Coimbra
CDU fez mais quilómetros em terreno hostil
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Em cada umas das dezenas de ações de campanha eleitoral da CDU, a mesma rotina: um ou dois minutos antes da hora marcada, surge a “carrinha funerária”, como é jocosamente chamada, seguida da berlina prateada.
Dentro da viatura preta de nove lugares, escondido pelos vidros fumados, está o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, 72 anos, naquela que será a sua última volta nacional ao país em propaganda, caso deixe a liderança do partido no Congresso Nacional previsto para o final do ano de 2020. Acompanham-no o seu assistente pessoal, Jaime, atarefado a retocar um discurso, o motorista e um guarda-costas, todos funcionários do PCP.
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A Mercedes Vito Tourer 116 CDI, alugada de propósito para a campanha e cuja mais espaçosa configuração interior com quatro autênticas poltronas atrás permite trabalhar ao computador e até imprimir documentos, é sempre meticulosamente acompanhada pela viatura oficial do PCP, o Toyota Avensis topo de gama onde seguem mais um motorista e dois seguranças, que compõem o grupo restrito, os “homens do presidente”, trajando casacos escuros e óculos de sol.
“Optou-se pela carrinha porque é mais confortável. Dá para esticar as pernas, ‘passar pelas brasas’, às vezes, naqueles percursos mais longos. É mais descansado assim”, disse à Lusa o líder comunista, que declarou, a propósito da ida ao hospital do homólogo socialista, António Costa, com dores musculares, estar bem fisicamente, embora “não fresco como uma alface”, após cerca de 15 anos no topo da hierarquia partidária.
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Até ao final de terça-feira, a viatura de reportagem da Lusa contabilizou 3.900 quilómetros percorridos em 10 dias de campanha oficial. A “carrinha funerária” e o carro oficial do secretário-geral têm ainda mais distância acumulada porque Jerónimo de Sousa prefere ir dormir a casa, em Pirescôxe, Loures, independentemente da extensão da viagem, daí a quantidade de motoristas à disposição para se irem revezando.
“Lá vem a carrinha funerária!”, avisou um dos funcionários do PCP, à porta de uma das várias refeições coletivas promovidas pela CDU. “Veja lá o que escreve, que isto é só a brincar. O secretário-geral está rijo como o aço e isto não é nenhum funeral, é campanha eleitoral”, avisa, bem-humorado.
Noutro local de um evento CDU, foram dois populares a comentar entre gargalhadas: “epá, o homem [Jerónimo de Sousa] já vem de carriola”. Nem os militantes mais fervorosos deixam de comentar a inovação de transporte do líder nesta campanha eleitoral, na margem sul do rio Tejo: “o chefe agora anda de carreta fúnebre, pá, isto é mau agoiro”.
A caravana da CDU, que inclui duas equipas que montam e desmontam palanques e sistema de som e viajam em carrinhas de carga brancas, decoradas com o azul e as palavras de ordem da coligação que integra “Os Verdes”, tem feito uma média de mais de 400 quilómetros diários, deslocando-se, ao contrário de outras campanhas, por territórios onde não tem deputados eleitos: Viana do Castelo, Viseu, Leiria.
Porém, Jerónimo de Sousa, embora transmita um ânimo renovado e até jovial em relação há quatro anos, tem estado mais ausente das ruas, protagonizando uma campanha com presenças cirúrgicas, maioritariamente em espaços interiores, com diversas visitas a instituições e encontros com trabalhadores. O próprio reconheceu estar a ser “uma campanha tranquila, mas em crescendo”.
A primeira “arruada” aconteceu somente quarta-feira, na Baixa da Banheira, e só estão previstas mais uma no Barreiro e a emblemática e concorrida descida do Chiado (Lisboa), ambas hoje, além da sempre animada marcha pela rua de Santa Catarina (Porto), sexta-feira, apenas nos penúltimo e último dias de apelo ao voto.
A mensagem tem sido o pedido de “mais força [em votos e mandatos] à CDU” porque “avançar é preciso [nos direitos e rendimentos” e “andar para trás não”, muito menos “deixar o PS de mãos livres”, ou seja, com uma maioria absoluta.
Jerónimo de Sousa foi gerindo o “limbo” entre o elogio às medidas que executas nos últimos quatro anos, graças aos acordos parlamentares à esquerda, sublinhando sempre a persistência e capacidade de negociação de PCP e “Os Verdes”, e as lamentações de terem sido insuficientes, face às necessidades “dos trabalhadores e do povo”, por culpa do PS, o qual considera manter “políticas de direita”, além da submissão às imposições da União Europeia.
O secretário-geral comunista não se coibiu de alvejar constantemente o primeiro-ministro por agitar “o fantasma da instabilidade governativa” ou “o espantalho” da crise económica internacional para pedir aos portugueses a maioria absoluta “sem falar nela”.
Domingo, “os decisores” [cidadãos eleitores] ditarão a sua sentença. Resta saber se o centro de trabalho comunista Vitória, na lisboeta avenida da Liberdade, onde a CDU vai passar a noite eleitoral, será palco de exéquias ou festa, consoante os resultados. Uma coisa é certa a “carrinha funerária” estará à porta, acompanhada da “flecha prateada”.
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