O Centro Cultural Judaico Rua da Judiaria, em Lisboa, tem sido alvo de atos semanais de vandalismo e mensagens de ódio desde o início da guerra no Médio Oriente, em 2023, disse à Lusa o fundador da associação.
Nas paredes exteriores do centro surgem todas as semanas autocolantes e mensagens escritas sobre o boicote a Israel e contra os israelitas, contou Luciano Waldeman, exemplificando com “Vocês não são bem-vindos a Portugal” ou “Morte a Israel”.
“As pessoas não estão a conseguir separar as coisas”, lamentou, destacando que o centro tem sido alvo de agressões antissemitas.
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Na segunda-feira estavam escritas nas paredes do centro cultural judaico mensagens como “Free Gaza”, mas também declarações de ódio aos judeus como “assassinos de crianças”.
O fundador do centro Rua da Judiaria relatou ainda que a cada duas semanas aparece alguém que tenta arrancar da parede a Estrela de Davi, um símbolo judaico em forma de estrela de seis pontas.
Luciano Waldman disse que já teve conflitos com pessoas do grupo Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), um movimento liderado por palestinianos que defende o fim da ocupação israelita em Gaza e da colonização dos territórios palestinianos.
“Eu disse ao homem: Olhe, respeito as suas opiniões, mas os adesivos não. Simplesmente o homem quis agredir-me, gritava como um louco a dizer ‘és sionista, sionistas como tu têm que morrer, pessoas como tu merecem a morte’ e assim por diante”, disse.
Contactado pela Lusa, o BDS negou as acusações e declarou não ter conhecimento dos conflitos, sublinhando que não tolera atos discriminatórios.
“Em conformidade com a definição de discriminação racial da ONU, o movimento BDS não tolera qualquer ato ou discurso que adote ou promova, entre outros, o racismo anti-negro, o racismo anti-árabe, a islamofobia, o antissemitismo, o sexismo, a xenofobia ou a homofobia”, indicou a organização.
O movimento disse ainda que rejeita a comparação de críticas ao estado de Israel com antissemitismo.
“Repudiamos qualquer tentativa, desonesta e perigosa, de equiparar e fazer equivaler a antissemitismo àquilo que são críticas ao Estado de Israel e ao sionismo”, indicou o BDS.
Luciano Waldman disse que já recebeu insultos racistas na Rua da Judiaria, exemplificando: “Volta para a tua terra, o homem do bigodinho tinha razão”.
“Há uma explosão de antissemitismo” em Lisboa, lamentou o dirigente, lembrando que os judeus e israelitas que vivem em Portugal não são responsáveis pelo conflito em Gaza.
“Nós não somos os soldados e nós não somos o governo de Israel que está a tomar decisões sobre a guerra” referiu o responsável.
Disse ainda que já fez centenas de queixas à Câmara de Lisboa sobre as mensagens de ódio e as situações são publicadas nas redes sociais do centro, no Instagram, no Facebook, destacando que até agora nada foi feito.
“Nada é feito e as coisas estão só a piorar”, alertou o responsável.
A Lusa tentou contactar a Câmara de Lisboa para obter esclarecimentos, mas a autarquia não respondeu.
O centro cultural judaico Judiaria de Lisboa, com 600 associados, foi fundado por Luciano Waldman em 2019 com o objetivo de salvaguardar, valorizar e promover o património material e imaterial judaico-português.
O conflito no enclave foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 63 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.
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