Opinião
Calhandrice!
O Ferodo é uma marca inglesa de pastilhas de travão, palavra que popularmente usamos para descrever o alarmante cheiro a queimado, que por norma, pode vir da prisão do embolo da maxila. Assim, como quem marcha atrás de camião, com travão elétrico acionado em descida inclinada.
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Está o país, como os travões, entretido em exercícios criativos, cena narrada, marrada e marada, como se houvesse um alguém à espera de outro alguém.
Talvez seja isso; nos Açores, com o respeito por todas as profissões, vendedor, rececionista e empregado de mesa é currículo quanto baste para administrador executivo de uma unidade de saúde.
Assim estivemos nós, travados, durante três anos, descoberta agora a estratégia em forma de documento, para devolver a Coimbra o esplendor havido.
Os ecossistemas da inovação, poesia nas decisões políticas sempre é bonito, são território, administração, cultura e capital humano, ensino e investigação e tecido económico. Conhecidas as fragilidades, auscultadas as entidades, teremos eixos estratégicos e atores para colocar em prática a resolução das avarias.
Tanta prosápia para o essencial, um embolo que injete reabilitação urbana, aproveitamento riberinho e conhecimento. É isto que Coimbra precisa, urdindo agora estratégia com três anos de atraso. Portanto, segunda-feira, teremos mais uma inócua perda de tempo, em país e cidade, prenhe de ideias e falha de execução.
No último dia, prestes a fazer a mochila para a escola, ficamos a saber que ainda temos 100 mil alunos a quem faltam professores. Há que chamar os aposentados, para destravar a mola e prosseguir.
O tamanho do tempo que temos só medimos pela vontade de pagar mais para ter menos, como vem da Assembleia da República. Melhorar as condições dos políticos, pede Aguiar Branco, menos incompatibilidades e melhores salários. Ou seja, mantêm—se o par-time e as portas giratórias.
Sabemos como é, canções para o projeto e se não soubermos perguntemos a Miguel Macedo que ele explica como as mandibulas da justiça travam andamento.
Macedo foi inocentado em tribunal, depois de acusado em parangonas, uma guerra permanente, que não há meio de pormos virtude na corporação.
Entretanto vamos ter o procurador-geral mais velho da história da República, licenciado, diz a nomeação presidencial, que terá 76 anos quando chegar ao fim do turno.
Um acordeão de boas notícias, só completado pela intenção maquiavélica de termos um militar em Belém, um incómodo para a minudência de quem tudo prevê, traça cenários e dissolve de seguida.
O país cheira a “ferodo”, esquecemos o que precisamos, gostamos dos jogos da corte e, assim, travamos passo quando precisamos deitar a República no divã e exercer uma fortíssima introspeção.
“Mais vale um que saiba mandar, do que cem a trabalhar”, prega o sábio povo, mas, infelizmente, há quem pense que “mais vale um pé no travão, do que dois no caixão”.
E assim estamos, no marasmo, o tédio de um país que grita, “está tudo na mesma”. Calhandrice, portanto!
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