Um menino de quatro anos, é uma das 85 crianças que trataram um tumor maligno no Centro de Referência em Onco-Oftalmologia de Coimbra, ao longo dos 10 anos de existência do serviço.
Criado em 2015, o Centro de Referência de Onco-Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), o único em Portugal nesta área, também atendeu ao longo desta década de existência mais de 300 adultos, disse hoje o coordenador, Guilherme Castela.
Nos mais novos, o tumor mais comum é o retinoblastoma, que em países desenvolvidos afeta crianças por razões hereditárias em 50% dos casos, sendo a outra metade das situações esporádicas.
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Clément Canton, que perdeu um olho quando era criança devido ao tumor maligno, contou hoje aos jornalistas o processo de monitorização a que os seus dois filhos foram submetidos, para a identificação precoce da doença, caso a mesma se manifestasse.
O seu primogénito, o pequeno rapaz de quatro anos que está a ser monitorado em Coimbra, foi diagnosticado com o retinoblastoma com apenas quatro meses de idade.
“Quando nasceu o meu primeiro filho, disseram logo que nós tínhamos de ir para Paris todos os meses. Era um protocolo muito pesado para nós, que morávamos em Toulouse”, relembrou.
Com cinco horas de comboio para chegarem a capital francesa, a solução encontrada foi atravessar fronteiras até Portugal, onde vivem há quatro anos, contou Clément Canton, casado com uma viseense.
Agora, o irmão mais velho é acompanhado pelo mais novo membro da família, de apenas três meses, para as observações mensais no Centro de Referência de Onco-Oftalmologia do CHUC.
Apesar de terem chegado ao país com receio, a mudança foi “uma surpresa muito agradável”, apontou o pai, de 36 anos, referindo que “os cuidados [do centro de referência] são muito bons, possui profissionais com muita competência e muita humanidade”.
De acordo com Guilherme Castela, cerca de seis novos casos de retinoblastoma são registados por ano em Portugal, enquanto em adultos, cujo tumor mais comum é o melanoma ocular, esteja a volta dos 40 diagnósticos anuais.
Quanto mais cedo for identificado o tumor, explicou, mais fácil será tratá-lo e garantir que o olho e a visão sejam preservados.
A condição, que pode matar, pode ser facilmente identificada, através de um reflexo branco na pupila, notado por exemplo quando se direciona luz para o olho da criança, num ambiente não muito claro, ou numa fotografia tirada com ‘flash’ e sem a câmara estar configurada com a remoção automática do olho vermelho.
De acordo com o responsável, atualmente não existem filas de espera para retirar estes tumores no Centro de Referência de Onco-Oftalmologia do CHUC, até pela necessidade de tratamento rápido que a enfermidade exige.
“Este é um tumor muito agressivo”, que precisa de ser rapidamente tratado, revelou.
Informando de que o serviço “está ao nível de outros países europeus”, indicou que o mesmo permite aos utentes serem atendidos em Portugal, sem necessidade de deslocarem-se ao estrangeiro, como acontecia antes de 2015.
Segundo o coordenador, o Centro de Referência de Onco-Oftalmologia do CHUC atende também pacientes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), tendo alguns desses utentes sido os únicos que falecerem da doença nos 10 anos de existência do serviço.
Guilherme Castela adiantou ainda que a presença do gene, que condiciona a probabilidade de ter o tumor, pode ser descoberta logo no período pré-natal da gravidez, através de exame de sangue.
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