Portugal

Cardeais eleitores portugueses distinguem-se em várias áreas

Notícias de Coimbra com Lusa | 7 meses atrás em 29-09-2023

 Os quatro cardeais portugueses que poderão eleger o Papa num futuro conclave, e também podem ser eleitos, têm-se destacado em várias áreas, como a história, a teologia ou a cultura.

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“São todos muito diferentes entre si”, começa por dizer à agência Lusa o padre Paulo Terroso, diretor de Comunicação da Arquidiocese de Braga e membro da Comissão de Comunicação do Sínodo, a propósito do consistório de sábado, no qual vai ser criado cardeal Américo Aguiar, futuro bispo da Diocese de Setúbal.

Américo Aguiar juntar-se-á a Manuel Clemente (patriarca emérito de Lisboa), António Marto (bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima) e Tolentino Mendonça (prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação) como cardeais eleitores.

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Segundo Paulo Terroso, Manuel Clemente “é um homem que interpreta a Igreja e a sociedade portuguesa numa perspetiva histórica”.

“É uma personalidade reconhecida pela Igreja em Portugal e pela sociedade portuguesa pelas suas intervenções assertivas, capacidade de diálogo e tolerância”, afirmou o sacerdote, realçando que o agora patriarca emérito é, também, “um homem de oração”.

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Já em António Marto, Paulo Terroso reconheceu “um teólogo ao bom estilo dos padres da Igreja”, capaz de “tornar acessível a todos os conteúdos mais complexos da fé”, além de um “homem humana e espiritualmente muito sensível”.

De Tolentino Mendonça destacou as suas facetas de escritor, poeta e ensaísta, para o descrever como “um homem com um sentido raro para ler ‘os sinais dos tempos’”.

“Talvez, por isso mesmo, consegue, como poucos em Igreja, compreender o mundo contemporâneo e dialogar com ele, iluminando-o com a luz do Evangelho”, adiantou.

Sobre Américo Aguiar, presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, Paulo Terroso apontou-lhe a qualidade de “hábil pragmático”.

“Um ‘fazedor’, com tudo o que isso implica. De verbo fácil e com uma grande capacidade comunicativa”, sustentou o padre Paulo Terroso.

A professora catedrática Teresa Toldy acrescentou que será interessante ver qual a dinâmica que Américo Aguiar “consegue imprimir à Diocese de Setúbal”, que teve uma “figura extraordinariamente marcante”, o bispo Manuel Martins (1927-2017).

“Espero, sinceramente, que o bispo que vai para Setúbal mantenha essa atitude (…), sobretudo a preocupação da justiça e da proximidade com os mais pobres”, declarou Teresa Toldy.

Assinalando a dinâmica que Américo Aguiar imprimiu à JMJ, a docente da Universidade Fernando Pessoa notou que o futuro conselheiro do Papa “parece ser uma pessoa com muita iniciativa e isso para a Diocese de Setúbal é importante”.

Quanto a Tolentino Mendonça, Teresa Toldy observou a “capacidade que tem de interlocução com o mundo, com o mundo intelectual em Portugal que lhe reconhece autoridade derivada não do facto de ser cardeal, mas da qualidade que ele tem nas obras que produz”.

A professora catedrática, que foi aluna de Manuel Clemente, disse, por seu turno, que o patriarca emérito é uma “pessoa extremamente culta” que “veio da área da História”, recordando a sua “vocação tardia” (entrou no seminário aos 24 anos).

Sublinhando que António Marto é “também um incondicional do Papa Francisco e isso é muito importante”, Teresa Toldy alegou, sobre estes dois prelados eméritos, que “a sabedoria das pessoas que são mais idosas é muito importante na Igreja, mas também é importante que essas vozes compreendam, ouçam com muita atenção as vozes daqueles que são mais jovens”.

O padre jesuíta Nuno da Silva Gonçalves, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana, considerou, igualmente, que os cardeais “são pessoas muito diferentes e cada uma está presente, a seu modo, na Igreja portuguesa”, sendo que em Manuel Clemente e António Marto se encontra “o testemunho da experiência pastoral e da profundidade intelectual”.

No caso de Manuel Clemente, “olha para a realidade portuguesa com a sabedoria de um historiador, habituado a olhar para o país na atenção às suas raízes mais profundas”, notou, referindo que, “a essa sabedoria humanística, junta uma grande experiência pastoral como bispo diocesano no Porto e em Lisboa”.

“Penso que a Igreja portuguesa ainda poderá aprender muito da sua sabedoria, da sua proximidade às pessoas e do seu equilíbrio”, declarou Nuno da Silva Gonçalves.

Em António Marto, o sacerdote vê a “profundidade intelectual do teólogo, atento aos sinais dos tempos”, cuja “profundidade académica foi enriquecida pelo trabalho pastoral” nas dioceses de Braga, Viseu e Leiria-Fátima.

“Agora, como emérito, penso que o seu testemunho de abertura e o modo como nos ajuda a olhar para o futuro com confiança e coragem ainda poderão ser muito úteis à Igreja portuguesa”, defendeu.

Quanto aos cardeais Tolentino Mendonça e Américo Aguiar, dos mais jovens do Colégio Cardinalício, o jesuíta assinalou que o primeiro, “académico, poeta e ensaísta reconhecido e premiado”, tem “uma enorme capacidade de estabelecer pontes com realidades afastadas da Igreja, em particular no campo cultural e artístico”.

“Tem, por isso, o mérito de levar o Evangelho a todos, mesmo onde as portas parecem mais fechadas. Essas suas grandes capacidades de diálogo, de delicadeza e de proximidade estão, agora, ao serviço da Igreja universal, como prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação”, sublinhou Nuno da Silva Gonçalves.

Sobre Américo Aguiar, “demonstrou grandes capacidades de organização e de comunicação nas muitas missões que recebeu, quer no Porto, quer em Lisboa”, capacidades que, nos últimos anos, estiveram “bem patentes” na organização da JMJ, a que o Papa presidiu, “e a Igreja muito lhe fica a dever pelas qualidades que demonstrou”.

“Ao criá-lo cardeal, o Papa Francisco reconhece e premeia essas qualidades”, disse o sacerdote, defendendo que a nomeação como bispo de Setúbal “confirma que admira as suas qualidades de ação e de decisão e que o vê como um pastor dedicado e corajoso”.

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