Coimbra

Bonifrates celebra 40 anos. Cooperativa de Coimbra faz teatro como exercício de cidadania

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 29-01-2020

Bonifrates celebra 40 anos. Cooperativa de Coimbra faz teatro como exercício de cidadania

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A Bonifrates, de Coimbra, completa hoje 40 anos de existência como cooperativa, que, apesar de amadora, assume uma exigência profissional nas suas peças, onde a ideia do teatro como exercício de cidadania está sempre presente.

Fundada em 29 de janeiro de 1980, por 11 membros fundadores, a maioria dos quais com ligações aos grupos de teatro universitário de Coimbra, a Cooperativa Bonifrates veio criar um espaço até então inexistente – as companhias profissionais Escola da Noite e Teatrão foram criadas nos anos 1990 -, assumindo sempre o teatro como “um exercício de cidadania”.

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“Na altura, surgiu a constatação de que não tínhamos lugar no âmbito do teatro universitário, que um ritmo que não era aquele que queríamos e, ao mesmo tempo, não havia em Coimbra nenhuma companhia de teatro profissional. Então, decidimos avançar com a cooperativa para produzir teatro de qualidade com pessoas com alguma experiência”, disse à agência Lusa João Maria André, da direção da cooperativa e um dos membros fundadores.

Ao longo de 40 anos, nunca houve intenção de o grupo se profissionalizar, sendo a direção “sempre constituída por gente que não trabalha profissionalmente no teatro”, contou o também professor da Faculdade de Letras, que vinca que a cooperativa teve sempre como objetivo ser um “espaço para a criação teatral na cidade de Coimbra para pessoas que tinham as suas profissões – professores, médicos, tipógrafos – e que não viviam do teatro”.

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“Queríamos fazer teatro, mas sem que a nossa existência quotidiana dependesse das verbas que fizéssemos”, explicou.

Apesar de alguns “momentos difíceis”, a possibilidade do fim da cooperativa nunca se colocou.

“Há um grande amor ao teatro e à cultura e à arte e um sentimento de família que se tem dentro da cooperativa, de grande camaradagem. Tudo isso mantém-nos em movimento”, salienta João Maria André.

Ao longo de 40 anos, a Bonifrates foi criando um repertório variado que vai de Gil Vicente a Brecht, de autores jovens e consagrados, portugueses e estrangeiros, mas, no meio dessa diversidade, há uma linha condutora: “Fazer teatro como um exercício de cidadania”, frisou.

“Há uma articulação profunda entre estar no teatro e sermos cidadãos e estarmos atentos ao que acontece na cidade e no mundo. Falamos de sem-abrigo, de violência doméstica, da terceira idade, da violência urbana. Há sempre essa preocupação social de tornar visível aos olhos das pessoas as problemáticas mais delicadas que a cidade nos apresenta”, aclarou o membro da direção da cooperativa.

Por outro lado, João Maria André aponta também para uma ideia muito presente na cooperativa de que “a cultura é uma festa, com toda a seriedade que a festa comporta”.

“Isso justifica porque é que continuamos ativos. Não é para nós uma obrigação, não é um fardo. Há um carácter muito lúdico e festivo na maneira como celebramos o teatro e fazemos cultura”, salientou.

Também João Paulo Janicas, que está na cooperativa desde 1985, afirma que a inclusão de problemáticas sociais nos temas abordados ao longo de 40 anos são uma escolha “muito consciente” por parte da Bonifrates.

Apesar de uma “aparente informalidade” da cooperativa, a Bonifrates em nada se parece com a maior parte dos grupos de teatro amadores, mantendo a sua atividade num “cruzamento entre uma exigência profissional e uma certa leveza que lhe é dada por não depender profissionalmente da atividade”, disse João Paulo Janicas, que é professor de filosofia do ensino secundário.

“Não sei se haverá muito mais grupos de teatro deste género no país, porque ou transformaram-se em grupos profissionais ou ficaram dependentes de um contexto muito local”, nota.

Durante este primeiro semestre, a cooperativa espera estrear a peça do brasileiro Plínio Marcos “Querô, uma reportagem maldita”, e uma outra produção, com texto de Tiago Rodrigues e encenação de João Paulo Janicas.

Para a celebração dos 40 anos, estão a ser preparadas outras atividades, cujo programa será “oportunamente divulgado”, refere a companhia.

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