Coimbra

Capitão Ricardo Araújo Gonçalo Pereira

António Alves | 33 minutos atrás em 24-10-2025

O tom irónico de discurso, usado recentemente por Gonçalo Capitão na Assembleia da República, só surpreendeu aqueles que não o conhecem dos tempos de jota laranja e Mancha Negra em Coimbra.

Nascido em 1971 em Coimbra, Gonçalo Capitão foi morar alguns anos na capital portuguesa, tendo regressado no início da vida escolar a Coimbra. tem as suas origens na zona da Solum, mas Os primeiros sinais de humor foram dados nos textos que publicou no jornal humorístico “Fantinha” da Escola Secundária Infanta Dona Maria.

Daqui até integrar uma lista para a Associação de Estudantes foi um “salto”, pertencendo inicialmente a um projeto com elementos ligados à Juventude Centrista. É, nessa altura, que Nuno Freitas consegue convencer o amigo a inscrever-se na Juventude Social-Democrata (JSD), tendo pertencido a uma direção por si presidida na escola pública.

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“Um dos meus grandes orgulhos foi conseguir trazer e partilhar com o Gonçalo Capitão os anos de juventude e gosto pela social-democracia”, disse.

“Zé” Marques Mendes, do “Bar Laranja”, recorda-se do seu dom de oratória mordaz que foi, aos poucos, conquistando um conjunto de simpatizantes nesta estrutura partidária.

Um “amor” político que dividiu com o clube do coração: Académica/OAF. Daí que, para além de ser visto com bastante assiduidade no número 23 da Rua dos Combatentes da Grande Guerra, não perdia a oportunidade de pertencer à claque Mancha Negra.

Rui Mário, presidente da claque nos anos 80, afirmou ao Notícias de Coimbra que nas bancadas era “um adepto normal”, mas sempre que podia “não perdia a oportunidade de mandar uma boca para os adversários no tom irónico que bem o caracteriza, mas sem ser ordinário”.

As boas notas no secundário, fruto de “uma cultura geral acima da média”, permitiram que tivesse entrado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra “onde foi um dos melhores alunos daquele período”.

O “humor fino e mordaz”, à semelhança da avó, nunca passou despercebido, mas ao contrário de outros jovens da sua altura nunca demonstrou “vontade” de ter um papel de destaque na Associação Académica de Coimbra (AAC).

“Preferiu o movimento político, puro e duro, ao invés do movimento associativo”, afirmou ao Notícias de Coimbra o amigo Nuno Freitas.

Também António Silva, presidente da AAC entre 1997 e 1998, se recorda de Gonçalo Capitão. “Um jovem com uma capacidade de dialética humorística que não está ao alcance de todos”, lembrou, frisando que apesar desse distanciamento com a vida associativa nunca perdeu a oportunidade de dar a sua “bicada” relativamente a esses assuntos.

Até porque, durante o período em que se licenciou em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e mais tarde no Mestrado em Teoria e Ciência Política Contemporânea pela Universidade Católica Portuguesa, ocupou lugares de destaque na “jota” laranja.

Primeiro, foi líder da distrital da JSD. Depois, e já na liderança de Pedro Passos Coelho, pertenceu à Comissão Política Nacional da JSD, tendo depois ocupado a cadeira da vice-presidência da “jota” nas lideranças de Pedro Duarte e Jorge Moreira da Silva.

Gonçalo Capitão, Ricardo Cândido e Leonel Serra

Presença habitual nos congressos da “jota”, Gonçalo Capitão era uma das vozes mais aguardadas no palco destas reuniões partidárias. Ricardo Cândido, amigo de mais de três décadas e que conheceu nos tempos da juventude partidária, afirmou que o deputado do PSD é uma “figura marcante da sua geração” e que passou a ser muito “conhecido nos congressos e eventos partidários”.

“Não é uma pessoa incógnita dentro do partido”, frisou, recordando mesmo congressos em que, quando se ouvia o nome de Gonçalo Capitão, “a sala, que estava vazia, enchia rapidamente na ânsia de ouvir o seu discurso”.

Leonel Serra, vice-presidente da sua direção na distrital da JSD, é um dos seus principais amigos. O “dom natural e espontâneo” com que consegue cativar a audiência agradou-lhe, acabando por se tornar um dos seus melhores amigos.

É, nos anos 90 do século passado, que ocorreu a primeira divergência política com Nuno Freitas. Tudo por causa de uma candidatura à JSD Distrital em que os dois apoiaram “candidatos opostos”. “Mas nunca deixamos de ser amigos”, frisou o médico.

Sinal disso mesmo é o facto de, durante muitos anos, terem jogado juntos à bola com outros amigos. Ao contrário do seu jeito para a escrita, Gonçalo Capitão não tinha os mesmo dotes na “redondinha”.

“Apesar dele pensar que tinha algum jeito para a prática futebolística, a sua escolha para guarda-redes era o sinónimo de que devia investir mais nos textos críticos do que jogar à bola”, ironizou.

Nuno Freitas referiu mesmo que o seu amor pela Académica nunca esteve em causa, sendo mesmo um “doente” pelo clube. Os anos em que esteve fora do pais e a forte ligação à família que mora em Coimbra nunca esmoreceram o amor pelo clube mais representativo da cidade.

O seu amor pela Briosa levou Gonçalo Capitão a ser seduzido para cargos diretivos no clube. Entre 2004 e 2008, foi vice-presidente e presidente do Conselho Fiscal, ascendendo em 2008 ao lugar de vice-presidente para o futebol profissional.

O presidente da altura, José Eduardo Simões, recorda Capitão como sendo “um homem inteligente, de um humor finíssimo e com bastante capacidade de trabalho”. Foram essas qualidades que permitiram, nesses dois anos, “obter bons resultados a nível desportivo”.

Da convivência com Gonçalo Capitão, o antigo presidente da Briosa recorda que é uma pessoa “com um pensamento muito direcionado e objetivo”, a que não faltavam os momentos de pura ironia quer nas reuniões de direção, quer nas assembleias gerais.

Rui Mário, da claque Mancha Negra, não se mostrou surpreendido com a entrada de Gonçalo Capitão na direção do clube, dizendo que a sua gestão do futebol foi “normal, dentro do expectável”.

“Apesar de eu ter sido um opositor, desde o primeiro dia, de José Eduardo Simões, as pessoas são livres de tomar as decisões que entenderem como melhores para a sua vida”, frisou, recordando mesmo a forma mordaz como este adepto usava da palavra nas assembleias gerais do clube.

A nível profissional, advogou e deu aulas por períodos curtos de tempo, acabando por cumprir a maior parte da sua vida profissional como quadro técnico em contexto empresarial.

Na política, o atual deputado social-democrata teve a sua primeira experiência na Assembleia da República na sétima legislatura (1995-1999). Se, nesta passagem, foi membro efetivo durante apenas 2 dias pelo círculo eleitoral de Coimbra, o regresso ao hemiciclo aconteceu nas 9.ª e 10.ª legislaturas pelo círculo eleitoral de Lisboa.

No primeiro caso, foi membro efetivo entre o período de 2002 a 2005 numa lista encabeçada por Durão Barroso, enquanto na legislatura seguinte foi suplente e efetivo temporário num período de cinco dias. Nesta lista, o destaque vai para os dois primeiros nomes: Pedro Santana Lopes e Dias Loureiro.

No ano de 2010, Gonçalo Capitão assumiu um novo desafio profissional: Adido Social. Primeiro, foram os Consulados Gerais de Portugal em Joanesburgo (maio de 2010 a março de 2013) e São Paulo (setembro de 2015 a maio de 2017) e, depois, na Embaixada de Portugal em Caracas (março de 2013 a agosto de 2015 e maio de 2017 a fevereiro de 2022).

Neste regresso a Portugal, Gonçalo Capitão voltou à política ativa em 2023, com a nomeação para o cargo de assessor do Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata. Um ano depois, nas eleições legislativas de 10 de março, ocupou o 5.º lugar da lista da coligação AD no círculo eleitoral de Coimbra e, apesar da cabeça de lista – Rita Alarcão Júdice ter ascendido ao lugar de Ministra da Justiça – acabou por não conseguir chegar à Assembleia da República. 

Na presente legislatura, era o 17.º da lista pelo círculo eleitoral do Porto, com a coligação a eleger 15 deputados naquele distrito. Com a escolha para o Governo dos dois primeiros candidatos – Paulo Rangel e Nuno Melo -, Gonçalo Capitão tornou-se membro efetivo da bancada laranja.

Ricardo Cândido disse que o facto de Coimbra ser um círculo eleitoral de pequenas dimensões e atendendo à sua qualidade parlamentar fizeram com que Luís Montenegro e Hugo Soares o tivessem candidatado na cidade Invicta. “E em boa hora o fizeram”, frisou, apesar de que gostava que tivesse integrado novamente o círculo de Coimbra num lugar elegível.

Leonel Serra considera mesmo que, apesar de eleito pelo Porto, este deputado não perdeu “e não perderá” a ligação a Coimbra. “Foram as circunstâncias do momento que levaram a esta situação”, afirmou.

Veja a intervenção na Assembleia da República

Questionados se a intervenção feita na tarde de 15 de outubro os surpreendeu, Ricardo Cândido e Leonel Serra responderam que não. “Só surpreendeu quem não o conhecia”, disse Ricardo Cândido, desconfiando mesmo que este tenha sido “o princípio” de outros momentos de sarcasmo com que irá brindar as bancadas da oposição.

Leonel Serra afirmou que este tipo de escrita é “natural e nada teatral” e que, mesmo em conversas entre amigos, “costuma meter algumas “buchas” deste género”.

Recorde-se que, nessa tarde de 15 de outubro, o social-democrata criticou, em modo stand-up, o resultado autárquico do Partido Chega, levando a que tivesse sido convidado no domingo, 19 de outubro, para o programa “Isto é Gozar com Quem Trabalha”, de Ricardo Araújo Pereira.

Veja a participação no programa “Isto é Gozar com Quem Trabalha”

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