CES estuda os uso contemporâneo de património de origem colonial

Investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra vão participar num novo projeto europeu que estuda os usos contemporâneos dos patrimónios de origem colonial, informou hoje a instituição.
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O projeto “European Colonial Heritage Modalities in Entangled Cities” (ECHOES) junta várias universidades da Europa, Brasil, China e África do Sul e tem como base o dilema da história dos impérios coloniais se constituir “com base num passado comum que permanece até hoje silenciado nas narrativas oficiais do património”.
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A iniciativa, com um financiamento global de 2,5 milhões de euros, procura confrontar “diferentes visões de passados comuns e trazer o outro para o centro do debate”, adotando uma perspetiva “pós-colonial, conectando cidades europeias e não europeias, analisando práticas patrimoniais e culturais, iniciativas museológicas, explorando desafios e compromissos atuais desse legado”, explica o Centro de Estudos Sociais (CES), em nota enviada à agência Lusa.
Para um dos coordenadores do projeto em Portugal, Paulo Peixoto, o projeto “visa olhar para o património europeu de origem colonial de modo a tentar saber como é que esse património pode ser um agente promotor de políticas de multiculturalidade”.
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No caso português, será estudada a relação entre as cidades de Lisboa e Rio de Janeiro, como um caso de práticas patrimoniais que espelham um passado partilhado.
No entanto, as relações coloniais não se centram apenas entre países europeus e africanos ou americanos, mas também em relações coloniais dentro da própria Europa, como é o caso da Polónia, explicou.
“Queremos chamar um pouco a atenção das agendas europeias para as relações históricas de diferentes colonialismos. Há muita necessidade de fazer este apelo a um passado comum e partilhado e que chama a atenção para a questão da multiculturalidade na Europa”, numa altura onde surgem “discursos xenófobos” em vários pontos do continente, explanou.
Segundo o investigador do CES, é necessário “promover, no seio da União Europeia, um discurso pós-colonial”.
“Não é uma exaltação do passado colonial, não é dizer que esses tempos foram bons, mas promover projetos de investigação e políticas culturais que mostrem que a multiculturalidade é promotora de relações sociais positivas e não apenas de discursos de ódio”, realçou.
De acordo com Paulo Peixoto, é importante perceber “como é que a Europa se relaciona com esse passado comum e como é que os próprios países que foram ou são colonizados lidam hoje com a presença desse passado colonial”.
“Os europeus sempre tiveram dificuldade em perceber o outro, porque o colonialismo sempre foi feito numa relação de poder, em que quem tem poder tem dificuldade que os outros tenham reações negativas”, notou, considerando que o projeto também poderá ajudar a colocar o europeu “na pele do outro”.
O projeto arranca em fevereiro de 2018 e vai ser desenvolvido ao longo de três anos, contando o CES com 400 mil euros dos 2,5 milhões do financiamento global do ECHOES.
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