositivos eletrónicos de última geração.
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