Região

Bombeiros abastecem de água aldeias do distrito de Coimbra todos os dias (com vídeo)

Cátia Vicente | 2 anos atrás em 11-08-2022

Dos 17 concelhos do distrito de Coimbra, nos últimos dois meses, só em Cantanhede e Penacova não foi preciso chamar os bombeiros para abastecer de água as populações, segundo dados da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) enviados ao Notícias de Coimbra. Nalguns casos, chega a faltar água nas torneiras. Ao aumento da população no período de verão junta-se à seca extrema e os bombeiros dividem-se entre os necessários abastecimentos de água e a urgência de apagarem incêndios.

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“Temos três autotanques, e outros veículos com capacidade para transporte de água, o que nos dá uma capacidade para abastecimento imediato de 67 mil litros, e não param todos os dias”, afirma ao NDC Emídio Camacho, comandante dos Bombeiros de Oliveira do Hospital. “É constantemente”, reforça, dizendo que Galizes e Venda da Esperança são os pontos mais críticos. A falta de água, sustenta o responsável, “é diferente este ano, agravou-se”.

Em Oliveira do Hospital vive-se uma das situações mais complexas de todo o distrito. “No atual contexto de seca, o Município de Oliveira do Hospital recorreu às corporações de bombeiros do concelho que diariamente transportam água em cisternas para pontos do concelho mais sensíveis onde não conseguimos chegar”, confirma fonte da autarquia, dando conta que as “captações de água em alguns locais entraram em colapso”. 

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Questionada sobre se a escassez de água se relaciona com o aumento de população no período de verão, sobretudo no mês de agosto, a fonte do município assegura que não, que o problema é mesmo a seca. “Poços e furos não estão a ser capazes de responder às necessidades da população como noutros anos”, sublinha.

Há cerca de uma semana, José Francisco Rolo, autarca de Oliveira do Hospital, apelou ao Governo para lançar medidas de apoios excecionais para os pastores que produzem Queijo Serra da Estrela devido à “seca extrema”. Além disso, o município decretou medidas como a proibição de regas com água da rede e está a fazer sensibilização da população, sobretudo através das juntas de freguesia. “Não há memória de uma situação destas”, refere a mesma fonte, lembrando que “há municípios que já estão a efetuar cortes no abastecimento de água em períodos do dia”, mas que, para já, isso não está previsto para este concelho.

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“Chega a faltar água nas torneiras. Fazemos os possíveis para que não aconteça, mas se há um incêndio temos de cancelar os abastecimentos”, explicou Emídio Camacho que deu a entrevista ao NDC a 10 de agosto, dia em que deflagrou um dos maiores incêndios registados este ano na região. 

Os bombeiros tentam fazer “um equilíbrio” entre as inúmeras solicitações para levarem água aos milhares de pessoas em risco de não terem uma gota nas torneiras e a urgência de apagarem as chamas dos incêndios que têm fustigado a região. 

A maior parte dos abastecimentos ocorrem em aldeias onde habitualmente têm falta de água nesta época, um problema que se agrava e alastra devido à seca. “São locais onde a rede não chega, mais cimeiros. Aqui vamos muito a Galizes, Casal Cimeiro, Aldeia das 10 sempre para a reposição dos reservatórios onde falta água”, explica Emídio Camacho. 

A ANEPC tem registo de 223 abastecimentos de água às populações por parte de corporações do distrito de Coimbra, nos meses de junho e julho (Arganil – 21; Cantanhede – 0; Coimbra – 5; Condeixa-a-Nova – 2; Figueira da Foz – 3; Góis – 3; Lousã – 9; Mira – 3; Miranda do Corvo – 91; Montemor-o-Velho – 1; Oliveira do Hospital – 6; Pampilhosa da Serra – 1; Penacova – 0; Penela – 11; Soure – 5; Tábua – 50 e Vila Nova de Poiares – 15. Contudo, de fora desta contabilidade ficam grande parte dos pedidos, nomeadamente os que são feitos pelos municípios e empresas. 

Em Tábua, concelho vizinho de Oliveira do Hospital, há registo, nos meses de junho e julho de meia centena de abastecimentos. Logo ao lado está Arganil com mais de duas dezenas. Segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários, Nuno Teixeira, estão a ser feitos abastecimentos recorrentes nas localidades de Nogueira, Monte Redondo, Bocados e Cepos.

“No nosso concelho temos localidades muito dispersas, algumas aldeias têm sistemas próprios de abastecimento, sistemas esses que eram geridos pelas comissões de melhoramentos e, pela via legal, passaram para a responsabilidade do município”, refere Luís Paulo Costa, presidente da Câmara Municipal de Arganil.

Esta questão não é nova, sobretudo no Pinhal Interior. “É uma situação relativamente comum, falamos de aldeias isoladas que nesta altura do ano veem a população quadruplicar ou quintuplicar e há um maior consumo”, garante Luís Paulo Costa, não conseguindo fazer uma “ligação direta com o estado atual de seca”, embora não exclua que possa ter influência. O autarca destaca a ação dos Bombeiros de Arganil e de Coja que “tem sido essencial para dar resposta às populações”.

Na aldeia de Barbéns, em Miranda do Corvo, é raro o fim de semana em que não entra um autotanque, quem o diz é Fernando Jorge, comandante dos Bombeiros Voluntários que explica a necessidade com o aumento da população. “Vamos lá todas as semanas e ao fim de semana é quase sempre porque há mais gente e mais consumo”, assegura ao NDC.

Nas últimas semanas, devido à escassez de água de uma mina, na localidade de Cumieira, no concelho de Penela, foram necessários os serviços dos Bombeiros Voluntários (BV) de Penela, BV de Figueiró do Vinhos e BV Vila Nova de Poiares para abastecimento do reservatório de Ferraria de São João, confirma João Miguel Henriques, presidente do Conselho Administração da APIN ( Empresa Intermunicipal de Ambiente do Pinhal Interior), sublinhando que “esta situação já se encontra resolvida”.

No mês de julho, adianta ainda João Miguel Henriques, registaram-se “alguns casos isolados (de resolução imediata) em que a APIN recorreu, designadamente, aos Bombeiros Municipais da Lousã e BV de Serpins para reabastecimento de água de reservatórios, no concelho da Lousã”. Além de que “pontualmente, nos últimos meses, nos concelhos de Góis e Pampilhosa da Serra, foi efetuado abastecimento de reservatórios através de transvase de água, com recurso a corporações de bombeiros locais”.

O responsável alerta que “nesta zona geográfica, caso os caudais das captações próprias, provenientes de minas ou nascentes reduzam, podem ocorrer perturbações no abastecimento de água nas próximas semanas”. Neste momento em todo o território abrangido por esta empresa intermunicipal, apenas no concelho de Alvaiázere se está a recorrer aos bombeiros para abastecimento de água do reservatório das Andinhas.

Contactada, a Águas do Centro Litoral (AdCL) frisa que “não recorreu aos serviços de qualquer corporação de bombeiros para dar resposta ao abastecimento de água das populações quer serve”, confirmando “que não há registo de situações de escassez de água no território abrangido pela empresa”. Contudo, a AdCL, que já tem ativado um plano de contingência para responder a situações mais críticas, acrescenta que “o panorama de seca severa que assola o país é naturalmente motivo de preocupação” e, nesse sentido, “acompanha o fenómeno através de uma monitorização permanentemente da sua rede de abastecimento, em estreita articulação com as entidades parceiras”.

A Águas do Baixo Mondego e Gândara (ABMG) garante ao NDC que “nunca necessitou de recorrer ao serviço dos bombeiros para o efeito apresentado” e destaca que “já desde o início de julho vem manifestando a sua preocupação e assumiu as suas responsabilidades no apelo a um uso contido e racional da água para consumo humano, limitando essa utilização aos fins mais nobres a que a mesma se destina”. A empresa sublinha que tem partilhado esta preocupação com os consumidores nomeadamente através de uma campanha de comunicação nas plataformas digitais e enviada também nas faturas mensais.

“Não temos conhecimento de nenhuma situação em particular nem nos foi solicitada intervenção nesse sentido”, sublinha Raul Almeida, vice-presidente da Comunidade Intermunicipal Região de Coimbra (CIMRC), revelando que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) solicitou uma reunião que deverá ocorrer nos próximos dias para abordar a temática da seca e eventuais medidas a tomar.

Veja o direto NDC com Emídio Camacho, comandante dos Bombeiros de Oliveira do Hospital:

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