Economia

Calçado português ‘finca-pé’ em Milão de olhos postos no futuro

Notícias de Coimbra | 12 horas atrás em 08-09-2025

O calçado português volta a marcar presença na mais importante feira do setor em Milão, Itália, de olhos postos no futuro, atento à concorrência e à ‘nuvem’ tarifária que vem dos Estados Unidos.

A feira do calçado MICAM, que este ano cumpre 100 anos, abriu no domingo, com mais de 1.000 marcas em exposição.

Entre as 42 empresas que integram a delegação portuguesa, está a Lemon Jelly, conhecida por produzir calçado com cheiro a limão.

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“A MICAM é muito importante para nós […], é uma feira muito enriquecedora, que nos permite ver as novidades e tendências, mas também arranjar bons contactos, conhecer agentes e distribuidores”, afirmou a ‘marketing manager’ da marca, Margarida Tavares, em declarações à Lusa.

Nesta edição, a Lemon Jelly decidiu apostar no conceito ‘active wear’, com um calçado que se adapta “ao trabalho, a um jogo de paddle ou uma saída à noite”.

Margarida Tavares tem recebido no ‘stand’ da marca, sobretudo, novos distribuidores, mas também repetentes à procura das mais recentes tendências.

A Lemon Jelly tem entre os seus principais mercados os EUA e o Canadá, mas está igualmente focada em Espanha e França.

Apesar de estar presente no mercado norte-americano, a política tarifária não tem sido uma ‘dor de cabeça’ para a marca, pelo menos, de forma direta.

“Sabemos que há algumas questões extra a ter em conta, mas acaba por não nos influenciar diretamente. É o agente [que está naquele mercado] que trata, mas passa por alguns ‘stresses’”, contou, assegurando que os EUA vão continuar a ser um mercado ‘forte’ para a marca, do qual não vão deixar de investir, seguindo o repto deixado pelo Governo no primeiro dia do certame.

A Last Studio, que tem sede em Portugal e na Dinamarca, também tem entre os seus principais clientes os EUA e procurou absorver parte das tarifas para mitigar o impacto.

“Os clientes dos EUA mal souberam [das tarifas] tentaram antecipar, ao máximo, as encomendas. Agora sinto que os mercados estão um bocadinho em pausa, a olhar à volta e a pensar para onde se vão virar”, referiu Luísa Moreira, ‘designer’ da empresa.

Face à importância dos seus clientes, a Last Studio chegou mesmo a encarregar-se de metade da tarifa que é imposta pelos EUA.

Já sobre o preço do calçado português (o segundo mais caro, atrás da Itália), Luísa Moreira explicou que o tempo que leva a fazer cada sapato, a qualidade das peles e a mão-de-obra acabam por ser refletir no valor final que o cliente tem de pagar.

“Às vezes, numa mesma produção, os pares não são todos iguais. Isto é feito de pessoas para pessoas, não de máquinas para pessoas. Todo o serviço de pesquisa, sugestões, de encontrar a melhor fábrica para o artigo e estar em constante ‘feedback’ com o cliente vai refletir-se no preço”, apontou.

Também na cidade da moda, a Take a Walk que diz “arriscar” em cada edição, procurando fazer “à sua maneira”, sem deixar de “beber e dar de beber” à concorrência.

“Já me apercebi de alguns olhares curiosos, provavelmente até de outras marcas que cá estão. Alguns tentam fazer, de forma oculta, vídeos ou fotos e isso também mostra que o que está aqui dentro é interessante”, afirmou à Lusa a presidente executiva da empresa de São Torcato, Salomé Almeida.

A Take a Walk tem como principal mercado, além de Portugal, a Europa, enquanto, até ao momento, os EUA têm sido apenas “uma tentativa”, uma vez que não há abertura deste mercado devido às tarifas.

Comprar fica agora mais caro e as empresas não têm interesse, apontou a empresária, alertando que estas políticas acabam por levar ao surgimento de alguns mercados alternativos.

“Eu quero prestar um serviço de qualidade, desde a criação até à entrega, que seja bem-sucedido em termos de vendas, mas sem qualquer receio. Se vai para os Estados Unidos, é faturado nos EUA. Ponto final”, vincou.

Já o ponto final da MICAM está agendado para esta terça-feira, mas até lá são esperados milhares de visitantes nesta feira que é já uma tradição para o calçado português.

Segundo os dados disponibilizados pela APICCAPS – Associação Portuguesa da Indústria do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos, no primeiro semestre de 2025, as exportações portuguesas de calçado aumentaram 3,7% em valor para 843 milhões de euros.

Entre janeiro e junho, foram exportados 36 milhões de pares, mais 5,4%.

Em 2024, as exportações do ‘cluster’ do calçado atingiram 2.147 milhões de euros.

No ano passado, Portugal produziu 80 milhões de pares de sapatos, sendo que 68 milhões de pares foram exportados, no valor de 1.724 milhões de euros.

O calçado português foi, neste período, comercializado, em mais de 170 países e Belize foi o mais recente destino.

O Plano Estratégico do Cluster do calçado prevê um investimento de 600 milhões de euros até 2030.

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